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Neste dia 11 de fevereiro, é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi criada pela ONU e UNESCO em 2015, no contexto do lançamento da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. No seu sexto ano de celebração, o mundo vive uma pandemia que tem desafiado diversos setores da economia, em especial a área médica e de pesquisas laboratoriais e clínicas.
Temos que comemorar o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde e o avanço da tecnologia para a telemedicina. Essas são vitórias da ciência moderna que tiveram a importante participação de mulheres. Para marcar essa data, convidamos a médica, Dra. Fatima Rodrigues Fernandes, Diretora Executiva do Instituto PENSI – Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil e a advogada Aline Gonçalves de Souza, Sócia de SBSA Advogados para responder algumas perguntas.
1) Neste dia das Mulheres e Meninas na Ciência, quais são os destaques na área de pesquisa e ensino?
Dra. Fátima – O Instituto PENSI realizou o Projeto de Triagem Neonatal em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP) e do Ministério da Saúde, por meio da lei de incentivo PRONAS/PCD. O estudo teve como objetivo detectar por meio do Teste do Pezinho síndromes genéticas associadas a deficiências da imunidade. Neste estudo pudemos rastrear este problema em 25.000 recém-nascidos e agora aguardamos a implantação deste teste como uma política pública.
No campo da educação, em 2020 realizamos o 5º Congresso Internacional Sabará de Saúde Infantil, em formato totalmente online, alcançando 1.700 profissionais da área da saúde. Na ocasião, convidamos as pesquisadoras Ester Sabino e Jaqueline Góes, que realizaram o sequenciamento do genoma do novo coronavírus, apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Brasil. Essas palestras resultaram em disseminação de conhecimento para todos os participantes do Congresso e reforçaram a importância das mulheres na ciência.
2) Como se dá a participação de mulheres no campo da pesquisa em saúde infantil?
Dra. Fátima – A pediatria em geral, tende a ser uma área com maior predominância de mulheres e, desta forma, também é frequente encontrarmos muitas pesquisadoras e acadêmicas de destaque neste segmento da pesquisa.
O Instituto PENSI, que desenvolve pesquisas e projetos de educação e ensino em saúde infantil, conta com a participação de várias mulheres em cargos gerenciais.
3) Em outros setores, ainda existe a disparidade?
Aline – Infelizmente, existe um grande gap entre a presença de homens e mulheres, especialmente nas áreas STEM, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Uma importante fonte é o relatório The researcher journey through a gender lens (2020) da Elsevier que analisa a participação na pesquisa científica na União Europeia e em mais 15 países, incluindo o Brasil. Em nosso país, apenas 28% das pesquisadoras são mulheres para ciências físicas e 20% estão na área de ciência da computação. Além desta grande disparidade, há ainda a diferença entre salários e de hierarquia de cargos. O relatório Women in Business 2020 aponta que menos de 30% dos cargos globais de liderança são ocupados por mulheres, por exemplo.
4) Com relação às desigualdades de gênero na ciência, há algo que o governo esteja fazendo para reduzir as desigualdades?
Aline – O Governo Federal editou recentemente a Política Nacional de Inovação, por meio do Decreto Federal n. 10.534/2020. Dentre as suas diretrizes, está o eixo de ampliação da qualificação profissional com estímulo ao interesse nas áreas de ciências exatas e agrárias, de saúde, de tecnologia e de engenharia desde o ensino básico “especialmente entre os grupos sub-representados nas áreas, com foco na equidade de gêneros”. Sua finalidade é garantir a inovação no ambiente produtivo e social para enfrentar os desafios do desenvolvimento do País. Estamos monitorando e na expectativa do plano que está sendo construído pelo Governo Federal que deve ser apresentado em meados de abril de 2021, quando vence o prazo de 180 dias dado pelo Decreto.
5) O papel para redução das desigualdades de gênero muitas vezes também está na pauta de empresas e organizações da sociedade civil. Como esse tema é estruturado?
Aline – Sim, diversas são as formas que a iniciativa privada pode contribuir para lidar com o tema da desigualdade de gênero. Algumas tendências estão sendo vistas nas práticas ESG (sigla em inglês que significa Governança Ambiental, Social e Corporativa) de diversas empresas e no legado de décadas do terceiro setor. No âmbito interno, é comum ver processos seletivos com fomento para candidaturas de grupos subrepresentados, quota para assentos em Conselhos serem ocupados por mulheres, políticas de licença maternidade e paternidade mais adequadas, prazos e dinâmicas diferenciadas quando as crianças ainda são pequenas, além de campanhas de combate ao assédio e à violência, bem como de treinamentos para que mais mulheres assumam altos cargos de gestão. Do ponto de vista da contribuição externa de empresas, organizações da sociedade civil e ICTs, podemos apontar a adesão a campanhas de comunicação que contribuam para a redução de desigualdades, o patrocínio e apoio para cursos e ações de formação para mulheres, considerando as necessidades estruturantes de apoio que necessitam para dedicar à vida profissional.
6) Que recado gostaria de deixar para as mulheres e meninas na ciência neste dia?
Dra. Fátima – É muito importante, frente às adversidades, apoiarmos as iniciativas de pesquisa e ensino vindas de mulheres para contribuir com a ciência e o conhecimento, particularmente na pediatria e áreas afins. Seguindo nosso propósito institucional “Infância saudável para uma sociedade melhor”, esperamos que meninas e meninos cresçam com saúde e consigam encontrar um ambiente de estudo que estimule suas habilidades. Neste sentido, desejamos que mais mulheres se motivem tendo a certeza de que é possível direcionar sua energia e carreira para superar os desafios sociais em nosso país, buscando a valorização e reconhecimento no ambiente de trabalho.
Dra. Fátima Rodrigues Fernandes, Médica Imunologista e Diretora Executiva do Instituto PENSI.
Dra Aline Gonçalves de Souza – Doutoranda em Administração Pública e Governo, EAESP, FGV. Especialista LL.M. em Direito Societário, Insper. Sócia em SBSA Advogados para Inovação, Negócios de Impacto e ESG.