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Pode até parecer “chover no molhado”, mas é um fato: nenhum pai e/ou mãe naturalizam a hospitalização de sua criança. Por mais que se entenda a necessidade para a cura, o coração acelera, o peito aperta e o estresse, muitas vezes, é inevitável. Pensando nisso, há 12 anos o Instituto PENSI solidifica o Programa Voluntariado Sabará, desenvolvendo ações com atividades práticas para acolher os pequenos e envolver os seus responsáveis. Para se ter uma ideia, em 2023 foram 109 voluntários doando cerca de 10 mil horas, o que já resultou, por exemplo, na confecção e entrega de 11.943 kits surpresas — brinquedos de material reciclável elaborados no próprio hospital — e 373 sonequinhas — travesseiros feitos por essa equipe.
Psicopedagoga e coordenadora do programa desde fevereiro de 2020, Caroline Sanches explica que o voluntariado atua com a missão de levar a alegria do mundo externo para o interior do hospital e, assim, contribuir formando cidadãos engajados. “O nosso foco aqui é a parte lúdica. Brincamos, conversamos e contamos histórias. Acaba que nos tornamos os olhos da nossa rede de humanização. Às vezes, os voluntários levam para o hospital algumas demandas que os pacientes e familiares não se sentem à vontade para falar com os médicos”, conta. “Conosco, a criança tem sempre voz ativa; respeitamos a vontade de cada uma delas”, completa.
Esse olhar de Carol, como é conhecida nos corredores do hospital, aplicado ao projeto é resultado de uma infância ligada à caridade. “Trabalho na área há mais de 12 anos e a vontade veio do exemplo de meu pai, que ajudava muito as pessoas. Sempre tentei atuar de alguma forma buscando a vertente social”, diz. Abaixo, algumas ações especiais que foram desenvolvidas pelo programa em 2023 até agora — além da rotina diária de atividades com as crianças.
Oficina no Dia dos Pais
“Normalmente, tínhamos apenas uma roda de conversa com as mães da UTI. Porém, na pandemia, percebemos a presença dos pais. E, desde o ano passado, resolvemos incluí-los. É um dia com música, brincadeira teatral e atividade manual, como a confecção de mandalas. No começo, o pai fica meio sem jeito, mas é importante para a interação entre eles, que estão ali na mesma situação, com os filhos internados.”
Dia Nacional do Voluntariado
Celebrado em 28 de agosto, o projeto realizou uma conversa on-line para apresentação de alguns resultados do primeiro semestre. No dia seguinte, 29 de agosto, houve o Simpósio do Voluntariado Hospitalar Infantil, com participação da AACD, do Graacc e do hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba. “Foi muito legal porque tivemos as trocas de experiências, ainda mais por ter sido o primeiro encontro presencial no pós-pandemia”, afirma Carol. No evento, os voluntários mais antigos explicaram ao público como são feitos os brinquedos produzidos com material reciclável. “Hoje viramos referências na atuação com as crianças sem o uso de telas.”
Visita ao Projeto da Escola
Os voluntários do Sabará foram conhecer o Projeto da Escola, que faz parte do programa de voluntariado do Hospital Albert Einstein, na favela Paraisópolis. “Discutimos assuntos das gestões e percebemos que os problemas são semelhantes, como a permanência no programa e a mudança do perfil do voluntário após a pandemia.”
Dia do Coração
No dia 29 de setembro, o programa realizou um encontro com mães da UTI cardiológica. “Levamos atividades que remetem ao coração; fizemos um bordado no tecido alinhavado manualmente por elas. É muito bacana ver quão fortes são essas mulheres que estão ali com seus filhos há meses e, ao mesmo tempo, é o momento de ter um respiro, saindo do quarto e fazendo algo diferente”, detalha Carol.
Oficina de mandala Ojos de Dios (Olhos de Deus)
Realizada na Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat) 2023, reuniu alguns funcionários do hospital. “Todos foram convidados a fazer a atividade manual. A proposta era mostrar que, através dos mesmos materiais, conseguimos construir coisas bem diferentes. Trabalha a questão da atenção, que se desprende para produzir a sua mandala. Foi muito gostoso.”
Viagem Fantástica
A Viagem Fantástica é uma ação de voluntariado empresarial da Fundação José Luiz Egydio Setúbal voltada para os funcionários que acontece desde 2017. Neste ano, o evento foi realizado nos dias 28 e 29 de outubro, no Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (Saica), na Penha, Zona Leste de São Paulo. “Foi uma ação linda; conseguimos transformar um pouco 75 vidas, entre bebês, crianças e adolescentes”, vibra.
Cerca de 200 pessoas participaram fazendo pequenas reformas, plantando hortas, arrumando brinquedotecas e bibliotecas e fazendo atividades com as crianças. “É um momento de nos conectarmos com outros funcionários; é uma troca muito expressiva. Todo o trabalho é linear, não tem diretor e/ou auxiliar. As pessoas trabalham de forma única, visando ajudar a transformar a vida de outra pessoa.”
Dia das Crianças
Contou com ação superespecial nas unidades 1 e 2 do Sabará. “É a mais impactante, pois nos vestimos de princesas e heróis. Neste ano teve Branca de Neve, Cinderela, Tiana, Homem-Aranha, Capitão América, Hulk, Galinha Pintadinha e Moana. Um sucesso”, celebra a coordenadora. No Sabará, cada quarto tem o nome da criança e dos pais e conta normalmente com um desenho significativo para ela colocado na porta. “Quando entramos vestidos do herói que ela ama, fica em puro estado de felicidade. É emocionante demais. Os pais agradecem muito.”
Formação de voluntários
Para integrar o time do Sabará, a pessoa precisa inicialmente se inscrever e aguardar uma nova turma de convocação. Geralmente são três ciclos anuais. Após esse passo, o candidato é chamado para entrevista. Ao ser aprovado, inicia-se o processo de formação. A parte teórica visa garantir um treinamento físico-emocional, embasado na faixa etária das crianças e, ao mesmo tempo, possibilitando o suporte à família.
Em seguida, os voluntários são treinados por pessoas já preparadas para a rotina da prática hospitalar, conhecendo cada área — Pronto-Socorro Infantil, Posso Ajudar, Exames, Sala de Medicação, Centro Cirúrgico, UTI, Internação e Isolamento, Brinquedoteca e Sala do Voluntariado. Essa parte tem duração média de um mês e meio. Na última formação, iniciada em setembro e finalizada em outubro, 36 interessados integraram a agenda de atividades.
Vencido esse período, passa a trabalhar de maneira autônoma, nos dias e horários de sua escolha, conforme a disponibilidade da grade do hospital, assim como na área com que mais se identifica. Importante destacar que cada voluntário atuará por três horas semanais. Podem participar pessoas com idade entre 18 e 70 anos, e a permanência mínima no projeto é de seis meses.
Por Rede Galápagos
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