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Dispositivo permite exame físico remoto para facilitar diagnóstico pediátrico utilizando a teleinterconsulta e pode significar ampliação do atendimento pediátrico de qualidade: 698 pacientes participaram da pesquisa
Um mesmo atendimento com a avaliação de mais de um médico. Essa foi a experiência dos pacientes que aceitaram participar da nova pesquisa sobre a utilidade e validade do TytoCare, dispositivo móvel médico que permite realizar exames físicos por meio de uma teleconsulta. A ferramenta conta com uma câmera de alta resolução, um microfone, uma tela LCD touch screen e uma unidade de comunicação sem fio. Também possui partes encaixáveis, como um otolaringoscópio, capaz de fotografar e enviar imagens do canal auditivo e da garganta; um termômetro infravermelho digital; e um estetoscópio digital. Com isso, é possível avaliar estruturas do ouvido; constatar infecção na garganta; auscultar pulmões, coração e abdômen; ter imagens de lesões na pele; e aferir a frequência cardíaca e a temperatura. Dessa forma, um médico à distância poderia fazer um exame físico e também auxiliar aquele que faz o atendimento presencial.
Os estudos do uso da tecnologia no Brasil começaram em 2020 em uma parceria entre o Instituto PENSI, o Sabará Hospital Infantil e o Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). Recentemente, foi concluída a etapa do projeto que buscava verificar se um exame físico realizado de forma remota e um realizado presencialmente chegavam a resultados comparáveis.
Para o compartilhamento das descobertas com o restante da comunidade científica, os resultados foram submetidos à publicação no JAMA, periódico médico editado pela American Medical Association. “Significa a última etapa de um projeto que teve muito trabalho por trás”, celebra Fernanda Lima, gerente de pesquisa do Instituto PENSI.
A pesquisa e suas descobertas
A equipe do Centro de Pesquisa do Instituto PENSI e a do Sabará Hospital Infantil conduziram as investigações. “Queríamos mostrar a possibilidade de um médico experiente auxiliar à distância um menos experiente [ou que não seja especialista]”, explica o dr. Rogério Carballo Afonso, gerente médico de novos negócios e telemedicina do Sabará Hospital Infantil. “Essa troca é muito rica tanto no que diz respeito ao intercâmbio de informações como para o diagnóstico do paciente”, complementa Fernanda.
Participaram 698 pacientes do Sabará Hospital Infantil que foram classificados com um baixo grau de urgência e com risco mais baixo de piora. Eles tinham de 0 a 18 anos incompletos e o consentimento do responsável legal. “Tanto as famílias como as crianças tiveram muito gosto em participar. Apresentamos que era um projeto de inovação e tivemos uma aceitação muito grande”, conta Fernanda.
Depois de ter aceitado participar, a pessoa passou por uma primeira consulta com um residente de pediatria que utilizou o TytoCare para realizar o exame físico completo. Em seguida, um segundo médico, que estava à distância, recebia os resultados. Juntos, em um formato de teleinterconsulta, eles chegavam a um diagnóstico.
O paciente passou por uma segunda consulta com um terceiro médico, que fazia novamente o exame físico — desta vez, de forma tradicional. Ao final, ele emitia um diagnóstico à família da criança ou adolescente atendido. A conclusão desse profissional prevalecia, e era encerrada a participação do paciente. “Não houve nenhum prejuízo a quem participou, já que a pessoa também passava pelo exame habitual”, confirma o dr. Rogério.
Os dois relatórios elaborados a partir de um exame presencial e outro com o TytoCare foram comparados pelos pesquisadores para verificar os dados obtidos em ambas as coletas. O resultado comprovou a eficácia do TytoCare, já que ambos os exames eram semelhantes.
Benefícios para a pediatria
“Em um país com dimensões continentais e com uma distribuição desigual de profissionais, sabemos que muitas cidades do país não têm especialistas pediátricos. Com um exame físico de qualidade, um especialista pode apoiar um pediatra generalista. O uso dessa tecnologia potencializa a capacidade de atendimento, levando um especialista até a criança”, afirma o dr. Rogério.
Os bons resultados são uma resposta positiva às possibilidades da telemedicina. A expectativa é garantir o atendimento de qualidade em qualquer lugar. “A inovação veio para ficar. Os dispositivos médicos vieram para complementar e fortalecer os diagnósticos, para contribuir para a qualidade médica”, afirma Fernanda.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido, com desafios como a necessidade de uma equipe médica dedicada a esse tipo de atendimento, o custo do equipamento e as exigências de infraestrutura, mas, sem dúvida, o futuro é promissor.
Por Rede Galápagos
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Fotos: Divulgação