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Adolescente pode usar remédio para emagrecer?
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Adolescente pode usar remédio para emagrecer?

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19/09/2025
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Felizmente, cada vez mais pessoas, incluindo os profissionais de saúde, compreendem que desenvolver obesidade não é uma escolha. Na verdade, trata-se de uma doença, com forte componente genético e relevante interferência do ambiente. Indivíduos geneticamente predispostos apresentam grande chance de se tornarem obesos ao longo da vida. Muitas vezes se alimentam e fazem atividade física de maneira semelhante a pessoas magras, entretanto ganham peso com muita facilidade. Paralelamente, a obesidade aumenta o risco de diversas comorbidades, especialmente as doenças cardiovasculares. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde e várias outras sociedades científicas entendem a obesidade como uma doença crônica. Esse raciocínio naturalmente nos conduz para algumas comparações que podem ser relevantes para que possamos compreender aspectos relativos ao seu tratamento. Se tomarmos outras doenças crônicas como exemplo, seguramente vamos concordar que um paciente hipertenso irá se beneficiar de mudanças de seu estilo de vida, tais como redução do consumo de sódio, melhor qualidade de sono, redução do estresse etc. Entretanto, é altamente provável que, em algum momento, em geral precocemente, vá precisar de suporte farmacológico a fim de controlar a pressão e prevenir suas consequências. De igual forma, uma pessoa com dislipidemia terá benefícios ao reduzir o consumo de lipídeos saturados e trans, mas possivelmente usará em paralelo uma estatina. Um paciente diabético seguramente será orientado a reduzir o consumo de alimentos de elevado índice glicêmico, mas é quase certo que também receberá tratamento farmacológico.

O uso do remédio para emagrecer

Por tudo isso, atualmente, a farmacoterapia deve ser vista como uma das estratégias para o tratamento da obesidade, implementada em paralelo a outras condutas, especialmente aquelas ligadas à alimentação, à atividade física e ao perfil de sono.

Do ponto de vista regulatório, no Brasil apenas dois fármacos estão aprovados para o tratamento da obesidade na adolescência: a liraglutida e a semaglutida, ambas aprovadas para pacientes com 12 anos de idade ou mais e índice de massa corporal (IMC) acima de +2 escores-z (o que equivale ao IMC de 30 kg/m2 no adulto). É claro que existem circunstâncias em que outros medicamentos podem ser usados, em idades inclusive menores, mas são fármacos que não estão propriamente aprovados para o tratamento da obesidade, mas sim de outras doenças que podem levar ao ganho de peso excessivo. Um exemplo seriam medicamentos serotoninérgicos que poderiam, eventualmente, ser usados para o tratamento de uma compulsão alimentar.

Tanto a liraglutida quanto a semaglutida são agonistas do GLP1. A diferença entre eles é que o primeiro é usado diariamente e o segundo semanalmente. O GLP1 é uma incretina naturalmente produzida quando ocorre a alimentação e que circula por menos de 5 minutos. Tem vários efeitos, mas os mais marcantes são o estímulo à produção de insulina pelo pâncreas e, no cérebro, a redução da fome e o aumento da saciedade. Dessa forma, auxiliam na redução da ingesta alimentar. No caso dos agonistas sintéticos, os efeitos são os mesmos que os do GLP1 naturalmente produzido, entretanto pequenas modificações na molécula fazem com que ele tenha tempo de ação mais prolongado.

A forma de uso é injetável, com aplicação subcutânea feita através de um dispositivo próprio, geralmente chamado de “caneta”, fornecido pela empresa farmacêutica que comercializa o produto. Por isso, são muitas vezes chamados de “canetas emagrecedoras”. Para ambos os fármacos, começa-se com uma dose baixa, progredida até que se chegue à dose terapêutica que, no caso da Liraglutida, é de 3 mg e, no caso da Semaglutida, 2,4 mg.

Os efeitos adversos mais comuns estão ligados ao trato digestório. A maioria dos pacientes apresenta enjoos e náuseas (e às vezes vômitos) que costumam surgir nos primeiros 3 dias de uso e sempre que a dose é aumentada. Esses efeitos em geral são leves e não comprometem o tratamento.

Retomando a pergunta levantada no título desse texto, sim, adolescentes podem receber farmacoterapia para apoio ao tratamento da obesidade. O ideal é que as medicações sejam usadas paralelamente a outras medidas, como o planejamento alimentar, a atividade física e a melhora do perfil de sono. Por se tratar de doença crônica, não é possível definir um tempo de tratamento. Eu costumo dizer que é provável que ele seja “para sempre, mas não sempre”. Ou seja, quando o adolescente atingir o peso ideal, pode-se suspender o medicamento, mas é bastante provável que ele precise ser retomado em outros momentos da vida.

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Prof. Dr. Carlos A. Nogueira de Almeida

Prof. Dr. Carlos A. Nogueira de Almeida

Médico formado pela FMRP-USP; Especialista em Pediatria pelo HC-FMRP-USP e pela SBP; Mestre e Doutor em Saúde da Criança pela USP; Pós-Doutor em Clínica Médica, Área de Nutrologia, pela USP; Professor Adjunto III da Universidade Federal de São Carlos; Prof. Orientador do Programa de Clínica Médica, Área de Nutrologia, da FMRP-USP; Diretor do Departamento de Nutrologia Pediátrica da ABRAN; Vice-Presidente do Dep. de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

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