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Emergência climática, o desafio de todos

Emergência climática, o desafio de todos

04/10/2024
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Como as mudanças climáticas estão moldando a saúde das crianças e quais estratégias emergentes estão sendo desenvolvidas para enfrentar esses desafios? “Nunca a temperatura do ar superou a temperatura do nosso corpo. Quando a temperatura do planeta fica muito quente, causa estresse. Nós não temos condições de nos adaptarmos se a temperatura subir muito”, alertou o climatologista Carlos Nobre, no Simpósio de Alterações Climáticas e Saúde Infantil. O evento proporcionou oito horas de exposições e debates, que exploraram as implicações da emergência climática na saúde das crianças, abordando desde os impactos diretos até o uso de novas tecnologias para mitigar esses efeitos. Foto: Rudah Poran/Galápagos.

 

“Não sou um cientista da área de saúde, mas vou trazer alguns pontos sobre saúde para desafiar vocês. Nós nem chamamos mais o que estamos vivendo de mudanças climáticas, mas sim de emergência climática, pois os efeitos estão acontecendo de forma muito rápida. A temperatura subiu, as geleiras estão derretendo rapidamente, os mares avançando, e nós estamos aumentando as emissões de gases. Zerar o uso de combustíveis fósseis é o caminho.” Esse foi o alerta de Carlos Nobre, um dos principais climatologistas do país, em sua palestra “Modelos de atuação possíveis para preservar a saúde do planeta”, no segundo dia do congresso. Ele chamou atenção para os desafios que as futuras gerações enfrentarão devido às mudanças climáticas.

Ele destacou que uma criança nascida em 2020 deverá vivenciar cerca de 30 ondas de calor ao longo da vida, uma quantidade significativamente superior à das gerações passadas. “Nunca a temperatura do ar superou a temperatura do nosso corpo. Quando a temperatura do planeta fica muito quente, causa estresse. Nós não temos condições de nos adaptarmos se a temperatura subir muito”, reforçou.

Nobre também enfatizou a necessidade de adaptação e mitigação e apresentou a proposta “Amazônia 4.0”, que promove um modelo de bioeconomia sustentável para proteger a floresta amazônica e fomentar o desenvolvimento tecnológico. “Temos que parar o desmatamento e o fogo, pois a degradação da floresta amazônica, e de todas as florestas tropicais, pode gerar uma ou duas pandemias por década no mundo. Olha o risco que isso traz. A Organização Mundial da Saúde prevê até 250 mil mortos por ano entre 2030 e 2050 devido aos impactos das mudanças climáticas”.

Pensando na saúde, Nobre apontou que os desafios vão desde a implementação de um programa de monitoramento da qualidade do ar em áreas urbanas até a necessidade de iniciar urgentemente uma discussão sobre a importância da inserção da “saúde em todas as políticas”. Ele citou, por exemplo, o desenvolvimento de um programa de vigilância dos efeitos das queimadas para crianças menores de 5 anos e idosos durante o período de queimadas na Amazônia Legal. “O Brasil tem todas as condições de ser o primeiro país a zerar as emissões [de combustíveis fósseis]. Os que mais emitem são China, EUA, Índia e Rússia. Aqui, a emissão é cerca de 20%. Vamos zerar o desmatamento em 2030 — esse é o plano do Governo Federal. E aí, precisamos criar um grande projeto de restauração florestal. A restauração urbana melhorará muito a saúde”.

Anamnese ambiental nas consultas pediátricas

A professora Marilyn Urrutia-Pereira, especialista em saúde ambiental pediátrica, é líder do Núcleo de Pesquisas Ambiente e Educação em Saúde (NUPAES) da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e coordena o Programa Infantil de Prevenção de Asma (PIPA). Ela também é co-autora do capítulo sobre saúde ambiental pediátrica no Tratado de Pediatria 2022, publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, e membro de comitês da OMS e da World Allergy Organization. No simpósio sobre clima, ela destacou a importância de identificar riscos ambientais na infância e pediu maior capacitação dos profissionais de saúde. Com vasta experiência no tema, Urrutia é formada pelo “Trainer Air Health Train the Trainer Program” da WONCA e pelo curso “Líderes de la Salud Medioambiental de Europa e América Latina”, ministrado pelo professor Juan Ortega García. Sua atuação em saúde ambiental e pediatria é reconhecida internacionalmente.

Em sua palestra, Urrutia defendeu a implementação da anamnese ambiental nas consultas pediátricas como ferramenta essencial para identificar precocemente fatores de risco. Entre as principais ameaças ambientais que impactam a saúde infantil, a professora mencionou poluentes do ar, como chumbo, amianto, radônio e microplásticos, além de disruptores endócrinos, como bisfenóis e ftalatos. Ela explicou que essas substâncias, quando presentes no ambiente, podem prejudicar seriamente o desenvolvimento pulmonar, imunológico e até neurológico das crianças.

Urrutia também destacou a importância das “janelas de suscetibilidade”, períodos críticos no desenvolvimento infantil em que a criança se torna especialmente vulnerável aos impactos ambientais. Ela comparou os efeitos dessas exposições aos danos causados pela privação nutricional ou pelo estresse psicossocial precoce, ambos com consequências potencialmente graves para a saúde a longo prazo.

“Podemos mudar o futuro dessas crianças, tudo isso está em nossas mãos”, afirmou Urrutia, ressaltando a necessidade de maior conscientização entre os profissionais de saúde. Ela enfatizou que pediatras, enfermeiros e agentes de saúde devem estar capacitados para reconhecer os riscos ambientais a que as crianças estão expostas, especialmente em países em desenvolvimento, onde as disparidades socioambientais amplificam esses riscos.

A professora Urrutia sugeriu que as unidades básicas de saúde adotem a anamnese ambiental em suas consultas de rotina para detectar e prevenir doenças crônicas, como asma e distúrbios neurológicos, causadas pela exposição a poluentes. Segundo ela, essa prática permite intervenções precoces e contribui para a redução das desigualdades em saúde.

Expossoma e fatores ambientais

Marcelo de Paula Corrêa, diretor do Instituto de Recursos Naturais da Unifei, é um dos principais especialistas em expossoma — o conjunto de todas as exposições ambientais que uma pessoa enfrenta ao longo da vida — e investigou o impacto dessas variáveis na saúde infantil. Marcelo explicou que o expossoma de uma criança está fortemente influenciado por fatores climáticos e ambientais, como a radiação solar, poluição do ar e variações de temperatura, que afetam diretamente a saúde da pele, cabelo e respiração.

Durante sua palestra “Eventos climáticos extremos e impactos sobre a sociedade”, Marcelo destacou como as mudanças climáticas agravam os desafios de saúde pública, especialmente entre populações vulneráveis, como crianças. Um dos maiores riscos é o aumento da exposição à radiação ultravioleta, o que, segundo Marcelo, eleva drasticamente o risco de câncer de pele, especialmente devido à alta incidência de queimaduras solares na infância. Ele destacou que os efeitos são cumulativos e que a exposição combinada a outros poluentes, como ozônio e compostos orgânicos voláteis, amplifica os danos à pele e agrava outras condições dermatológicas.

Em uma de suas pesquisas recentes, Marcelo utilizou ciclistas no Rio de Janeiro para medir o impacto da radiação solar, poluição e calor sobre a saúde. Os resultados mostraram que a combinação desses fatores gera um estresse térmico significativo, afetando a capacidade de regular a temperatura corporal e a saúde da pele. Ele defendeu a criação de políticas públicas e estratégias preventivas para proteger as crianças dessas exposições e reduzir os impactos das mudanças climáticas.

Marcelo concluiu que o entendimento do expossoma é fundamental para o desenvolvimento de políticas eficazes de mitigação e adaptação, capazes de proteger a saúde infantil em um ambiente cada vez mais hostil devido às mudanças climáticas.

William Cabral e a geografia da saúde

William Cabral, pesquisador do Instituto PENSI, destacou o impacto das mudanças climáticas e da poluição do ar na saúde infantil, com foco em grandes centros urbanos, como São Paulo. Durante sua palestra, ele apresentou uma plataforma inovadora que integra dados de poluição, umidade e temperatura com registros hospitalares, criando modelos preditivos que permitem prever surtos de doenças respiratórias com até 90 dias de antecedência. Segundo William, essa tecnologia tem ajudado a planejar melhor os atendimentos pediátricos, especialmente no Sabará Hospital Infantil, onde cerca de 80% dos atendimentos estão relacionados a doenças respiratórias.

Ele ressaltou que até pequenas variações nos níveis de poluição e umidade podem afetar diretamente a saúde respiratória das crianças, em especial aquelas em áreas mais poluídas e socioeconomicamente desfavorecidas. A plataforma desenvolvida por William permite antecipar esses surtos e agir preventivamente, melhorando a alocação de recursos hospitalares e o planejamento de tratamentos. Ele observou que, em áreas periféricas, a exposição a altos níveis de poluentes é ainda mais prejudicial, pois essas comunidades têm menos acesso a cuidados de saúde de qualidade.

Além da tecnologia preditiva, William destacou a importância de uma abordagem interdisciplinar para a saúde pública, integrando geografia, tecnologia e ciências médicas. Ele defendeu a aplicação de inteligência artificial e geoprocessamento para mapear os impactos das mudanças climáticas em tempo real, o que permite desenvolver estratégias mais eficazes para proteger as populações infantis. William finalizou sua apresentação pedindo maior visibilidade para as ciências geográficas no campo da saúde pública e defendendo políticas públicas inclusivas para enfrentar os desafios climáticos que afetam principalmente as crianças.

Telessaúde e a redução de emissões de carbono

Adriana Mallet, médica e fundadora da SAS Brasil, apresentou sua palestra “Como avaliar o impacto das ações de telessaúde na redução da emissão de carbono”, na qual destacou a importância da tecnologia no atendimento médico a populações remotas e sua contribuição para a sustentabilidade. Adriana explicou que a telessaúde reduz a necessidade de deslocamentos longos para consultas médicas, o que diminui significativamente as emissões de carbono, além de permitir a criação de créditos de carbono que podem ser reinvestidos no desenvolvimento de novas tecnologias.

Ela citou a parceria entre o Instituto PENSI e a SAS Brasil no projeto Telessaúde Nordeste, que está expandindo o acesso a atendimento pediátrico em regiões remotas do Ceará. A telemedicina tem permitido que consultas e exames sejam realizados localmente, evitando deslocamentos de grandes distâncias e, consequentemente, contribuindo para a preservação do meio ambiente. Desde 2015, a SAS Brasil já evitou milhões de quilômetros de deslocamentos, o que, segundo Adriana, representa uma significativa redução de emissões de gases do efeito estufa.

Adriana também mencionou que a SAS Brasil está em processo de certificação internacional para transformar as emissões evitadas em créditos de carbono, o que contribuirá para a sustentabilidade financeira da organização. Ela defendeu que as inovações tecnológicas, como a telemedicina, não apenas ampliam o acesso à saúde em regiões remotas, mas também são uma ferramenta crucial na luta contra as mudanças climáticas. Adriana desafiou os profissionais de saúde a refletirem sobre como a digitalização pode transformar o futuro da saúde pública e torná-la mais sustentável.

Mapeamento para combater a violência contra as crianças

A professora Lígia Vizeu Barrozo, da USP, apresentou os resultados de sua pesquisa no Laboratório de Violência, Vulnerabilidade e Saúde Humana (LVVSH), que utiliza algoritmos e técnicas de modelagem espacial para identificar áreas de subnotificação de violência contra crianças e adolescentes. Em 2022, 30,8% das notificações de violência em São Paulo envolveram crianças e adolescentes, com 70,2% dos casos registrados contra meninas. A pesquisa visa aprimorar a precisão das notificações e direcionar intervenções preventivas para áreas de maior risco, criando “hot spots” de violência.

Lígia destacou que a maioria dos casos de violência infantil ocorre dentro do ambiente doméstico, o que requer uma abordagem específica. O projeto LVVSH tem como objetivo usar tecnologia para aumentar o volume e a precisão das notificações, permitindo uma resposta institucional mais rápida e eficiente. A pesquisa também está alinhada a políticas públicas municipais, como o Plano Municipal pela Primeira Infância, e busca fornecer ferramentas tecnológicas para melhorar a resposta dos serviços de saúde aos casos de violência infantil.

Outro componente da pesquisa é o uso de técnicas de linkage para conectar diferentes bases de dados e mapear a trajetória das vítimas pelos sistemas de saúde, o que permitirá detectar sinais de abuso mais rapidamente. O projeto também inclui a capacitação de profissionais da saúde para o uso desses algoritmos de forma contínua, melhorando o rastreamento e a resposta aos casos de violência.

Por Rede Galápagos

 

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