PESQUISAR

Sobre o Centro de Pesquisa
Sobre o Centro de Pesquisa
Residência Médica
Residência Médica
Acolher para ensinar: como cuidar do professor transforma a vida escolar
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp
Acolher para ensinar: como cuidar do professor transforma a vida escolar

Acolher para ensinar: como cuidar do professor transforma a vida escolar

15/08/2025
  7   
  0
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp

No programa Mente em Equilíbrio, Rodrigo e Gabriele Sinott — ele psiquiatra, ela pediatra — mostram que empoderar educadores em saúde mental reduz bullying e fortalece vínculos — experiência reconhecida pelo 5º Prêmio Pensi

A rotina de professores nas escolas públicas no município de São Paulo costuma ser marcada por desafios frequentes: turmas superlotadas, conflitos entre alunos e pouca orientação para lidar com questões emocionais. Em meio a essas tensões cotidianas, o psiquiatra Rodrigo Sinott Camargo e sua esposa, a pediatra Gabriela de Oliveira Sinott, propõem um caminho diferente: Mente em Equilíbrio, projeto de capacitação voltado a professores do ensino fundamental, que uniu conhecimentos de saúde mental, abordagens práticas de psicologia e técnicas de comunicação não violenta.

Em oito encontros, realizados ao longo de 2024, o grupo desenvolveu atividades direcionadas a reconhecer sinais de violência, bullying, sofrimento psíquico e abuso, além de aprimorar a gestão de conflitos. Os resultados mudaram a forma como os professores enxergam seus alunos e impulsionaram um debate maior sobre a responsabilidade da escola no acolhimento emocional. O projeto de Sinott recebeu o 5º Prêmio Pensi de Pesquisa em Saúde Infantil, na categoria Profissionais.

O ponto de partida se deu ainda em 2022, quando Sinott, então envolvido no projeto Ambiente de Paz na Unifesp, foi convidado a apresentar resultados em um Fórum de Políticas Públicas da Fundação José Luiz Setúbal. O encerramento desse projeto anterior e a boa recepção da pesquisa levaram o psiquiatra a desenhar algo novo, dessa vez com foco exclusivo na formação de professores. “A escola é o lugar onde tudo acontece, mas não há treino prático de como responder a uma crise ou acolher um aluno em sofrimento”, explica.

O Instituto Pensi atuou como parceiro institucional, contribuindo com mais essa importante iniciativa de saúde infantil. Segundo Sinott, o objetivo era traduzir a teoria em estratégias reais de sala de aula, valorizando a experiência dos educadores e oferecendo recursos práticos para lidar com os conflitos cotidianos.

Metodologia e desenvolvimento

A formatação do Mente em Equilíbrio seguiu alguns princípios-chave:

  • Periodicidade mensal: cada encontro durava cerca de duas horas e focava em um tema específico (como bullying, relacionamentos tóxicos ou inteligência emocional).
  • Dinâmicas vivenciais: além das exposições conceituais, os professores eram convidados a participar de simulações que reproduziam conflitos reais do ambiente escolar. “A ideia era tornar tudo aplicável; não ficar só na teoria”, diz Sinott.
  • Ferramentas de avaliação: foram aplicados questionários tipo Likert antes e depois do ciclo de capacitações, de modo a quantificar mudanças em aspectos como identificação de maus-tratos, manejo de bullying e percepção de pensamentos funcionais.

Nos encontros, o envolvimento dos educadores foi progressivo. “No início, alguns vinham por curiosidade ou por solicitação da direção; depois passaram a trazer dúvidas e a trocar experiências. Eles se reconheciam nos relatos dos colegas”, conta o pesquisador. Essa troca de vivências tornou-se um elemento central do programa.

Rodrigo e Gabriele Sinott: Iniciativa Mente em equilíbrio capacitou professores paulistanos a identificar sinais de sofrimento e agir com estratégias práticas de prevenção.

Principais achados

A pesquisa avaliou 25 professores e apontou resultados significativos:

  1. Maior capacidade de detecção de violência: muitos educadores não associavam mudanças bruscas de comportamento à possibilidade de abuso ou maus-tratos. Após as capacitações, houve melhora expressiva nesse aspecto.
  2. Redução de conflitos: a introdução de técnicas de comunicação não violenta ajudou a mediar discussões em sala e no próprio corpo docente. Professores relataram que passaram a se sentir “mais adultos” diante de situações de provocação ou desrespeito.
  3. Conscientização sobre cyberbullying: o tema surgiu com força, revelando a urgência de abordar a influência das redes sociais e seus riscos para a saúde mental. “A internet ampliou as possibilidades de ataque, e o professor não sabe por onde começar”, diz Sinott.
  4. Melhora do clima escolar: relatos de maior empatia e acolhimento transformaram a rotina dos professores e o contato com os alunos. Esse ganho qualitativo foi percebido mesmo com as adversidades estruturais, como turmas numerosas.

Para Sinott, o diferencial foi a ênfase na prática: “Eles já têm noções sobre depressão ou autismo, mas não sabiam como agir. Precisamos mostrar o caminho, ou ao menos oferecer ferramentas para lidar com a crise”.

Rigor e impacto

O projeto também enfrentou barreiras. Uma delas foi a postura de alguns gestores das escolas. “Se o diretor está engajado, tudo flui. Se há resistência ou falta de organização, os encontros são prejudicados”, afirma o pesquisador. Outro desafio é a sobrecarga dos professores, que muitas vezes conciliam múltiplas turmas e tarefas administrativas, reduzindo a disponibilidade para se aprofundar em novas metodologias.

Ainda assim, a proposta ganhou tração. Em paralelo, o psiquiatra liderou encontros específicos para adolescentes, discutindo saúde mental e prevenção de conflitos. Com planos de expansão para 2026, o objetivo é produzir um protocolo replicável que possa ser adotado por diferentes instituições de ensino, inclusive fora de São Paulo. “Queremos algo com rigor científico e impacto mensurável, para que gestores públicos possam investir sem medo de desperdiçar recursos.”

Sinott acredita que as soluções educacionais na área de saúde mental dependem de políticas públicas estáveis, livres da volatilidade das trocas de governo. “Há muitas ações pontuais, mas precisamos de programas perenes. Esse foi um dos pontos que me motivaram a inscrever o projeto no Prêmio Pensi, pois vejo essa premiação como uma forma de ampliar discussões e influenciar na elaboração de políticas mais amplas.”

Cuidar de quem ensina

Ao ser agraciado na categoria Profissionais do 5º Prêmio Pensi de Pesquisa em Saúde Infantil, Rodrigo Sinott comemorou principalmente a oportunidade de dar maior visibilidade ao trabalho. “O piloto foi pequeno, mas atendeu perfeitamente ao que o prêmio valoriza: impacto social, relevância prática e potencial de replicação”, diz o pesquisador.

Para ele, o ponto-chave é lembrar que acolher o professor é o primeiro passo para acolher o aluno. “Quando cuidamos de quem ensina, criamos um ambiente fértil para o aprendizado e para a prevenção de problemas mais graves, como bullying, depressão e até ideação suicida.”

O próximo passo é ampliar o escopo do Mente em Equilíbrio, envolvendo diretores, coordenadores pedagógicos e, quem sabe, escolas de outras regiões. “Se cada lugar tiver um núcleo ativo de capacitação, teremos impacto real na vida de muitas crianças”, planeja.

Registro de uma das rodas de conversa com educadores paulistanos: recursos práticos para lidar com os conflitos cotidianos.

Descobertas que renovam a escola
Mente em Equilíbrio: insights e números-chave do estudo desenvolvido pelos médicos Gabriele e Rodrigo Sinott
Dados de avaliação aplicados em 25 professores da rede pública de São Paulo
  1. Queda de 40% nas ocorrências graves de conflitos escolares relatada pelos próprios educadores.
  2. Três vezes mais chance de prevenção de cyberbullying, segundo os questionários pós-capacitação.
  3. 95% dos professores declararam se sentir mais seguros para acolher um aluno em sofrimento.

Camargo, Rodrigo Sinott; Sinott, Gabriele de Oliveira; Martins, Lindsay Gomes; “MENTE EM EQUILÍBRIO: SAÚDE MENTAL NAS ESCOLAS. ANÁLISE DE UMA INTERVENÇÃO EM ESCOLA DA REDE PÚBLICA DE SÃO PAULO”, p. 132-147 . In: Anais do 7º Congresso Internacional Sabará-Pensi de Saúde Infantil. São Paulo: Blucher, 2024.

ISSN 2357-7282, DOI 10.5151/sabara2024-3013

Por Rede Galápagos

Leia mais

O conteúdo integral das pesquisas selecionadas pode ser acessado neste link: 7º Congresso Internacional Sabará-Pensi de Saúde Infantil – Blucher Medical Proceedings

E-book >> Acesse a edição digital com os destaques do 7º Congresso Internacional Sabará-Pensi de Saúde Infantil

Proteção na UTI neonatal ajuda cérebro de prematuros

Percepção e seletividade alimentar: o que os pais veem não é o que as crianças comem

Chiado no peito e nó na garganta

Podcast reforça resiliência moral na enfermagem pediátrica

Entre tutores e pacientes: onde começa a voz da criança na terapia?

Estratégias de acolhimento fortalecem humanização e saúde mental

Reconhecimento científico, olhar integral e novas perspectivas na saúde de crianças e adolescentes

Comunicação PENSI

Comunicação PENSI

deixe uma mensagem O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

posts relacionados

INICIATIVAS DA FUNDAÇÃO JOSÉ LUIZ EGYDIO SETÚBAL
fundação José Luiz Setúbal
Sabará Hospital Infantil
Pensi Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil
Infinis

    Cadastre-se na nossa newsletter

    Cadastre-se abaixo para receber nossas comunicações. Você pode se descadastrar a qualquer momento.

    Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade de Instituto PENSI.