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Uma doença conhecida no Brasil desde o início do século XX, mas que só chamou a atenção da opinião pública nos anos 1950, quando epidemias atingiram algumas das principais cidades do país. Somente a partir de 1980 a poliomielite (paralisia infantil), com as intervenções e iniciativas internacionais de controle e vacinação em massa, conseguiu ser dominada. O último caso registrado no Brasil foi em 1989.
Agora, 30 anos depois, segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o Brasil e mais oito países da América Latina têm alto risco de volta da poliomielite. Pelo menos 500 mil crianças no país não foram vacinadas contra a doença. De acordo com a OPAS, que é o braço da Organização Mundial de Saúde (OMS) na América Latina, as baixas taxas de vacinação nesses países são um perigo para todo o continente. A região não registra um único caso da doença desde 1994.
O Brasil, que já teve uma cobertura de 95% da população imunizada com a vacina da pólio, atualmente registra uma das taxas mais baixas de sua história, com somente 67%. De acordo com o esquema proposto pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), as crianças devem tomar a vacina injetável (de vírus inativado), aos dois, quatro e seis meses de idade. Após, tomam duas doses do imunizante oral (de vírus vivo atenuado), aos 15 meses de idade e aos quatro anos. De acordo com as estatísticas oficiais, 67% das crianças tomaram as três doses da vacina injetável. A cobertura da vacina oral é ainda mais baixa: 53%, quando o ideal é que as crianças tomassem o esquema completo.
Como sabemos, nesses últimos anos, o descaso com a vacinação tem sido muito grande por parte dos nossos governantes e, em nota, o Ministério da Saúde informou que “monitora atentamente as coberturas vacinais e tem trabalhado para intensificar as estratégias necessárias para reverter o cenário de baixas coberturas”. A pasta disse ainda que recomenda aos Estados e municípios que realizem a busca ativa para imunização e reforça a importância da manutenção das ações de vacinação de rotina.
O Ministério afirmou também que a divulgação de informações sobre a segurança e a efetividade das vacinas como medida de saúde pública fazem parte de ações realizadas durante todo o ano. Apesar disso, as taxas de imunização caem ano a ano desde 2015 e com a pandemia despencaram. A verdade é que a cobertura vinha caindo não só no Brasil, mas no mundo todo. Em 2019, a OMS apontou as baixas coberturas vacinais como um dos dez principais problemas de saúde pública do mundo.
Recentemente, tivemos um caso de pólio em Israel, que é um país tradicionalmente de altas coberturas vacinais. A importação da pólio existe e, no Brasil, por conta dessas baixas coberturas vacinais, já somos considerados um país de alto risco para reinfecção, segundo a classificação da OPAS. Além do Brasil, estão nesta classificação alguns países próximos como Equador, Venezuela, Guatemala, República Dominicana e Suriname, além de outros dois países onde o risco é considerado altíssimo: Haiti e Bolívia, de onde recebemos muitos imigrantes.
Veja que estamos cercados de países com risco de reinfecção, sendo que a pólio foi considerada eliminada em toda a América Latina em 1994. Enquanto houver países com pólio, temos que continuar vacinando as crianças justamente para evitar a entrada desse vírus selvagem no país, sobretudo com o alto número de suscetíveis.
Para melhorar as taxas de vacinação, segundo o nosso II Fórum de Políticas Públicas (FPP), aqui estão algumas medidas:
Para a Fundação José Luiz Egydio Setúbal, a imunização ou vacinação é uma das três prioridades escolhidas para a década de 2020/30. Além dos FPPs, onde produzimos materiais (que você pode ver no link abaixo), fazemos discussões com especialistas e fomentamos projetos juntamente com parceiros. No caso da vacinação, temos uma parceria com o Unicef em um projeto piloto de busca ativa de crianças para vacinar em quatro municípios da Amazônia legal e do Semiárido. A vacinação também faz parte do Objetivo de Sustentabilidade (ODS) 3 das Nações Unidas, relativo à saúde e bem-estar.
Esperamos que os nossos governantes se conscientizem do problema e não meçam esforços para recuperar as taxas que tínhamos a não muito tempo atrás. Gostamos de lembrar que a prevenção da saúde é sempre mais barata e eficaz que as outras opções.
Saiba mais: