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Quando crianças adoecem, sobretudo as pequenas, uma de suas dificuldades é que não sabem que podem ajudar a si mesmas em sua cura. Estar doente é um momento de virada, de mudança na vida. Pode ser uma mudança curta, passageira. Pode ser longa, definitiva, como ocorrem com doenças crônicas, retirada de órgãos, ou acidentes que deixam marcas e assinalam um antes e um depois.
Elas não podem se ajudar em sua cura porque não sabem conversar consigo mesmas sobre o que está acontecendo, porque não podem compreender os modos de tratamento e as causas e as consequências de tal adversidade não querida, mas que se impõe sobre elas e altera suas vidas e as fazem sofrer e se sentirem desconcertadas.
O papel do adulto – profissionais, pais ou responsáveis, principalmente – é também muito importante nesta hora. Além do que fazem objetivamente em favor do enfrentamento das doenças, é bom quando sabem e podem conversar com elas sobre o que está lhes acontecendo. Conversar nesse caso pode assumir muitas significações: observar, ficar um tempo juntos em silêncio, explicar os tratamentos e cuidados a serem tomados, brincar e simular situações, antecipar perdas e ganhos.
Trata-se, em qualquer caso, de assumir que a criança não tem ainda bem desenvolvida aquela parte do cérebro – a consciente e verbal – capaz de dialogar com aquela outra parte – a não verbal – e, assim, de dar conta, por si mesma, de pensar e sentir sobre o que está acontecendo com ela.
As crianças sofrem, muitas vezes, porque não sabem se dizer, ou pensar, sobre doenças, dores e ocorrências disfuncionais em seu corpo. Por isso, podem criar imagens negativas, desenvolver medos e preocupações que aumentam a proporção do problema e em nada ajudam em seu enfrentamento.
O papel do adulto é fundamental nestes casos. Como disse, explicar, comentar, compartilhar, ouvir, deixar que expressem seu medo, ignorância ou raiva, brincar juntos, contar histórias, cantar são, por isso, formas de cuidar, formas de dar importância à criança e ao que está ocorrendo. Elas, por certo, não substituem o tratamento efetivo, mas complementam e colaboram para sua boa realização. Mais que isso, são formas de amar a criança. De receber o que ela não pode, nessa situação, fazer por si mesma. E de lhe dar aquilo que, em certos momentos da vida, só pode vir de um outro, sobretudo se ele ama e compreende e, por isso, está presente.
Feliz 2015 a todos os leitores e não leitores de nosso blog!
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Atualizado em 17 de julho de 2024