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Mesmo aquelas que não comemoram o Natal e continuam sua rotina nesse período, tendem a avaliar suas vidas até então, repensar seu cotidiano, às vezes idealizam um ano novo com hábitos mais saudáveis, com menos trabalho, mais convívio com pessoas amadas.
Muitos viajam para fora de suas cidades e, apesar de o trânsito continuar intenso – especialmente por conta das compras de presentes e pela ansiedade característica ao dias que antecedem o Reveillon -, as ruas começam a ficar vazias, o sol se põe a noite e uma atmosfera diferente pousa sobre nós na vida no hospital.
O verão aqui no Brasil sempre chega com uma impressão de alegria constante, com promessas de diversão e confraternização. É então que o dia a dia dentro dos hospitais pode ser mais difícil.
Estar internado é extremamente solitário. Poucos acompanhantes são permitidos nesse processo, as visitas são restritas e durante as férias escolares, escassas. Por mais cuidado e atenção que os profissionais da saúde tenham com pacientes, essa não é uma relação desejada.
Enfim, estar no hospital não é um objetivo, em geral, e a frustração quando isso acontece nesse intervalo de tempo em que faz calor, em que muita gente está nas praias desfrutando alguns dias de descanso, é grande. Essa é uma fase em que há um cansaço maior entre pais e acompanhantes, há silêncio.
A presença de artistas em hospitais nesse período pode mudar a perspectiva acerca dessa experiência, talvez por pouco tempo, ainda assim, pesquisas em diversos países revelam que em situações inesperadas de doença e luto encontra-se prazer e alívio em singelos momentos compartilhados, em detalhes de convívio que favoreçam momentos de pequenas epifanias, de poesia ordinária: uma bolha de sabão, uma visita surpresa de um super herói e uma princesa, uma guerra de travesseiros, uma conversa, uma música tocada em uma caixinha pequena, uma praia imaginária, um apoio para passar por aquela experiência, relembrar que muita gente também está ali no hospital internada, acompanhando, visitando, trabalhando…
O tempo é uma criação humana, a natureza é atemporal. Gosto de pensar que o mar, as árvores estiveram ali e estão, elas não contam dias, meses, não viram o ano, existem, simplesmente, faça chuva, frio ou calor. Gosto de pensar assim e isso acalma meu coração um pouco quando entro nessa dinâmica frenética do tempo do relógio.
E é essa perspectiva que tento levar a vida no hospital ao longo do ano e principalmente entre dezembro e janeiro: estamos aqui, o que faremos juntos disso? Podemos não fazer nada também, contanto que seja juntos, pode ser um encontro breve, há encontro em conversas longas, também há em olhares fortuitos. Estamos juntos no presente encontro.
Créditos da imagem: Luis Mazzoni
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