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O tempo, a criança e os pais
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O tempo, a criança e os pais

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10/09/2015
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tempo

Tem uma cantiga no estilo parlenda que diz o seguinte: “O tempo perguntou ao tempo, quanto tempo que o tempo tem? E o tempo respondeu ao tempo, que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem”. Mais que um trava-línguas, esta rima é um alerta: Será que estamos dando às crianças o tempo que elas precisam?

Eu, como muitas mulheres que se dividem em vários papéis, tenho que administrar tantas tarefas no dia a dia que os minutos precisam ser todos bem aproveitados. Mas eu sou adulta, com todas as minhas habilidades motoras e cognitivas desenvolvidas e, acima de tudo, responsável pelas conseqüências de uma agenda super lotada.

Entretanto, os especialistas em desenvolvimento infantil concordam que o tempo da criança é outro, bem diferente e necessariamente bem mais elástico que o nosso.

Desde quando nascem os bebês precisam adaptar-se a muita novidade. É um turbilhão de coisas acontecendo e para processar tudo isso, ele precisa de momentos sem estímulos.

Conforme cresce, a criança aguça a curiosidade e têm sua própria noção do tempo, que é completamente diferente da noção do relógio. Até pelo menos 7 anos, é difícil estabelecer mentalmente quanto tempo são 5 minutos ou uma hora. É muito relativo. E a vontade de descobrir o mundo, de absorver tudo faz com que a criança pare para ouvir um barulho novo, para observar uma formiga na rua, ou para criar a próxima brincadeira de faz de conta. E nisso tudo, elas clamam para não serem apressadas por nós, adultos.

E vamos concordar que ninguém gosta quando, por exemplo, precisa acelerar aquele filme maravilhoso que está assistindo (ou parar na metade) porque o tempo acabou e é preciso ir trabalhar. Que frustrante! Imagine para uma criança!

Como agir

Então não adianta acordar em cima da hora e ficar esbravejando e apressando a criança para se vestir depressa, comer correndo e escovar o cabelo enquanto coloca os livros na mochila. “Faltam 3 minutos! Anda! Está atrasado 2 minutos! Não escutou? Eu disse 2 minutos!” A responsabilidade sobre o tempo da criança é nosso e não deles.

Outro ponto importante que os especialistas destacam é o desenvolvimento puro e simples das habilidades. Uma criança leva mais tempo para escovar os dentes ou calçar um sapato. Como leva mais tempo para entender uma informação nova. Então, nada de competir no dia a dia, esquecendo-se disso, e achando que ela terminará uma tarefa ao mesmo tempo que você.

Minha sócia no Tempojunto, a Patricia Camargo, tem uma experiência pessoal sobre este tema. O primeiro filho dela, hoje com 6 anos, foi ensinado desde pequeno a fazer as coisas na velocidade dos adultos para acompanhar o ritmo dos pais. Mesmo nos momentos de brincadeira e lazer, tudo era muito depressa, muito intenso. O resultado é que ele ganhou já sua cota de ansiedade, come depressa demais e se concentra pouco.

Na casa da Patricia isto mudou. E o respeito ao tempo dos filhos (hoje ela tem três) norteia as atividades. Com isso, o nível de ansiedade de todos diminuiu. Então, se você se identificou com alguma coisa neste texto até agora, aqui vão algumas dicas importantes.

  1. Respeite o ritmo da criança:

A criança precisa de mais tempo que o adulto para praticamente tudo. Esta é uma realidade imutável. De atravessar a rua a resolver uma lição de casa ou a finalizar uma brincadeira. Então, pare e observe o ritmo do seu filho. E estabeleça os horários e horas necessárias para cada atividade a partir disso.

  1. Não crie agendas impossíveis:

Quanto mais atividades na agenda, mais ansioso, estressado e até agressivo seu filho será. E ninguém quer isso. Será mesmo necessário 3 aulas extras por semana aos 3 ou 4 anos? “Mas ele gosta”. Claro que sim. Crianças gostam de várias coisas, mas quem define o que convém são os adultos.

Certamente seu filho não será mais ou menos capaz de desenvolver uma ou outra habilidade se ele começar a praticá-la mais tarde. Por outro lado, se ele tiver uma agenda compatível, certamente será mais capaz de viver cada momento e identificar o que é importante.

  1. Respeite a necessidade de pausa e descanso:

A receita infalível para um desastre familiar é “pular” de um evento a outro com seu filho, sem respeitar o direito que ele tem da pausa, do descanso. Pode esperar muito choro, manha e malcriação. Pudera, ninguém pode ser feliz e educado quando está cansado, irritado e mal humorado.

Por isso, adapte sua vida social às necessidades da criança. Proporcione condições para que ela volte par casa entre uma atividade e outra. Dê o tempo da soneca, ou o descanso sem nada programado. O ócio faz bem. E se esforce para garantir as horas de sono necessárias.

Por mais que isso possa custar à sua agenda, você vai agradecer o resultado no futuro.

  1. Dê ao tempo o que o tempo tem:

Isso é fundamental. Dê a seu filho tempo. Tempo para brincar, para entender, para descobrir, para seguir seu ritmo. Tempo para conhecer, para experimentar e para fazer as coisas de forma independente. Ensine-o a valorizar o tempo do ócio, o tempo da imaginação, o tempo de respirar fundo. Você estará dando um dos presentes mais importantes para ele: a viver, em lugar de ser atropelado pela vida.

E no fundo, no fundo, nós adultos, também precisamos de tempo. Para processar as coisas, para entender algo novo, para se adaptar a mudanças ou simplesmente para nos enchermos das alegrias do mundo. Porque com as crianças precisa ser diferente?

Patrícia Marinho

 

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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