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Controle Emocional é o nome da capacidade que permite que convivamos mais harmoniosamente desde pequenos. Então, como lidamos com as emoções? Elas vêm e sentimos, mas não ficamos por aí simplesmente as demonstrando. Afinal, ninguém pode sair por aí quebrando tudo só porque está com raiva. Ou beijar e abraçar desconhecidos porque está muito feliz. Nem ficar incontrolavelmente fazendo pirraça. Adultos não “abrem o berreiro” porque o chefe lhe deu uma bronca. Nem mesmo crianças mais velhas ou adolescentes ficam fazendo birra com a diretora da escola porque querem correr na sala de aula na hora da aula. Há um controle; mesmo que não o percebamos mais. E ele não surge de uma hora para outra. Como isso se dá?
A capacidade de modular e controlar as emoções é fundamental e é aprendida durante a primeira infância (0 a 6 anos). Durante esse período há um grande desenvolvimento emocional. Há o surgimento de novas emoções como o orgulho e o sentimento de culpa. Mas há também algo muito importante que é a modulação delas. Como tratá-las, como senti-las, inibi-las… É nessa fase que os pequenos aprendem até onde podem ir, para que, mais velhos, saibam conviver! O orgulho é moderado pelo sentimento de culpa, já a alegria é pela tristeza, a irritação pelo temor, o temor pelos rituais e vice-versa. Essa capacidade desenvolve-se como resposta às expectativas da sociedade. É uma difícil tarefa a ser desenvolvida, mas a maioria das crianças consegue.
Parte desse controle é neurológico, relaciona-se com uma parte específica do córtex cerebral que amadurece durante os primeiros anos, quando suas áreas reflexivas e intelectuais começam gradualmente a regular o fluxo do medo, irritação e outras emoções provenientes da amígdala. Mas a aprendizagem é essencial. É durante a infância que os pais (ou cuidadores) orientam as crianças quanto à maneira mais apropriada de expressar suas emoções. Eles ensinam seus filhos a manter longe o medo, por exemplo, porque respondem à sua ansiedade com tranquilidade. Explicam também, educando, que gritar e esbravejar em lugar público não é o ideal. É a moderação das emoções negativas, já que as positivas, de modo geral, são mais permitidas.
O melhor professor, no entanto, é o exemplo. Idealmente, os pais não devem perder a calma quando seus filhos não controlam seus impulsos hostis, ou expressar medo em algumas situações. As crianças captam esses comportamentos. Muitas crianças na primeira infância desenvolvem fobias (medo irracional e exagerado frente a algo) em função de perceberem esse medo em seus pais, ou acabam por ter comportamentos inadequados regulados pelas emoções por ver seus pais agindo dessa forma. Assim, um menino de 4 anos não sai correndo apavorado ao ver um cachorro se aproximando, ou responde agressivamente se alguém lhe esbarra, caso não presencie constantemente seus pais fazendo isso.
Uma forma de perceber o controle emocional desenvolvido e o resultado dos cuidados recebidos é observar como as crianças reagem ao choro ou à dor de outras. Aquelas que foram bem educadas e tiveram bons exemplos costumam controlar suas próprias emoções e expressar compreensão, confortando aquela que sofre, tranquilizando-a ou procurando ajuda. Da mesma forma, a sociabilidade é um bom indício de modulação afetiva, sendo o equilíbrio entre não ser tímido exacerbadamente escondendo-se dos outros (como as crianças que ficam atrás da mãe) ou sendo excessivamente amistosas (como aquelas que dão a mão para estranhos).
Muitas são as emoções. Muitas são as formas de senti-las. Muitas são as formas de controlá-las e modulá-las. Como o humano não vive sozinho, é um ser sociável, essa capacidade é fundamental, e as crianças necessitam de adultos que a propicie. Para isso precisa haver confiança e apego a eles. Quando isso ocorre, elas tornam-se seres humanos mais equilibrados e compreensíveis, nem sufocados nem indiferentes às suas próprias emoções, e sempre respeitando os outros.
Leia também: As emoções como janela social
Fonte: BERGER, Kathleen Stassen. O Desenvolvimento da Pessoa – Da Infância à Terceira Idade. Rio de Janeiro; LTC Editora, 2003
Por Letícia Rangel, psicóloga
Atualizado em 22 de julho de 2024