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A presença de adoçantes artificiais ou não nutritivos (ANNs), como a sucralose, aspartame, ciclamato e sacarina, presentes nos alimentos, aumentou ao longo dos últimos anos, como consequência da epidemia de obesidade. Sendo assim, crianças e adolescentes estão consumindo uma quantidade maior de adoçantes artificiais em alimentos dietéticos ou como substituto ao açúcar em bebidas. No entanto, ainda há poucos estudos que garantam a utilização segura em crianças pequenas, por longos períodos ou com doses excessivas.
Após um trabalho rigoroso de revisão da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), órgão vinculado à Organização Mundial de Saúde (OMS), em meados de julho o aspartame foi inserido na categoria de agentes “possivelmente cancerígenos”. Qual o significado disso? Segundo os pesquisadores, as evidências de que o aspartame possa causar câncer são limitadas, tanto em animais como em seres humanos.
Baseado nos achados da IARC, o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) não mudou o limite diário considerado seguro para o consumo, que é de 40 miligramas por quilo de peso corporal. Uma criança de 20 quilos poderia, portanto, ingerir até 800 miligramas desse adoçante ao dia, o equivalente a quase 20 latas de refrigerantes zero ou 26 envelopes de 30 gramas do adoçante em um dia.
Como podemos ver, o limite considerado seguro para a ingestão do adoçante é elevado. É improvável que alguém extrapole a dose, mesmo colocando os itens alimentícios na conta. Sabemos que grande parte da ingestão do aspartame no dia a dia vem dos produtos ultraprocessados, que têm sido associados a inúmeros problemas de saúde, como obesidade, doenças cardiovasculares e até câncer. Por essa razão, evitá-los já seria um grande benefício para a saúde das crianças e, principalmente, dos adolescentes que abusam desse tipo de alimento.
Para aquelas crianças e jovens que já têm diabetes ou sobrepeso e precisam evitar o açúcar, o adoçante pode continuar sendo utilizado, contanto que os limites recomendados de consumo diário não sejam ultrapassados.
Em uma declaração sobre este assunto em 2019, a Academia Americana de Pediatria (AAP) se propõe a fornecer uma orientação aos pediatras para que eles possam tomar as melhores decisões junto aos seus pacientes, como orientar os pais e familiares.
A política da AAP mostra que as futuras pesquisas devem explorar novas abordagens para avaliar os efeitos a longo prazo do uso de ANNs em crianças (tipo e quantidade), como a exposição a ANNs e o desenvolvimento de preferências de paladar, diabetes mellitus, obesidade, doenças cardiovasculares precoces e impactos no cérebro. A pesquisa deve explorar esses tópicos em todas as faixas etárias de crianças e adolescentes.
No entanto, o uso de adoçantes não nutritivos pode ser feito em casos de diabetes mellitus, nas dietas de restrição de calorias como controle de obesidade, prevenção e redução de peso. Não parece existir relação entre o uso de ANNs e câncer nos estudos observacionais feitos até hoje. Com exceção do uso de aspartame em crianças com fenilcetonúria, não há contraindicações absolutas ao uso de ANNs, mas devido ao pequeno número de pesquisas sobre o assunto, se recomenda parcimônia na sua utilização.
É importante que o uso de adoçantes seja feito por indicação médica ou nutricional e que sejam respeitadas as doses prescritas. Vale lembrar que também é necessário um rodízio de adoçantes.
Fontes:
Article Figures & Data Info & MetricsComments Carissa M. Baker-Smith, Sarah D. de Ferranti, William J. Cochran and Committee on Nutrition, section on Gastroen terology, Hepatology, and Nutrition.
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