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Nos últimos dias o furacão Greta parece estar sacudindo o Mundo. A jovem de 16 anos com suas ideias de salvar o planeta mobilizou jovens por toda a parte da Terra e está causando uma verdadeira polêmica sobre o assunto. Não bastasse isso, a menina tem Síndrome de Asperger. Vamos falar um pouco sobre isso.
É bem comum ouvir falar na Síndrome de Ásperger: alguns lugares falam como se ela fosse um transtorno separado do Autismo, enquanto outros a relacionam ao Transtorno do Espectro Autista. Mas afinal, qual é a diferença dos dois?
O Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-4) é a referência para médicos do mundo todo desde 1994. Na classificação de diagnósticos de transtornos mentais, o autismo e a Síndrome de Asperger eram classificados como distúrbios diferentes. Ambos faziam parte da categoria de Transtornos Gerais do Desenvolvimento, que incluía ainda o Transtorno Desintegrativo da Infância e o Transtorno Geral do Desenvolvimento.
As principais diferenças entre autismo e Síndrome de Asperger eram a intensidade do atraso que afetaria o indivíduo. Enquanto na definição do Autismo a fala tinha um provável início tardio, na Síndrome de Asperger era descrita como normal. Entretanto, pacientes com os dois transtornos apresentariam dificuldade de se relacionar e de entender situações abstratas, como figuras de linguagem ou gestos. Por exemplo, ao escutar a frase “meu namorado é um gatinho”, tanto a pessoa com autismo quanto a com Asperger imaginaria que o companheiro é um animal (gato). Como a Síndrome de Asperger apresenta sintomas mais leves, o diagnóstico costumava ser mais tardio que do autismo. Geralmente, começava-se a notar que a criança não interagia do modo esperado apenas na fase escolar. Neste mesmo momento, também ficavam mais claros os interesses restritos que são comuns entre pessoas com Asperger.
Em 2013, foi publicada a quinta edição do manual (DSM-5), que apresentou uma nova classificação dos Transtornos do Desenvolvimento. A versão atual criou a denominação Transtorno do Espectro Autista (TEA), que enquadra a Síndrome de Asperger e o autismo em um mesmo diagnóstico. Dessa forma, o que antes se conhecia como duas desordens separadas passou a pertencer à mesma condição, que abrange um grande espectro de sintomas. São dois os critérios para diagnóstico do TEA: déficit na reciprocidade socioemocional (seja na comunicação não verbal ou na interação social) e presença de comportamentos restritos ou repetitivos. A diferença entre os transtornos é o grau dentro do espectro autista, já que é possível ter pessoas com TEA com apenas pequenas dificuldades de socialização até indivíduos com afastamento social, deficiência intelectual e dependência de cuidados ao longo da vida.
Greta é sueca, e a Suécia tem um método educacional que favorece a autonomia e a inclusão, e sua história com o autismo se inicia com o temor em relação ao meio ambiente. Este foi um dos fatores, em um período depressivo, no qual deixou de ir à escola por um tempo quando tinha 8 anos. Aos 11 anos, depois de assistir a um vídeo sobre poluição plástica nos mares, ela passou a se preocupar de forma crescente com a degradação ambiental e o aquecimento global. A preocupação se reverteu em ansiedade e numa forte depressão. Foi, então, diagnosticada com síndrome de Asperger, transtorno obsessivo-compulsivo e mutismo seletivo. Ela diz que essa condição é chave em seu modo de agir e interpretar o mundo.
No caso de Greta, o papel da educação sueca fica ainda mais claro. Aos 11 anos, graças a um princípio de acomodação das diferenças pelo sistema educacional sueco, a menina foi encaminhada para uma escola especial, que permitia que ela fizesse “greves” às sextas-feiras para protestar contra a crise climática com um cartaz de papelão em frente ao Parlamento Sueco — o que terminou por lhe render notoriedade mundial.
Greta é um exemplo de inclusão de pessoa com condição de transtorno do espectro autista, no caso Asperger, que depois de bem diagnosticado, bem acolhida pela família, escola, sistema de saúde e sociedade, teve condições de lidar com sua ansiedade e colocar suas angústias e comportamento obsessivo-compulsivo em algo produtivo e capaz de mobilizar milhões de jovens e de pessoas no mundo todo em torno de uma causa.
Além de uma heroína da sustentabilidade, eu vejo Greta Thunberg como um exemplo de inclusão e de superação da causa do autismo. Parabéns, Greta, por sua determinação em tudo o que você faz.