PESQUISAR
No Dia dos Pais, fui ver “A Melhor Mãe do Mundo”, filme nacional que se passa na cidade de São Paulo e conta mais uma das mazelas nacionais, a violência doméstica.
Essa história tocante é sobre coragem, resistência e o amor inabalável de Gal, a personagem central, que sempre soube que sua maior força vinha do amor pelos filhos. Mas, quando a vida a coloca contra a parede, ela precisa tomar a decisão mais difícil: deixar tudo para trás e lutar por um futuro seguro para sua família. Com Shirley Cruz e Seu Jorge no elenco e direção de Anna Muylaert, A Melhor Mãe do Mundo foi selecionado para o Festival de Berlim. Quem for assistir, prepare-se para uma jornada comovente, angustiante e emocionante!
Gosto muito de cinema. Assistir filmes que se passam em nossa cidade, em nosso país e mostram nossa realidade nos faz refletir sobre coisas sobre as quais, se conhecemos na teoria, não temos ideia da realidade.
Ver a São Paulo dos moradores de rua, dos catadores de sucata, das ocupações, mesmo que talvez romantizados de alguma forma pelo roteiro de Anna Muylaert, é bem interessante. Esses personagens são invisíveis na maioria das vezes. Passam por nós, talvez, dezenas de vezes ao dia e não os percebemos. Fazem parte do cenário da nossa desigualdade social e isso já não nos abala, não nos choca mais. Talvez precisemos ver nas telas do cinema para entender o quão chocante pode ser a realidade que está invisível aos nossos olhos.
O assunto central da trama é a violência doméstica. O filme inicia com Gal, que está numa delegacia para fazer uma denúncia de uma violência física que sofreu do seu companheiro, Leandro. A cada pergunta da assistente social, ela fica mais envergonhada: “Foi a primeira vez? Vocês são casados? Ele não é o pai de seus filhos?” E por aí vai. Não que houvesse julgamento de valor, eram perguntas naturais pelo desenrolar da conversa, mas a vergonha era nítida e as respostas para proteger e justificar o companheiro eram evidentes. Afinal, de quem era a culpa ali?
Gal foge de casa com os filhos para ir para a casa de uma prima em Itaquera. Para as crianças, a justificativa seria que eles estavam partindo para uma grande aventura. Subiram na carreta onde ela coletava as sucatas e partiram pelo centro de São Paulo. Convivendo nas praças com moradores de rua, comendo as refeições oferecidas pelos “santos” ou “anjos” de organizações sociais, que mais tarde cobrariam seu preço, e cruzando com os tipos exóticos que vivem por aí na mesma situação.
Muitas das conversas são sobre como as pessoas e a sociedade em geral veem o fato de as mulheres apanharem do marido como uma coisa normal e que isso deve ser aceito pela companheira. Gal está a ponto de aceitar, mas um fato a faz mudar de opinião. Quando ela percebe que a próxima vítima do companheiro seria sua filha de 9 anos. Nesse momento, ela toma coragem de quebrar o ciclo vicioso e perverso de seu destino de mulher.
Fico pensando: quantas mulheres esse filme retrata? O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que a Fundação José Luiz Setúbal é uma das patrocinadoras, traz esses números de violência contra as mulheres e crianças há muitos anos, sem que nossos governantes se sensibilizem com isso.
Talvez vendo filmes como A Melhor Mãe do Mundo e Manas, que mostram a realidade com a crueza necessária, as coisas possam iniciar a mudança. Parabéns a Anna Muylaert, a Shirley Cruz, ao Seu Jorge e a todos que tiveram a coragem de levar esse filme às telas. Recomendo a todos, muito bom filme!
Fonte:
Anuário Brasileiro de Segurança Pública
A Melhor Mãe do Mundo | Crítica, é bom? Anna Muylaert
Saiba mais:
INSPIRE: Sete estratégias para acabar com a violência contra as crianças
Fundo para acabar com a Violência Contra as Crianças
Triste comemoração do Dia Internacional da Mulher
“Manas”: um filme impactante sobre uma triste realidade do Brasil