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A construção da memória na infância
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A construção da memória na infância

A construção da memória na infância

08/09/2025
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Estamos todos tomados pelos temas trazidos pelo Felca às redes sociais. Somos convocados a pensar sobre os elementos aos quais as crianças estão expostas e como cuidamos das nossas crianças e jovens, ainda mais em tempos de superexposição na rede.

A problemática da exposição a conteúdos inadequados à idade  me lembra uma pergunta tão importante feita por uma colega: como é que as crianças poderiam lembrar de algo, se elas não entendem do que se trata esse fato?

A pergunta estava relacionada ao cigarro: como uma criança poderia ter a memória de ver seu pai fumando, se ela não sabe o que é um cigarro?

Essa questão é muito importante e talvez não tão óbvia para pessoas que não estão familiarizadas com os processos que ocorrem no psiquismo.

Respondi a essa querida amiga que sim, crianças constroem memória, mesmo diante de situações da vida sobre as quais ainda não têm competência para compreender racionalmente.

É assim, muitas vezes, que vemos operar o traumático.

Vejamos: situações traumáticas na infância, como abusos sexuais, muitas vezes não são relatadas pela criança ao adulto responsável, pois ela não consegue falar sobre aquilo que não compreende. No entanto, esse evento deixará marcas fundamentais que serão revisitadas ao longo de toda a vida.

Explico: uma criança que sofre abuso sexual de um adulto quando ainda é pequena e não consegue interpretar adequadamente a cena, irá se questionar sobre o ocorrido, sem conseguir falar sobre ele. Mas, na adolescência, quando se tem contato com a sexualidade, sua experiência traumática será imediatamente revisitada e, então, ressignificada.

A experiência humana opera em dois tempos: o primeiro é o do vivido e o segundo o da ressignificação.

Então, cara amiga, sim — seu filho, quando crescer, saberá que o cheiro que ele sentiu enquanto pequeno era de cigarro, mas talvez só descubra isso quando for ele mesmo exposto a um.

As marcas de memória não pertencem apenas ao campo da racionalidade, mas também aos aspectos mais intrínsecos da sensorialidade, das marcas do corpo e dos sentidos.

As memórias são sensório-motoras e estão postas e dadas, não importando a idade.

Infelizmente, vivências de abuso na infância deixam marcas, não apenas pelo horror vivido na experiência em si, mas também pela forma confusa e difícil com que a criança poderá ou não compreender e elaborar o vivido, dando-lhe ou não significado.

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Gabriela Malzyner

Gabriela Malzyner

É psicóloga, psicanalista e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Coordenadora e docente do Núcleo de Infância e Adolescência do CEP e consultora do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI.

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