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A criança e seus medos
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A criança e seus medos

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19/01/2015
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separaçao

Ao ser levada a um hospital, a criança, sobretudo a pequena, sempre fica com medos. Na perspectiva dela, os dois – medo e hospital – são termos que se associam facilmente. Que medos são estes? A doutora Angela Mackenzie, no terceiro capítulo (“From a Child’s Perspective”) de seu livro (“Everybody Stay Calm”), publicado em 2014, responde a essa pergunta.

Segundo ela, os medos podem ser inatos ou aprendidos. Nos dois casos, ele “é uma resposta emocional normal a uma ameaça percebida” (p. 30). Para essa autora os medos inatos mais comuns, na criança pequena, são separação, estranhos, dano físico e dor. Os medos aprendidos dependem das experiências, do ambiente em que ela vive. Como veremos, esses medos, de fato, se interrelacionam.

            Separação. A criança pequena se sente parte de sua mãe, e não gosta, tem medo, se sente insegura quando longe dela. Pode ir de bom grado com outra pessoa, mas se algo lhe parece ameaçador quer a mãe de volta e seu “útero”, agora representado por sua casa, quarto e berço. Separar-se, com confiança e autonomia, faz parte do processo de desenvolvimento. No contexto do hospital, a presença da mãe ou de alguém em quem a criança faz, portanto, muita diferença.

            Medo de estranhos. É conhecido o medo de estranhos (pessoas, objetos e ambientes) na criança a partir dos nove meses de idade. Ela prefere o familiar, pois nele se sente auto protegida, conhece e pode antecipar o que vai lhe acontecer. Daí ser comum o medo que tem do hospital, um ambiente estranho, com pessoas usando roupas diferentes e se relacionando de um modo que pode assustá-la. A conduta da mãe, dos médicos, enfermeiros e todas as pessoas que compõem esse lugar, faz muita diferença no difícil enfrentamento desta questão pela criança.

            Medo de danos físicos. Seu corpo, sensações e percepções são as principais referências de uma criança pequena. Ela, de seu ponto de vista, só conta com eles para interagir com o mundo. Daí seu medo em se machucar ou se sentir machucada. Daí seu gosto por brincadeiras de reparação. Daí a importância de os adultos cuidarem e se importarem com respeito, carinho e responsabilidade com aquilo que fazem com o corpo de uma criança. Nada, nem mesmo os compromissos com sua saúde ou educação, justifica a desconsideração desses valores.

            Medo da dor. A criança tem medo da dor. Sente-a como uma ameaça. Chorar, evitar pessoas e objetos que ela supõe vão lhe causar dor, endurecer o corpo, e tantas outras formas de reação são comuns na criança. O hospital, compreensivelmente para nós mas não para elas, é um lugar de dor, ou seja, de recepção de estímulos dolorosos. Por isso, a importância de ele ser humanizado, lúdico, generoso e compassivo com a perspectiva da criança, que ainda não consegue apreender o valor superior de um tratamento, apesar de suas dores.

            Medos aprendidos. Medos aprendidos têm o ambiente em que a criança vive e cresce como fonte principal para seu desenvolvimento. Os medos inatos, que acabamos de resumir, são tendências que podem se expressar, ou não, dependendo das circunstâncias que facilitam sua emergência. Os medos aprendidos são associações que a criança faz em função de comportamentos e atitudes das pessoas e do ambiente onde vive. São respostas emocionais que organizam suas ações frente a ameaças, indiferenças, faltas de cuidado e de carinho das pessoas, coisas e lugares. Expressam modos de elas reagirem ao estresse, muitas vezes tóxico, produzido por um ambiente e pessoas insensíveis, doentes, ou não habilitadas para cuidarem delas e serem suas fontes de referência.

Inatos ou aprendidos os medos haverão de organizar e definir, para muitos de nós, as pautas de nossa conduta frente ao mundo e às nossas escolhas. Que nós, os adultos, saibamos observar e proteger as crianças de seus medos e lhes darmos a confiança que precisam para se desenvolver e, quem sabe, serem mais felizes. É que o medo exagerado, quando organizador das condutas, pode parecer protetivo, mas limita nossas possibilidades de ser e estar no mundo, com as pessoas e sobretudo com nós mesmos. O hospital e os profissionais que nele atuam são, por isso, boas oportunidades de as crianças e seus responsáveis conhecerem, respeitarem e, espera-se, suportarem seus medos, fundados ou infundados.

 

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Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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