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E o uso da imagem das crianças? Um pouquinho de polêmica…
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E o uso da imagem das crianças? Um pouquinho de polêmica…

E o uso da imagem das crianças? Um pouquinho de polêmica…

18/09/2014
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Nos últimos dias temos podido acompanhar a discussão sobre a polêmica das fotos das meninas em poses sensuais veiculadas pela revista Vogue Kids. Errado, certo, posições à parte, essa questão nos leva a uma outra, antiga, talvez de sempre, mas que atualmente ganha formatos instantâneos com abrangência até mesmo mundial. Qual o direito dos pais de utilizar a imagem de seus filhos? O que vimos nesse editorial de moda foi uma autorização pelos responsáveis das crianças para que elas pudessem ser expostas nessas fotos. Sim, pois se trata de crianças de 10 a 13 anos que não tem esse poder (e até mesmo discernimento) para tal. Não se trata somente de falar desses adultos, mas da maioria dos pais hoje em dia que dispõem da imagem de seus filhos a seu bel-prazer. Refiro-me àqueles que postam desenfreadamente fotos, imagens, até mesmo comentários e histórias do dia a dia de seus filhos nas redes sociais.

Não pretendo tomar partido ou posição contra ou a favor, mas apenas polemizar para que haja uma reflexão e se possível uma discussão sobre o assunto. Quando disse que isso sempre existiu é verdade, podemos ver em museus imagens, quadros, reproduções de várias crianças, certamente feitas pelos desejos de seus pais. Hoje em dia a diferença é a rapidez e o alcance. Uma foto pode estar disponível nas redes sociais em segundos, e poderá atingir (potencialmente) o mundo inteiro. Sabemos que uma foto que “cai na rede” dificilmente sumirá dado o seu poder de replicação. Ela torna-se eterna, permanente.

Será que os pais têm esse direito de veicular seus filhos a seu bel-prazer? Será que têm o direito de montar páginas com e sobre eles? Quantos bebês já nascem com páginas no Facebook desde que estavam ainda na barriga de suas mães. Filhos lindos, em momentos felizes, orgulhos de seus pais, que querem compartilhar dessa alegria mostrando ao mundo o quanto seus rebentos são maravilhosos. Esse exibicionismo não perpassa pela posição dos pais em poder mostrar aos outros o quanto sabem fazer filhos lindos, felizes? Não se enganem, não que seja errado, mas é uma satisfação muito mais pessoal do que dos filhos. Há um quê de Narcisismo nesse ato. As crianças, os bebês não são expostos para serem mais felizes, mas para serem compartilhados, desfilados por seus pais. Há algum benefício para esses pequenos? Devemos parar para pensar.

Podemos achar bonitinho, lindo, fofinho postarmos fotos de nossos filhos em situações que consideramos legais, mas o que eles, no futuro acharão de terem sido expostos dessa forma para que todos pudessem ver? Talvez não gostem. Talvez preferissem ter o poder de escolha, de decidir como, com quem e quando compartilhar seus momentos. Quantas vezes somos discretos conosco, nossas vidas, não “espalhando por aí” tudo o que nos acontece, mas com os filhos será que há esse cuidado?

Pior ainda, e sabemos de vários casos pela mídia, são aquelas situações em que pais aproveitam das redes sociais usando a imagem de seus filhos numa forma de punição, espalhando para todos o que estes fizeram de errado. Quantos pais utilizam desse artifício para castigar seus filhos expondo-os em situações vexatórias ou desagradáveis porque não obedeceram, ou não se comportaram?

É um assunto sério, que precisa ser refletido e que no dia a dia ocorre de maneira totalmente ingênua, sem compromisso. Esquecemos que existe um compromisso sim, com o futuro. Com o futuro dessas crianças que, muitas vezes desde bebês, já tiveram sua imagem divulgada para tantos. Que quando forem adolescentes, fase difícil, poderão ficar muito chateados de terem tido sua vida dividida com tantos sem que pudessem decidir se queriam ou não que compartilhassem dela. Será que os pais têm esse direito, essa propriedade sobre seus filhos, de se utilizar de suas vidas, de seus momentos e imagens? Há um sujeito, criança, bebê ou não, que está em jogo e talvez não sendo respeitado como tal.

As redes sociais, a globalização, a “internetização”, as mídias impressas que podem ser acessadas de qualquer computador digitalmente são fatos presentes, importantes e uma realidade (vide eu escrevendo nesse blog), mas ainda recente, com um desenvolvimento rápido e espantoso, que como tal leva a novas situações que ainda não sabemos como lidar. Todo um posicionamento, uma etiqueta e acima de tudo, uma ética, tem que ser desenvolvida e assim o está sendo feito, mas não na mesma rapidez com que a tecnologia se desenvolve, o que nos leva a situações, questionamentos, que devem ser pensados e refletidos.

Segundo o Art. 17, do Estatuto da Criança e do Adolescente, “o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”. Com o maior amor, orgulho e carinho, sem dúvida nenhuma, será que muitos pais, não estão se esquecendo disso? De respeitar a imagem desses seres?

Não estou criticando ou apoiando, apenas levantando alguns aspectos que, espero, façam com que os pais numa próxima oportunidade tomem a decisão de utilizar ou não a imagem de seus filhos de uma maneira mais consciente de sua posição, pensando a esse respeito.
Pulicado por Instituto Pensi

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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