PESQUISAR
No dia 8 de março se comemora o Dia Internacional da Mulher, e deveríamos estar comemorando essa data mostrando o quanto avançamos como sociedade, mas não é bem isso que acontece.
Ser menina no Brasil é muito difícil, e elas são mais de 34 milhões de pessoas que ainda não completaram 19 anos. Se elas forem negras, indígenas ou moram nas periferias ou ainda se tem um gênero diferente do usual então a situação vai piorar muito.
Sabemos da situação da mulher de forma generalizada, mas como sempre falo como pediatra ou como uma Fundação dedicada à causa da saúde infantil, então olhamos sempre sob essa perspectiva.
Como diz minha amiga Amanda Sadalla da ONG “Serenas”: “há muitas formas de ser menina no Brasil e no mundo. Ser menina na periferia de São Paulo é completamente diferente de ser uma menina no centro da capital. Ser menina branca, preta, migrante, indígena, periférica ou quilombola, implica experiências muito diferentes. Assim, apesar de todas as meninas estarem sujeitas à violência, as meninas e mulheres pretas, indígenas e periféricas, são as principais vítimas destes crimes.” Talvez eu, um homem branco da avenida Faria Lima de São Paulo, não seja a voz ideal para falar em nome dessas meninas, mas o que acontece com elas é uma preocupação da nossa Fundação, e é nosso dever trazer sempre que possível esse problema à tona.
Nossos números são tristes e assustadores. Uma em cada cinco estudantes de 13 a 17 anos dizem já terem sido tocadas, beijadas ou expostas contra a vontade, ou ainda, você sabia que 48 meninas com menos de 14 anos se tornam mães a cada dia? A pesquisa “Por ser Menina”, da organização Plan International Brasil, que ouviu 2.589 meninas de 14 a 19 anos, nas 5 regiões do país em 2021, que relatam violência em casa, na rua e na própria escola. E por isso mais da metade das entrevistadas diz sentir medo de andar na rua e um terço delas relatam ter sofrido assédio na escola. Elas têm razão, basta ver os números da pesquisa anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Uma mulher foi estuprada, em média, a cada dez minutos no Brasil em 2021, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foram 56,1 mil casos, incluindo estupros de vulnerável (menores de 14 anos segundo definição da lei), com pessoas do gênero feminino como vítimas. Os dados, divulgados pela entidade, foram coletados por meio de um levantamento feito com as polícias civis de todas as unidades da Federação, ou seja, leva em conta apenas os casos que chegaram ao conhecimento das autoridades. O ano de 2021 representa o início do aumento dos casos de estupro no país depois de uma diminuição ocorrida com o isolamento provocado pela pandemia da covid-19. Foram 66 mil vítimas de estupro no Brasil em 2018, maior índice desde que o estudo começou a ser feito em 2007.
A maioria das vítimas de estupros no Brasil (54%) foram meninas de até 13 anos. Ocorrem, em média, 180 estupros por dia no Brasil, 4,1% acima do verificado em 2017 pelo anuário. De cada dez estupros, oito ocorrem contra meninas e mulheres e dois contra meninos e homens.
De acordo com pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a maioria dos casos de violência sexual contra meninas e meninos ocorre na residência da vítima e, para os casos em que há informações sobre a autoria dos crimes, 86% dos autores eram conhecidos ou familiares, como pai, avô e padrasto, conforme identificado nas edições do anuário. Ainda de acordo com o Anuário de Segurança Pública de 2019, 64% dos casos de estupro de vulneráveis acontecem quando os pais ou responsáveis estão no trabalho, durante o período da manhã ou tarde.
A Fundação José Luiz Egydio Setúbal tem uma parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública para que sejam analisados dados específicos sobre as violências cometidas contra crianças e adolescentes, sobretudo em relação aos maus tratos, uma vez que as informações em relação à violência sexual já eram analisadas.
Esperamos que no futuro tenhamos mais motivos para que nossas meninas possam comemorar o Dia Internacional da Mulher com mais alegria e sem medo de sair nas ruas, ir para escola e ficar em casa sem ser importunada. Que nossos governantes cumpram seu papel e nós como sociedade façamos nossa parte e não aceitemos mais esse tipo de atitude por parte de quem quer que seja.
Fonte:
Saiba mais
https://institutopensi.org.br/precisamos-falar-sobre-estupro-de-criancas/
https://institutopensi.org.br/o-abandono-das-nossas-meninas/
https://institutopensi.org.br/30-anos-do-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-o-que-falhou/