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Você está fantasiado de quê?
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Você está fantasiado de quê?

Você está fantasiado de quê?

30/01/2019
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Uma das perguntas de que mais gosto de fazer no hospital é essa: Você está fantasiado de quê?!


E (quase) sempre todos se prontificam a respondê-la com um sorriso no rosto: auxiliar de limpeza, médica, trabalhadora, acompanhante, recepcionista, visitante, paciente, mãe, coletora de exames e por aí vai. Complemento minha indagação com profunda admiração e digo que todas essas são fantasias incríveis para usar num próximo carnaval.

Quando se reúnem algumas pessoas com a mesma fantasia, como alguns membros da equipe de enfermagem, ou de fisioterapeutas – uma de minhas fantasias preferidas, cor de goiaba, então, temos um possível bloco de carnaval.

E quando me devolvem a questão, não compreendo, porque ali no hospital uso um simples vestido de ex-princesa, uma roupa cotidiana, sou mais uma adolescente em meio à tantas outras por aí.

Quem me dera ser coletora de exames por um dia, carregar aquela caixinha térmica, vestir um uniforme branco com detalhes, ser levada muito a sério! Ou ainda, bombeira! Acreditam que um dia encontrei um bombeiro nas escadas e perguntei a ele qual sua fantasia e ele me respondeu:

– Não estou fantasiado, estou trabalhando, sou bombeiro!

Eu, prontamente, retruquei:

– Claro, claro! Compreendo, perfeitamente. Eu tampouco estou fantasiada, estou trabalhando, sou ex-princesa estagiária aqui no hospital.

Sua confusão me divertiu. Será que depois de alguns segundos ele sorriu também? Será que quando trocou seu uniforme de bombeiro pela roupa de homem que volta para casa, compreendeu que trocara de fantasia e que assim seguiria pelos dias: trocando de roupas para trocar de maneiras de existir no mundo?

Fantasia é a capacidade de criar pela imaginação, a fantasia substantiva pode ser a obra criada pela nossa imaginação, quanto mais exercitamos essa faculdade mais oportunidades temos de nos transformar, de habitar diferentes formas de habitar este planeta.

Agora mesmo, estou fantasiada de escritora, muito compenetrada, apertando teclas do computador e me divertindo com a comicidade que pode haver nisso: uma adulta apertando botões que formam palavras na expectativa de que outras pessoas possam ler as frases que se formam aqui.

Eu costumo pensar que nós atrizes que colocamos nosso figurino tão delicadamente idealizado e manualmente confeccionado para visitar as crianças e adultos do hospital temos muita sorte de poder viver ainda mais fantasias que o dia a dia já nos propõe nos ambientes de trabalho, em casa, nos momentos de lazer. Imaginar ser outra pessoa, mais nova, mais velha, mais esperta, mais desastrada é libertador. Poder rir de nós mesmos é um alívio.

Esses dias uma menina madura de 10 anos de idade quis saber a idade da atriz que dizia ser uma adolescente de 16 anos. Tenho 33 anos, completo 34 ainda este ano! Ela, com os olhos vidrados de surpresa, me encarou. Como pode alguém com 33 anos estar vestida assim, se comportar assim? – deve ter pensado. Eu com a idade dela acreditava que eu seria uma adulta muito, muito séria com 33.

Sou, às vezes.

A maior parte do tempo, não!

Ainda bem.

Créditos da foto: Felipe Ludovico

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