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Jostein Gaarder é um professor de filosofia norueguês e escritor dos best-sellers: “O mundo de Sofia”, que foi traduzido em 53 línguas e mais de 40 milhões de exemplares vendidos, “O Dia do Curinga” e “A garota das laranjas”. Esses livros deliciosos deveriam ser lidos por todos que se interessam por filosofia, história e pelo amor filial. Mas Jostein Gaarder tem uma pérola em seu longo portfólio, pouco conhecida do grande público: trata-se de um livro infanto-juvenil chamado “Ei! Tem alguém aí?”
“Ei! Tem alguém aí?” é um livro infanto-juvenil que todos os pais deveriam ler e indicar para que seu filho ou filha leiam. É uma obra-prima obrigatória para discussões sobre a origem da vida e questionamentos dessa turminha cada vez mais ávida por descobrir o mundo que se descortina ao entrar na adolescência. Não deixe faltar na sua biblioteca, aposto que vocês irão adorar. Mas esse post não é de resenha ou crítica literária, não tenho essa pretensão. Esse post fala de saúde bucal, odontopediatria e comportamento das crianças e jovens no consultório do dentista.
Por isso, me inspirei no Gaarder para lhes falar da pergunta mais comum no consultório do odontopediatra: “O que é isso?” Existem outras perguntas bastante comuns, como: “Vai doer?”, “Tem que dar anestesia?”, “Precisa usar fio dental?”, “Vai sangrar?” Essas perguntas são clássicas e feitas por pacientes de qualquer idade, mas “O que é isso?” é a campeã entre a faixa pré-escolar e a pré-adolescente. Só na semana passada tive quatro pacientes que repetiram a frase, em dias e idades diferentes, parecia até um mantra.
Até aí tudo bem, nessa faixa etária a curiosidade é sempre muito grande e é importante que assim seja, mesmo porque a moçada quer saber o que vai ser realizado, qual o tipo de tratamento, para que serve tal instrumental e por aí vai. Mas um fato interessante, que só o odontopediatra percebe, é que quase metade dessas perguntas claramente são para engabelar. Ah, se a criança não está confiante, ela faz tudo para o tempo passar, e eu até entendo, mesmo sabendo dessas “más intenções”.
Faz parte, a Odontopediatria é a especialidade odontológica que mais requer paciência do profissional. Claro que todos os dentistas precisam ter paciência. Como a odontologia sempre foi muito estigmatizada, só a orientação constante pode romper com esse ranço preconceituoso que existe da profissão e, para isso, principalmente as crianças precisam ser orientadas.
As crianças quando muito pequenas não têm a compreensão necessária sobre os procedimentos a serem executados, por isso em procedimentos mais invasivos (restaurações, extrações, cirurgias) pode saber vai haver choro, clamor pelo colo dos pais e bocas fechadas. Com jeitinho, e paciência, vamos conquistando os babies, mostramos os instrumentos, equipamentos, deixo a criança manipulá-los (se não forem de risco), mostramos o funcionamento da cadeira odontológica, do motorzinho, da seringa de ar e água. Se o tratamento for preventivo, então, vira festa, mas se o tratamento for mais complexo procure um dentista experiente e com paciência, vai precisar.
Se o paciente já for um adolescente ou mesmo adulto, não há tanta necessidade de explicações básicas. Os marmanjos já deveriam saber disso, se bem que tem um monte deles que se comportam como crianças, mas aí já é outra história.
Voltando às nossas crianças, é muito legal explicar-lhes a importância da saúde bucal e o que ela representa para a vida que se apresenta. Vou até usar um clichê conhecido no meio: “o sorriso é o cartão de visitas da pessoa e ele abre portas”. Não tenho pressa em explicar, preciso conquistar a criança, e uma criança conquistada é uma criança confiante para permitir procedimentos. Costumo dizer para os pais que uma criança que passa pelo dentista apresenta um crescimento pessoal e ganha pontos nessa fase de transição para a maturidade.
Por isso, meus queridos pais e cuidadores, paciência com a moçada se eles querem saber de tudo, mas, por favor, não fiquem com muita explicação na hora de mandar escovar os dentes e usar o fio dental. É só perceber se eles não estão tergiversando pra escapar por causa do videogame ou outra atividade menos saudável. Aí a sugestão é de outro autor, o americano Jeff Kinney, que escreve a coleção “O diário de um banana”, você pode falar do sexto livro da série: “Casa dos horrores”, e colocar a moçada pra correr.
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Atualizado em 12 de setembro de 2024