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Aprendendo outras línguas.
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Aprendendo outras línguas.

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14/05/2018
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Sabia que o hospital pode ser um bom lugar para aprender outras línguas? Sim. Mas não as línguas conhecidas como inglês, alemão, russo. Podemos nos abrir para ouvir e compreender a linguagem de crianças em situação especial e até mesmo podemos aprender com elas a criar novas línguas. Essa pode ser uma das experiências mais enriquecedoras do trabalho que desenvolvemos no Pronto Sorrir. Porque um dos princípios do treinamento dos atores desse grupo é o clown. E uma das habilidades do palhaço é falar em línguas inventadas, afinal, eles são seres muito inovadores.

Em algumas visitas que fazemos encontramos crianças que nasceram entendendo o mundo de outras formas, se comunicando em outras línguas, são as crianças especiais. Elas vieram ao mundo cheias de efeitos especiais. E temos as crianças que por algum motivo de saúde, tem seu sistema neurológico afetado e sua cognição transformada, portanto seu modo de falar, ouvir, se comunicar e interagir com o mundo muda radicalmente. E como nós – seres encantados – temos habilidade para falar em outras línguas, podemos nos entender muito bem com elas.

Falamos em gilberish, gluglunês, blablanês, cocoriquês, onomatopéias, tartaruguês e latim inventado. E nos entendemos? Muito bem! Porque não nos preocupamos mais em pensar de maneira tradicionalmente “lógica”, cartesiana, com frases que tem começo, meio e fim, teorias cientificamente comprovadas, nada disso. Aprendemos que essas crianças têm outra lógica. Lógicas incríveis em que a inteligência extrapola a razão e viaja por atmosferas sensoriais (rítmicas, musicais, melódicas, coloridas, sinestésicas) e sentimentais (alegres, felizes, sensíveis, emburradas, tristes, empáticas, amorosas), altamente criativas, fora das caixinhas, inovadoras, artísticas, livres.

A linguagem dessas crianças é a língua da poesia. Sabe o mundo onírico, o mundo dos sonhos, da mitologia, do inconsciente? Então, essas palavras aqui que eu escrevi são só pra dar uma pequena ideia, porque palavra nenhuma da nossa gramática dará conta da imensidão da inteligência e linguagem libertárias e poéticas dessas crianças.

Mas como podemos acessar seu universo? Como podemos sair do pedestal da nossa gramática e provar essa comunicação tão sofisticada? Primeiramente, precisamos nos interessar por sua expressão, compreender que ambos estamos igualmente aptos a nos comunicar, de formas diversas. E talvez elas possam nos ajudar a sairmos da caixinha, do cabeção, da razão sempre redutora que não acredita muito em na ciência e pouco em poesia.

O milagre aqui é aceitar cada indivíduo como ele é. Sem esperar nada, sem nos frustrarmos com expectativas, aprendendo a ouvir, a receber, a aceitar, a relaxar. Aceitar que um filho de sete anos que mudou completamente sua maneira de habitar o mundo possa e deva ser feliz também. Talvez ele não vá para a universidade no futuro, talvez ele não seja médico, mas, talvez possa ser um grande professor, desde já, te conduzindo a viver o momento presente, sem ter que ser eficaz, nem “bem-sucedido” (o que é ser bem-sucedido né?), nem o mais “inteligente”, nem mais nada. Talvez possamos aprender a relaxar para viver o aqui e agora na PRESENÇA desse ser humano tão especial em sua frente. Que veio te ensinar a falar em outras línguas, a viver uma vida mais lúdica, aprender a brincar de novo, a resgatar a sua criança que é poetisa, artista que está sufocada aí dentro, com tantas camadas de expectativas e ansiedades.

Eis aqui a palavra-chave: brincar. Se você brinca de emitir sons, e se preocupa mais com a musicalidade do que com o significado, você está chegando perto! Se você se abre para ouvir e repetir, imitar os lings, lengs, langs e bluullllll… ah, você está chegando muito perto. E se você sentir prazer em brincar de inventar línguas, aí você chegou, chegou e entrou no mundo dessa criança, que pode ser seu filho, seu neto, seu amigo, seu paciente, não importa, será seu professor sempre!

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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