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Dia 31 de agosto comemoramos o Dia do Nutricionista e em 1º de setembro o do Professor de Educação Física. Coincidentemente, dois grupos que são pilares para a atuação na conscientização, prevenção e tratamento da obesidade infantil e da adolescência, que são rememorados no mês de setembro, o chamado Setembro Laranja, determinado pela Sociedade de Pediatria de São Paulo.
A obesidade é hoje considerada um flagelo universal, atingindo praticamente todas as regiões do mundo, e alcançando as crianças cada vez mais cedo, de forma intensa e levando a riscos de curto, médio e largo prazo. O excesso de peso está associado a problemas clínicos, com alterações das gorduras corporais, mudança do eixo de gravidade do corpo que leva a modificações de postura, joelhos, coxas e pescoço.
Talvez a mais importante condição que temos na infância é a chance de manter o excesso ou agravar o processo ao longo da vida. Outro aspecto importante é a chance de que a criança com excesso de peso não seja percebida como problema por parte da família e mesmo por profissionais de saúde, por erros de interpretação ou mesmo por uma conduta excessivamente expectante.
Muitas crianças com o problema sofrem assédio que começa dentro da casa, com apelidos inicialmente carinhosos, como fofinho, fortinho, gordinho e que podem evoluir para um quadro que chamamos de gordofobia ou ojeriza ao excesso de peso, mesmo dentro do âmbito familiar. Obviamente que isto pode ser agravado ao longo do tempo e dentro do ambiente escolar.
A curto prazo, crianças e adolescentes com obesidade tendem a ter pior autoestima, podem se isolar ou apresentar maior dificuldade de sociabilização, com o uso de roupas que escondam o excesso de peso.
A longo prazo, a obesidade está relacionada ao aumento de risco de doenças cardiovasculares, hipertensão, aumento da resistência insulínica (às vezes considerada como um fator de risco para diabetes) e problemas respiratórios, alérgicos, de sono e outros. Outro aspecto importante é que a obesidade mais grave em adultos tem sido relacionada a maior gravidade da infecção pelo novo coronavírus, aumentando as complicações da Covid-19.
Tudo isto nos leva a repensar que a obesidade e o excesso de peso precisam ser prevenidos o mais precocemente possível, impedindo a chance de associação com outras doenças e com as complicações ao longo do tempo.
Para a prevenção da obesidade, a frase mais comumente repetida por todos os profissionais de saúde é a de que há necessidade de uma mudança de estilos de vida, por parte de toda a família. E quando falamos em estilos de vida, estamos nos referindo a mudanças da alimentação e da atividade física. Exatamente a cargo dos dois grupos de profissionais homenageados em dias seguidos no final de agosto e princípio de setembro. Nada mais justo que estas datas para abrir o mês de alerta para a prevenção da obesidade, o Setembro Laranja.
Mudar a vida requer um esforço de toda a família, que precisa entender que não há possibilidades de modificações sem o apoio de todo o grupo. O nutricionista ajuda a acompanhar, gerir, modificar e interferir na alimentação familiar. Orienta não na dieta, mas determinando mudanças de comportamento.
Da mesma forma, a necessidade de aumento da atividade física é essencial para o programa de sucesso na prevenção do ganho de peso, com incentivo adequado para cada faixa etária. Além disso, é importante determinar o grau de especialização e indicação de esportes recreativos e competitivos e na manutenção da atividade física. Isto é uma das funções primordiais do profissional de atividade física, que individualmente ou em opções coletivas, pode ajudar em muito nos programas de prevenção da obesidade.
E estamos falando disto em padrão individual. Além disto, estes profissionais, ao lado de médicos, professores, autoridades de saúde e governamentais têm ação essencial na formulação de políticas públicas de incentivo e organização a campanhas de prevenção e tratamento do excesso de peso.
Nestes períodos de crise, a pandemia gerou enormes ansiedades por parte de pais, crianças e adolescentes. A paralisação das escolas e atividades extracurriculares foi determinante para o aumento do sedentarismo e a diminuição da atividade física, especialmente na população que menos tem recursos. A perda do poder econômico, desemprego, dificuldades na modificação da dinâmica familiar com o isolamento social ou da forma de alimentação, geraram aumentos do consumo de alimentos mais práticos, acessíveis, e, às vezes, inadequados. Daí a necessidade da atuação do nutricionista.
Portanto, as crises geram problemas, que geram oportunidades de ação. Fica aqui, no Setembro Laranja, a nossa homenagem aos profissionais que atuam diretamente nas mudanças de comportamento alimentar e físico, e que as famílias possam ficar alertas a estes aspectos resultantes do desequilíbrio do estilo de vida.
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