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O bebê e sua mamadeira
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O bebê e sua mamadeira

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22/10/2014
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Mamar, mamar, mamar é tudo que um bebê necessita e gosta de fazer no primeiro ano de sua vida, que desejamos longa, saudável, feliz e digna. Além da mama da mamãe, dos dedos e outras partes de seu corpo e de outros objetos, ele mama a mamadeira. E como mama!

Como ela é tão especial e presente, vou propor, apoiado em Piaget[1], dois problemas a serem colocados para seu bebê muitas vezes, se ele e você curtirem a brincadeira. Os problemas servem também para observar e compartilhar com a criança algo que nos acompanhará – como desafio – a vida toda: temos necessidade de conhecer as coisas, os objetos e as pessoas que são importantes para nós, que fazem parte de nossa experiência. E conhecer, nesse caso, significa superar a indiferenciação, em favor da diferenciação e integração.

O que é isso? A criança ganha vida na barriga da mamãe, é uma parte, pode-se dizer assim, de seu corpo, está tão vinculada a ela que uma e outra são pura continuidade ou indiferenciação, pois não se distinguem. Depois que nasce, a criança é uma e a mamãe é outra, são duas pessoas, não importa se uma é grande e a outra é pequena. Mas a indiferenciação ou continuidade continua: respiram o mesmo ar, olham-se diretamente quando há luz, e mamar, mamãe e mama ou mamadeira são para o bebê uma coisa só. Reconhecer mamãe e mamadeira como coisas separadas da criança são, pois, duas grandes conquistas ou conhecimentos. E o fato é que isso acontece muito lentamente a partir do sexto ou sétimo mês de vida. Os problemas a serem propostos te permitirão constatar isso! Mas, por favor, não os utilizem como teste ou forma de julgar seu filho ou filha. Considerem-nos como primeiras formas de brincadeiras de esconde-esconde, que tanto deliciam as crianças a partir do oitavo mês de vida.

Primeiro problema. Seu filho ou filha faminto está com a mamadeira cheia de leite. Você esconde a mamadeira totalmente da visão dele ou dela. E, em seguida, volta a apresentar a mamadeira. O que acontece? Como a criança reage? Por suas reações, dá para imaginar que a mamadeira longe de seus olhos, e apesar da fome, continuou existindo para ela, ou é como se tivesse desaparecido?

Segundo problema. Desta vez, você esconde a mamadeira com leite de seu filho faminto apenas parcialmente, ou seja, parte dela é visível para a criança e parte, invisível. Você pode colocar o problema de um modo mais fácil ou mais difícil. No modo fácil, esconde a metade inferior da mamadeira, deixando visível a parte superior, mais importante, que é o bico. No modo mais difícil, faz o contrário, ou seja, é só o fundo que fica visível. Como a criança reage diante destas situações? Ela chora, observa, busca recuperar a mamadeira? O que faz?

Duas observações. Primeira: pesquisas indicam que muitas crianças necessitam de todo o seu primeiro ano de vida para resolverem bem essas duas situações, ou seja, recuperarem, por si mesmas, o objeto escondido. Por que isso é tão difícil para elas? É que demora muito tempo para aprendermos a ver com os “olhos” de dentro de nós, os olhos da imaginação. É como se só existissem os “olhos” da percepção. Segunda: Superar, pouco a pouco, a indiferenciação – algo só existe se em contato direto, visual, comigo – abre o caminho da diferenciação, conquista que só alcançaremos, para certas coisas, a partir dos sete anos. Por igual, a diferenciação abre o caminho para a integração, ou seja, para aquelas situações em que o outro e as coisas, estão lá fora, mas também dentro de nós, e podem se expressar como conhecimento, amor e respeito, e podem organizar nossa vida de um jeito ou outro. É para esse futuro que o presente de seu filho ou filha precisa ser bem cuidado.

Leia também: O cuidar de si na criança pequena

[1] Jean Piaget, A construção do real na criança. São Paulo: Ática, 1967. p. 48-50.

Atualizado em 15 de julho de 2024

Dr. Lino de Macedo

Dr. Lino de Macedo

Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). É presidente da Academia Paulista de Psicologia e professor emérito do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Integra a Cátedra de Educação Básica do IEA (USP) e é assessor do Instituto PENSI.

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