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Crédito da ilustração: ONU
A temperatura média da superfície da Terra é agora cerca de 1,1°C mais alta do que era no final de 1800, antes da segunda Revolução Industrial, e mais alta do que em qualquer momento nos últimos 100 mil anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). A última década (2011-2020) foi a mais quente já registrada desde 1850. O tema das mudanças climáticas é cada vez mais discutido devido aos seus impactos significativos na saúde humana, especialmente na das crianças. “A elevação da temperatura é um dos principais fatores responsáveis pelo aumento das doenças alérgicas”, afirma o alergista Emanuel Sarinho, professor titular de Pediatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pesquisador 1B do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e supervisor da residência de Alergia e Imunologia. “Com o aumento da temperatura, há maior crescimento de fungos e ácaros, além do efeito nocivo ampliado da poluição, o que leva à agressão ao epitélio respiratório e à pele. Estudos oriundos da própria Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que essas mudanças fazem aumentar não só as doenças alérgicas, mas as doenças imunológicas, as autoimunes e as doenças neoplásicas, o efeito do câncer, já que o sistema imunológico fica errático e mais vulnerável a não detectar as células defeituosas que continuamente nós produzimos.”
Além do aumento da temperatura, a perda da biodiversidade e a destruição ambiental também contribuem para mudanças na conformação viral. “Não tenho dúvida de que essa pandemia de covid-19 existiu de maneira mais grave porque esse vírus se tornou mais agressivo devido à agressão ambiental. O coronavírus foi descoberto há mais de 50 anos. Causava doenças respiratórias e, às vezes, nem fazia mal. Essa mutação do vírus é decorrência da agressão do homem à natureza”, diz Sarinho.
Dr. Sarinho: professor titular de Pediatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
pesquisador 1B do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e supervisor da residência de Alergia e Imunologia. Foto: arquivo pessoal
De acordo com o alergista, existem diversas medidas práticas que as pessoas podem adotar para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na saúde. Alguns exemplos incluem a criação de espaços verdes, como parques e áreas com vegetação, diminuição da quantidade de asfalto nas cidades e adoção de combustíveis renováveis. Além disso, é importante levar as crianças para o ar livre, reduzir o uso de telas, lutar por um transporte público menos poluente e buscar uma alimentação saudável e natural. “A Finlândia é um exemplo de país que implementou políticas e programas bem-sucedidos para lidar com as consequências das mudanças climáticas na saúde. Medidas como a criação de espaços verdes em creches, orientações para uma dieta saudável e atividade física moderada resultaram em uma diminuição significativa da prevalência de asma e internamentos relacionados à doença no país”, completa Sarinho.
A conscientização e educação da população são essenciais, assim como a vigilância por parte do poder público para punir com multas os poluidores. No que diz respeito ao papel dos profissionais da saúde nessa conscientização, os pediatras podem recomendar que as crianças passem pelo menos três horas por semana em parques ou praias como parte de uma prescrição médica. “Ter uma dieta rica em alimentos naturais e integrais também é essencial, pois nosso organismo foi projetado para metabolizar esse tipo de alimento, e não produtos industrializados. Além disso, a atividade física moderada é recomendada, mesmo para crianças com asma, pois pode melhorar a saúde a longo prazo”, afirma Sarinho.
Se o Brasil continuar nesse caminho, a perspectiva futura em relação às mudanças climáticas e seus impactos é preocupante. Os gastos com saúde tenderão a aumentar à medida que as doenças respiratórias e alérgicas se tornarem mais graves e exigirem tratamentos mais caros. “Isso terá um custo elevado para um país pobre como o nosso. Medidas preventivas básicas, como evitar o fumo dentro de casa e a queima de produtos que produzem fumaça, podem reduzir a agressão ao ambiente e melhorar a saúde”, salienta Sarinho.
Como a Terra é um sistema onde tudo está conectado, a mudança climática é global e afeta a todos. A elevação das temperaturas, o aquecimento dos oceanos, o aumento do nível do mar e o derretimento acelerado das geleiras são alguns dos efeitos mensuráveis da mudança climática, juntamente com secas intensas, aumento da poluição do ar, escassez de água, estações de pólen mais precoces e intensas, incêndios graves, inundações, catástrofes, tempestades e declínio da biodiversidade.
As pessoas com alergias e asma são susceptíveis a esses efeitos das alterações climáticas e devem frequentemente adaptar seus cuidados de saúde, bem como aspectos de sua vida cotidiana. É essencial, portanto, que os profissionais de saúde também se adaptem e encontrem novas abordagens para o manejo de alergias e asma, levando em consideração as mudanças climáticas e ambientais.
Mitigar os efeitos do aquecimento global ajudará a prevenir alergias e sintomas novos ou agravados. Melhorar a qualidade do ar diminuirá o sofrimento de alergia respiratória. Aprender sobre a relação entre os seres humanos e a natureza e entender como essa relação afeta a saúde dos seres humanos e dos ambientes que chamamos de lar pode melhorar a saúde de todos.
Por Rede Galápagos
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