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No programa Mente em Equilíbrio, Rodrigo e Gabriele Sinott — ele psiquiatra, ela pediatra — mostram que empoderar educadores em saúde mental reduz bullying e fortalece vínculos — experiência reconhecida pelo 5º Prêmio Pensi
A rotina de professores nas escolas públicas no município de São Paulo costuma ser marcada por desafios frequentes: turmas superlotadas, conflitos entre alunos e pouca orientação para lidar com questões emocionais. Em meio a essas tensões cotidianas, o psiquiatra Rodrigo Sinott Camargo e sua esposa, a pediatra Gabriela de Oliveira Sinott, propõem um caminho diferente: Mente em Equilíbrio, projeto de capacitação voltado a professores do ensino fundamental, que uniu conhecimentos de saúde mental, abordagens práticas de psicologia e técnicas de comunicação não violenta.
Em oito encontros, realizados ao longo de 2024, o grupo desenvolveu atividades direcionadas a reconhecer sinais de violência, bullying, sofrimento psíquico e abuso, além de aprimorar a gestão de conflitos. Os resultados mudaram a forma como os professores enxergam seus alunos e impulsionaram um debate maior sobre a responsabilidade da escola no acolhimento emocional. O projeto de Sinott recebeu o 5º Prêmio Pensi de Pesquisa em Saúde Infantil, na categoria Profissionais.
O ponto de partida se deu ainda em 2022, quando Sinott, então envolvido no projeto Ambiente de Paz na Unifesp, foi convidado a apresentar resultados em um Fórum de Políticas Públicas da Fundação José Luiz Setúbal. O encerramento desse projeto anterior e a boa recepção da pesquisa levaram o psiquiatra a desenhar algo novo, dessa vez com foco exclusivo na formação de professores. “A escola é o lugar onde tudo acontece, mas não há treino prático de como responder a uma crise ou acolher um aluno em sofrimento”, explica.
O Instituto Pensi atuou como parceiro institucional, contribuindo com mais essa importante iniciativa de saúde infantil. Segundo Sinott, o objetivo era traduzir a teoria em estratégias reais de sala de aula, valorizando a experiência dos educadores e oferecendo recursos práticos para lidar com os conflitos cotidianos.
A formatação do Mente em Equilíbrio seguiu alguns princípios-chave:
Nos encontros, o envolvimento dos educadores foi progressivo. “No início, alguns vinham por curiosidade ou por solicitação da direção; depois passaram a trazer dúvidas e a trocar experiências. Eles se reconheciam nos relatos dos colegas”, conta o pesquisador. Essa troca de vivências tornou-se um elemento central do programa.
Rodrigo e Gabriele Sinott: Iniciativa Mente em equilíbrio capacitou professores paulistanos a identificar sinais de sofrimento e agir com estratégias práticas de prevenção.
A pesquisa avaliou 25 professores e apontou resultados significativos:
Para Sinott, o diferencial foi a ênfase na prática: “Eles já têm noções sobre depressão ou autismo, mas não sabiam como agir. Precisamos mostrar o caminho, ou ao menos oferecer ferramentas para lidar com a crise”.
O projeto também enfrentou barreiras. Uma delas foi a postura de alguns gestores das escolas. “Se o diretor está engajado, tudo flui. Se há resistência ou falta de organização, os encontros são prejudicados”, afirma o pesquisador. Outro desafio é a sobrecarga dos professores, que muitas vezes conciliam múltiplas turmas e tarefas administrativas, reduzindo a disponibilidade para se aprofundar em novas metodologias.
Ainda assim, a proposta ganhou tração. Em paralelo, o psiquiatra liderou encontros específicos para adolescentes, discutindo saúde mental e prevenção de conflitos. Com planos de expansão para 2026, o objetivo é produzir um protocolo replicável que possa ser adotado por diferentes instituições de ensino, inclusive fora de São Paulo. “Queremos algo com rigor científico e impacto mensurável, para que gestores públicos possam investir sem medo de desperdiçar recursos.”
Sinott acredita que as soluções educacionais na área de saúde mental dependem de políticas públicas estáveis, livres da volatilidade das trocas de governo. “Há muitas ações pontuais, mas precisamos de programas perenes. Esse foi um dos pontos que me motivaram a inscrever o projeto no Prêmio Pensi, pois vejo essa premiação como uma forma de ampliar discussões e influenciar na elaboração de políticas mais amplas.”
Ao ser agraciado na categoria Profissionais do 5º Prêmio Pensi de Pesquisa em Saúde Infantil, Rodrigo Sinott comemorou principalmente a oportunidade de dar maior visibilidade ao trabalho. “O piloto foi pequeno, mas atendeu perfeitamente ao que o prêmio valoriza: impacto social, relevância prática e potencial de replicação”, diz o pesquisador.
Para ele, o ponto-chave é lembrar que acolher o professor é o primeiro passo para acolher o aluno. “Quando cuidamos de quem ensina, criamos um ambiente fértil para o aprendizado e para a prevenção de problemas mais graves, como bullying, depressão e até ideação suicida.”
O próximo passo é ampliar o escopo do Mente em Equilíbrio, envolvendo diretores, coordenadores pedagógicos e, quem sabe, escolas de outras regiões. “Se cada lugar tiver um núcleo ativo de capacitação, teremos impacto real na vida de muitas crianças”, planeja.
Registro de uma das rodas de conversa com educadores paulistanos: recursos práticos para lidar com os conflitos cotidianos.
Descobertas que renovam a escola |
Mente em Equilíbrio: insights e números-chave do estudo desenvolvido pelos médicos Gabriele e Rodrigo Sinott |
Dados de avaliação aplicados em 25 professores da rede pública de São Paulo |
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Camargo, Rodrigo Sinott; Sinott, Gabriele de Oliveira; Martins, Lindsay Gomes; “MENTE EM EQUILÍBRIO: SAÚDE MENTAL NAS ESCOLAS. ANÁLISE DE UMA INTERVENÇÃO EM ESCOLA DA REDE PÚBLICA DE SÃO PAULO”, p. 132-147 . In: Anais do 7º Congresso Internacional Sabará-Pensi de Saúde Infantil. São Paulo: Blucher, 2024.
ISSN 2357-7282, DOI 10.5151/sabara2024-3013
Por Rede Galápagos
O conteúdo integral das pesquisas selecionadas pode ser acessado neste link: 7º Congresso Internacional Sabará-Pensi de Saúde Infantil – Blucher Medical Proceedings
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