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As crianças são curiosas e com certeza adoram colocar as coisas na boca! Explorar a sensação e o sabor dos objetos faz parte de como eles aprendem sobre o mundo ao seu redor. A curiosidade incessante das crianças é o que traz todas as grandes (e às vezes tolas) questões à tona, estimula a criatividade, mas também pode levar a problemas.
Como médico de emergência, sinto que já vi de tudo. De um marshmallow preso nas vias respiratórias de uma criança, a uma intoxicação por chumbo após engolir um pequeno brinquedo, para mantê-lo longe de seu irmão mais novo. Às vezes, essas emergências chegam perto de casa.
“Nossa linda e feliz filha Maria morreu de overdose de medicamento aos nove meses e 15 dias de idade. Ninguém em nossa casa tomava aquela medicação. Na casa da nossa vizinha, onde ela encontrou a pílula que a matou, ninguém (até onde sabemos) também. No entanto, durante as férias, um parente que tomava uma medicação controlada visitou a casa dos vizinhos. Poucos dias depois, em um jantar, Maria mostrou sua nova habilidade de engatinhar para espectadores encantados.
Sem o nosso conhecimento, o familiar perdeu um comprimido na cozinha e não o recuperou. A pílula encontrou a mão de Maria e a mão dela encontrou sua boca. Seis adultos, três deles médicos, estavam na festa e Maria estava supervisionada o tempo todo. Saímos da festa perto da hora de dormir. Ela parecia com sono, então dissemos que a amávamos e a colocamos na cama. Horas depois ela estava morta”.
Esta história dramática é verdadeira, aconteceu nos Estados Unidos, e está aqui para mostrar o perigo que é manter remédios em casa sem estar armazenado de forma segura. Sabemos que cerca de 50 mil crianças americanas visitam o Departamento de Emergência todos os anos porque engoliram algo potencialmente perigoso. A maioria dessas crianças, ainda bem, vai para casa sem ter sofrido nenhum dano grave.
A notícia assustadora é que cerca de 9 mil crianças precisam ser hospitalizadas e algumas, como Maria, morrem por envenenamento. No Brasil, temos poucos dados, mas o temos a idade mais prevalente entre as vítimas de intoxicações exógenas acidentais: UM ano, com 26,1% dos casos. E a idade com menos representatividade foi a de menores de um ano, com 4,5% dos casos. Os atendimentos a crianças de zero a quatro anos representaram 72,6% dos casos. No Sabará Hospital Infantil este também é um atendimento comum, as vezes necessitando de internação e com quadros graves de UTI e até diálise.
Os remédios salvam vidas, mas também podem ser perigosos – especialmente para bebês, crianças e adolescentes. A melhor maneira de proteger as crianças de envenenamento não intencional é guardar os medicamentos com segurança.
Use estas 10 dicas para evitar que as crianças encontrem medicamentos em casa:
Quando praticava pediatria e os pais começavam a contar estas histórias, sempre começavam assim: “foi um segundo de distração” ou “eu nunca imaginei que meu filho seria capaz de subir lá” ou frases deste tipo. Estas histórias acontecem com muito mais frequência que você possa imaginar, portanto previna-se utilizando estas orientações.
Saiba mais:
Fontes:
Elizabeth Murray, DO, American Academy of Pediatrics (Copyright © 2020)
INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES ATENDIDOS EM UM SERVIÇO DE TOXICOLOGIA DE REFERÊNCIA DE UM HOSPITAL DE EMERGÊNCIA BRASILEIRO
Luciana Vilaça, Fernando Madalena Volpea, Roberto Marini Ladeira.