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Saiu no início de junho o Atlas da Violência 2018. Má notícia para nossos jovens. Ele mostra um aumento de homicídios em jovens entre 15 e 29 anos em praticamente todo o Brasil e com predomínios de jovens negros. Outra triste e aterradora notícia é o aumento de estupros de mulheres sendo que 68% são menores de 17 anos e pasmem, mais de 50% possuem menos de 13 anos.
Estamos muito mal na foto.
Em 11 anos, o Brasil enterrou 325 mil jovens assassinados, ou quase sete vezes o número de soldados americanos mortos em ação em 20 anos da Guerra do Vietnã (1955-1975) segundo o jornal “Folha de SP”. Só em 2016, 33.590 jovens foram assassinados, sendo 95%% eram do sexo masculino. Esse número é 7,5% maior em relação a 2015.
Houve aumento na quantidade de jovens assassinados, em 2016, em vinte Estados, com destaque para Acre (+84,8%) e em apenas sete verificou-se redução, com destaque para Paraíba, Espírito Santo, Ceará e São Paulo, onde houve diminuição entre 13,5% e 15,6%.
Considerando a década 2006-2016, o país sofreu aumento de 23% nesses segundo dados que constam do Atlas da Violência 2018, publicação do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Consideradas apenas as mortes de jovens do sexo masculino, que representam 94% dos casos, a taxa média nacional sobe de 65,5 para 122,6 por 100 mil.
Um estudo recente nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife que encontrou uma forte correlação entre oferta de escola de qualidade e de emprego e violência. Onde havia escola e emprego para o jovem, a violência era menor. Onde não existem essas oportunidades, a violência cresce. O Brasil tem hoje 11 milhões de jovens chamados nem-nem (nem estudam nem trabalham). O desemprego na faixa dos 15 aos 29 anos é, em média, de 33%, mas é maior em vários estados. E essa falta de perspectiva econômica e de acesso a direitos faz com que a gente jogue fora o potencial produtivo dos jovens.
A desigualdade racial também está mostrada no perfil dos homicídios onde de 2006 a 2016, o número de negros alvos de homicídio aumentou 23%, enquanto o de não-negros caiu 7%. Em 2016, a taxa de homicídio de pretos e pardos (40/100 mil) era duas vezes e meia maior que a de não negros (16/100 mil). Já a taxa de mortes violentas intencionais de mulheres negras era 71% mais alta que a de não-negras.
Pela primeira vez, o Atlas da Violência fez um estudo detalhado da violência sexual contra a mulher e aponta que, em cinco anos, o número de registros de estupro no sistema de saúde dobrou e que quase 51% dos casos ocorridos em 2016 tinham como vítimas meninas com menos de 13 anos de idade. Enquanto em 30% desses casos, o agressor é amigo ou conhecido da criança, em outros 30% o agressor é um familiar próximo, como pai, padrasto, irmão ou mãe. E, quando o agressor é alguém conhecido, a violência sexual ocorre dentro da própria casa da vítima em 78% dos casos.
“Em 2016, foram registrados nas polícias brasileiras 49.497 casos de estupro, conforme informações disponibilizadas no 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (tabela 6.5). Nesse mesmo ano, no Sistema Único de Saúde foram registrados 22.918 incidentes dessa natureza, o que representa aproximadamente a metade dos casos notificados à polícia. Certamente, as duas bases de informações possuem uma grande subnotificação e não dão conta da dimensão do problema, tendo em vista o tabu engendrado pela ideologia patriarcal, que faz com que as vítimas, em sua grande maioria, não reportem a qualquer autoridade o crime sofrido. Para colocar a questão sob uma perspectiva internacional, nos Estados Unidos, apenas 15% do total dos estupros são reportados à polícia. Caso a nossa taxa de subnotificação fosse igual à americana, ou, mais crível, girasse em torno de 90%, estaríamos falando de uma prevalência de estupro no Brasil entre 300 mil a 500 mil a cada ano.”
São dados aterradores e chocantes, e parece que nós estamos dessensibilizados em relação a isso. Nossas autoridades não parecem estar preocupadas, nossa sociedade só se mobiliza quando morre alguém famoso como a Mariele Franco ou quando um bebê morre por bala perdida.
Precisamos pensar bem em que país queremos viver e escolher bem nossos candidatos aos cargos executivos e legislativos nas eleições deste ano. Como uma Fundação que trabalha com saúde infantil, estes dados nos assustam muito e pretendemos trabalhar com a violência contra a criança e ao adolescente na cidade de São Paulo em particular e no Brasil de maneira geral.
Saiba mais sobre este assunto:
Autor: Dr. José Luiz Setúbal
Fontes:
As informações contidas neste site não devem ser usadas como um substituto para o cuidado médico e orientação de seu pediatra. Pode haver variações no tratamento que o pediatra pode recomendar com base em fatos e circunstâncias individuais.