PESQUISAR
Raramente os adolescentes vão ao pediatra, e mais raramente ainda têm um hebiatra ou um médico especializado na medicina do adolescente. Sempre gostei de atender adolescentes em minha vida profissional, mas nunca tirei o título de hebiatra, embora tenha feito muito cursos para atendimento desta faixa etária. Para atendê-los é necessário uma série de precauções e medidas e muitas vezes os pais não gostam, por exemplo uma parte da consulta pode ser somente com o jovem, sem a presença do pai ou da mãe. E, é claro, o sigilo será garantido. Geralmente o questionamento da saúde sexual faz parte da anamnese do adolescente, assim como o exame físico de genitais, sempre com a presença de algum adulto.
Neste trabalho apresentado na Conferência Nacional da Academia Americana de Pediatria os pesquisadores chegaram à conclusão que os pediatras não questionam a saúde sexual dos seus pacientes analisando dados sobre 826 adolescentes, com idades entre 14 e 17 anos, da Pesquisa Nacional de Saúde e Comportamento Sexual de 2018 – uma pesquisa online representativa nacionalmente. Os adolescentes que consultaram um profissional de saúde no ano passado foram questionados se haviam discutido seis tópicos de saúde sexual e reprodutiva.
Os resultados desta pesquisa mostraram:
As discussões de cada tópico ocorreram na mesma proporção para homens e mulheres, mas houve diferenças com base na identidade sexual, idade e raça. Aproximadamente 7% dos adolescentes que se identificaram como minoria sexual foram questionados sobre sua identidade sexual, em comparação aos 14% dos adolescentes heterossexuais. Os dados também mostraram que adolescentes mais velhos eram mais propensos a serem questionados sobre serem sexualmente ativos e prevenir a gravidez e DSTs do que os adolescentes mais jovens. Os adolescentes de minorias raciais e étnicas foram significativamente mais propensos a serem questionados sobre quase todos os tópicos de saúde sexual e reprodutiva do que os adolescentes brancos.
Os autores observaram que a taxa de discussões ficou muito abaixo das metas federais da HealthyPeople 2020 para prevenção de gravidez e triagem de DST/ HIV. Eles sugeriram a implementação de intervenções no nível da prática para padronizar a triagem de saúde sexual e reprodutiva em todos os encontros com adolescentes para prevenir resultados adversos como DSTs e gravidez indesejada.
Como esses resultados são facilmente evitáveis, mas podem contribuir para a fertilidade ao longo da vida e os desafios econômicos e de saúde física se não forem controlados, é imperativo que os adolescentes tenham acesso contínuo a cuidados de saúde sexual e reprodutiva.
No Brasil, com altas taxas de gravidez na adolescência e com alta incidência de DST o questionamento da saúde sexual e reprodutiva deveria ser uma boa prática, bem como a orientação de métodos contraceptivos e de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, e também, é claro, da vacina contra HPV.
Saiba mais:
Fonte: 2020 American Academy of Pediatrics National Conference