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Não faz muito tempo que começamos a buscar compreender melhor a saúde mental das crianças. A indicação do acompanhamento psicológico só passou a ser considerado algo importante, para o cuidado do sofrimento na infância, nas três últimas décadas. Assim como na vida adulta as pessoas passam por acometimentos como a ansiedade, agressividade e depressão, também é possível encontrar sofrimento psíquico nas crianças. Neste texto, vamos tratar um pouco mais sobre a depressão infantil, cuja conscientização tem destaque neste mês, pela campanha Maio Amarelo, da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Segundo dados recentes, de 1 a 2,5% da população infantil em idade escolar apresenta sintomas relacionados ou diagnóstico de depressão infantil, o que acomete meninos e meninas, sem muita diferença (Costello EJ, Egger H & Angold A., 2005; Goldman S, 2012). Também, segundo estes dados, a taxa de depressão tende a aumentar a partir da entrada na adolescência.
A expressão da depressão infantil se dá majoritariamente por comportamentos ditos “internalizantes”, o que quer dizer que a criança agirá de maneira mais retraída e introvertida, o que dificulta o reconhecimento de que há um problema. Se pusermos em comparação com crianças com comportamentos “externalizantes”, como as condutas agressivas, estas terão seu sofrimento muito mais facilmente reconhecido.
Para muitas pessoas, a depressão pode ser sinônimo de tristeza ou da externalização de uma infelicidade. É importante afirmar que somente esses fatores não podem caracterizar um quadro depressivo. É necessário que mais dimensões da vida da criança sejam afetadas e que haja um prejuízo no seu funcionamento biológico, afetivo, de aprendizagem e social.
Para que possamos falar de uma depressão, é importante prestar atenção na presença, frequência e duração dos seguintes sintomas:
Visão negativa de si mesmo, dos outros e do mundo, desesperança, autocrítica elevada, pessimismo, dificuldade de concentração, pensamentos sobre morte, isolamento social, falta de interesse e prazer em atividades rotineiras e comuns da faixa etária, dependência da presença física dos pais, apatia, tristeza, irritabilidade, atitudes desafiadoras, sentimento de culpa, agressividade, raiva, ansiedade, alterações no sono, no apetite e na disposição física, queixas de dores abdominais e cefaleia (Greenberger & Padessky, 1999; Beck, 1999).
Se esses sintomas forem reconhecidos no comportamento da criança com grande frequência, em comparação com crianças saudáveis da mesma faixa etária, e com duração de mais de dois meses, é importante buscar ajuda profissional.
A depressão infantil não é igual à depressão adulta, já que o funcionamento psíquico das crianças é singular a essa faixa do ciclo da vida. Também é mais incomum que as crianças não saibam externalizar esse sofrimento da mesma forma que se espera de uma pessoa adulta. As crianças se expressam principalmente através do brincar. Dessa forma, assim que alguns sinais repetitivos e duradouros de comportamentos deprimidos forem notados, é importante prestar atenção no brincar da criança. É por meio deste e da interação com os demais, que a criança pode expressar com maior intensidade se ela não está bem.
É importante que a gente leve em consideração que a depressão infantil pode ter fases que se intercalam com um aparente bem estar. Dessa forma, é sempre positivo, mesmo quando a criança não tenha problemas graves, a participação dos familiares nas brincadeiras, na leitura de livros, e no ensinamento da nomeação dos sentimentos e emoções.
O contato próximo, positivo, sem julgamento e acolhedor dos responsáveis é um fator de grande importância para o desenvolvimento saudável e para o bem estar da criança. Dessa forma, a criança sentirá confiança em expressar o que sente, sem medo de reprimendas, e poderá aprender como comunicar que não está bem, e a desenvolver autoconhecimento sobre si mesma. E isso vale não só para a depressão!
Nos casos em que esse sofrimento for mais intenso e estiver causando prejuízos escolares, familiares, na disposição e afeto da criança, é sempre indicado procurar ajuda profissional. Caso o cuidado necessário não seja ofertado à criança no momento em que o sofrimento é percebido, existe a possibilidade que ele perdure durante seu desenvolvimento.
Assim, a depressão infantil pode se estender à adolescência, aprofundando problemas na aprendizagem, autoestima, relação com os outros, e dificuldade de se expor a situações que possam lhe trazer benefícios, como fazer amigos e aprender coisas novas.
Profissionais de saúde mental qualificados, como psicólogos e psiquiatras infantis, estão preparados para reconhecer e propor formas de tratamento, e serão os melhores parceiros para acompanhar e ajudar a criança e sua família a atravessar esse período de sofrimento.
Neste mês de maio, que tal compartilhar informações confiáveis sobre o tema com as pessoas ao seu redor, e contribuir para que mais pessoas saibam reconhecer e se conscientizar sobre a depressão infantil?
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