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Algum tempo atrás escrevi um post sobre a importância do fio dental para o processo de higiene bucal com o título: “O mal-amado fio dental”. Foi uma decepção para mim. Decepção porque, na época, foi o meu texto menos lido. Não fiquei triste porque não leram o meu post, mesmo porque a opção da leitura é de cada um, mas porque além de eu adorar o fio dental, não consegui passar para a maioria de meus leitores a importância dessa prática. Porém, comprovei a baixa aceitação desse produto na rotina da higienização bucal.
Agora volto ao tema por uma razão bem polêmica, que vou explicar. O governo americano publica regularmente um guia denominado “Dietary Guideline for Americans”, um manual usado para direcionar as políticas de saúde nos Estados Unidos. Todas as recomendações descritas lá devem ser cientificamente comprovadas, e pasmem… O governo declarou que a efetividade do fio nunca havia sido confirmada, pois os resultados mostraram que as evidências sobre a eficácia do uso do fio dental eram “fracas”, “não confiáveis” ou de qualidade “muito baixa”. Tomei um susto danado, eu e a absoluta maioria dos dentistas de bom senso.
Aí eu pergunto: precisamos de evidências científicas para algo que é tão óbvio? Sou formado há 35 anos, nesse tempo de atuação profissional atendi milhares de pacientes de todos os perfis sociais, idade, condição clínica e principalmente os que higienizam adequadamente ou não. Já vi muita boca, de recém-nascidos a idosos desdentados, e posso afirmar categoricamente: o fio dental é essencial!
Estamos em época de campanhas eleitorais pelo país, serão eleitos os novos prefeitos das cidades. Um dos motes das campanhas é falar mal do adversário ou, se não dá para falar mal de um projeto que deu certo, refaz-se a crítica de uma maneira mais branda: “Dá para melhorar”.
Talvez seja isso que eu falaria para vocês a respeito da higiene bucal. A escovação dental é sensacional, mas dá pra melhorar: se usarmos o fio dental e modificarmos nossos hábitos e atitudes.
Na semana passada, estive no aniversário de uma paciente minha, a Isabella. Ela estava fazendo 7 anos. A Isabella é linda e um doce de menina. Sim, um doce. Inspirada na doçura da filha, a mãe Micheli preparou guloseimas deliciosas como brigadeiros, beijinhos e o bolo. Ao terminar o “Parabéns”, recebemos uma cestinha de vime contendo uma maçã e uma bolsinha com o nome da Isabella. Dentro da bolsinha, uma toalhinha, creme dental e escovinha de dentes.
Confesso que já não vou a tantos aniversários de crianças, meus filhos já cresceram e não é mais tão habitual para mim, mas a ideia da Micheli foi sensacional. “Aproveitem, crianças, divirtam-se, comam à vontade, mas depois não se esqueçam de escovar os dentinhos”. Não sei se isso está sendo comum por aí, mas é um alento e tanto saber que tem gente se preocupando com isso.
Comento sempre com os pais de meus pacientezinhos do consultório sobre essa prática comum da criançada. Eles vão aos aniversários, divertem-se à vontade, vem o “parabéns” e a farta distribuição de doces. Como o “parabéns” é no final da festa, a criançada vai embora logo e, depois de se esbaldar na festa, apagam de cansaço ao chegar em casa. Quem aí acorda o filhote para escovar os dentes? Poucos, né? É normal, isso acontece na maioria das vezes, por isso receber um presentinho desses é bem melhor do que um saquinho cheio de balas e chocolates. Pensem nisso.
E, se querem um conselho de quem vive olhando em bocas de crianças há anos, esqueçam as evidências exigidas pelo governo americano. Minha experiência profissional me dá o direito de afirmar, sem errar: use o fio dental e passe o fio dental nos dentes da criançada. As evidências aparecerão em um futuro próximo traduzido por sorrisos lindos e saudáveis.
Atualizado em 24 de setembro de 2024