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Da casa de barro aos laboratórios do mundo
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11/04/2022
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A improvável e bem-sucedida trajetória do imunologista Gustavo Cabral, de menino pobre do interior a consultor científico do PENSI

 

Quem trabalha com ciência vive no universo das probabilidades. É possível, por exemplo, calcular a assertividade de uma vacina, a eficiência de um medicamento ou a possibilidade de um bebê desenvolver uma doença rara, entre infinitas coisas. Para cada pesquisa há uma pergunta. Vamos a uma analogia com a trajetória do imunologista Gustavo Cabral, assessor científico do PENSI, com uma pergunta que só é possível hoje, olhando em retrospecto: qual seria a chance de um garoto que experimentou a pobreza extrema no interior da Bahia, trabalhou na roça e fez o terceiro ano do ensino médio por três vezes virar, aos 40 anos, um cientista respeitado, com Ph.D. na USP e três pós-doutorados em Oxford? “Nem nos meus melhores sonhos”, diz ele, com o sotaque carregado de quem nasceu em Creguenhem, em Tucano, povoado com menos de 3 mil habitantes.

Terceiro de quatro irmãos, Gustavo divide a sua vida em duas etapas: antes e depois dos 19 anos. Até essa idade ele frequentava a escola, mas não estudava, já que começou a trabalhar desde muito cedo, aos 7 anos, na roça. Um pouco mais velho, acordava às três da manhã para vender manga, coco e geladinho na feira. Aos 15 anos, saiu de casa e foi trabalhar em um açougue em Euclides da Cunha, cidade vizinha. “Eu observava que todos que tinham estudo conseguiam uma vida melhor. Resolvi investir nisso.” Com as economias que tinha e a ajuda dos pais, cursou aos 21 anos em uma escola particular o terceiro ano do ensino médio, com alunos muito mais jovens que ele. “Depois disso passei no vestibular para ciências biológicas, na Uneb, em Senhor do Bonfim, já que não tinha condições de estudar em Salvador.”

Acima, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), na primeira aproximação com a ciência, e abaixo, em Oxford, onde fez três pós-doutorados: experiências intensas. Fotos: Arquivo pessoal

Na iniciação científica, encontrou a possibilidade de ganhar um salário. “Até então, sinceramente, eu não tinha noção de quão importante era a ciência”, diz. Daí para a frente, tudo foi muito rápido e intenso — e não tão menos sofrido sob o ponto de vista do esforço. Gustavo mergulhou na pesquisa nos últimos vinte anos, estudando, se desafiando e ensinando. Fez mestrado na Federal da Bahia, doutorado na USP, três pós-doutorados em Oxford e trabalhou em Berna, na Suíça. Conheceu o PENSI por intermédio do irmão caçula, William Cabral de Miranda, que, vejam só o poder do DNA, é pesquisador e consultor do instituto na área de geoprocessamento e análise espacial. Hoje, Gustavo lidera o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus no Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).

Trabalha com um grupo de sete pessoas: duas estudantes de mestrado, quatro de doutorado e um estudante de pós-doutorado. Parte da pesquisa é feita no ICB e parte no PENSI. “A formulação das vacinas fazemos praticamente toda no laboratório do PENSI e os testes com os animais, no biotério da USP. Isso é uma coisa muito bacana: utilizamos o melhor que cada estrutura nos proporciona”, conta Gustavo.

Explorar o que cada laboratório tem de melhor e dividir o espaço com outros pesquisadores foi um dos aprendizados que Gustavo trouxe da Universidade de Oxford. “Lá os laboratórios são lindos, grandes, mas muitos professores usam. Não há dez centímetros do espaço que ficam sem serem utilizados. Então pouco importa o tamanho do laboratório. Precisa ter essa dinâmica da utilidade e da troca entre cientistas, médicos, estudantes…”

Com os pais e irmãos na casa de barro do avô, em Creguenhem: trabalho na roça para conseguir a comida do dia. Foto: Arquivo pessoal

E quais os ganhos em fazer pesquisa em um laboratório que tem parceria com um hospital? “Perspectiva”, enfatiza ele. “Porque tem uma coisa que na ciência a gente perde muito, principalmente aqui no Brasil, que é a possibilidade de levar o que nós produzimos para estudos clínicos. Então quando temos essa possibilidade, ter uma conexão com um hospital como o Sabará e o suporte de uma fundação como a FJLES, a gente consegue desenvolver todo o trabalho em condições laboratoriais para futuramente chegar e falar com a Anvisa: ‘Olha, nós temos aqui todos os resultados desenvolvidos em boas condições laboratoriais e temos a estrutura para fazer teste em seres humanos’. Porque essa é a grande questão aqui no Brasil! Nós fazemos muita ciência de base e não levamos para estudos clínicos. Produzimos bastante, publicamos muito e o que as empresas fazem? Utilizam a publicação, as equipes fazem apenas pequenas adaptações, patenteiam e fabricam o produto.”

Gustavo ainda encontra tempo para falar sobre ciência de um jeito fácil. O pesquisador tem milhares de seguidores no TikTok, onde publica vídeos didáticos sobre a importância da vacinação. “É uma oportunidade de a gente se aproximar das pessoas, quebrar barreiras e os muros da universidade. Quando temos a sociedade ao nosso lado, a ciência é muito mais forte”, acredita.

Com essa capacidade de se comunicar e improvável e bem-sucedida trajetória, Gustavo Cabral poderia fazer ciência em qualquer lugar. Escolheu estar no PENSI, um instituto jovem, de apenas dez anos. “Aqui temos tudo de que precisamos para revolucionar muita coisa na ciência. Eu acredito”, afirma. Voltando ao começo desta reportagem: alguém arrisca apostar qual é a probabilidade de que isso aconteça?

TEXTO: Rede Galápagos

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