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Mentira ou faz de conta?
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Mentira ou faz de conta?

Mentira ou faz de conta?

20/07/2016
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Marina, de três anos, é surpreendida em seu quarto pelo grito de espanto de sua mãe diante de tanta bagunça. Todas as bonecas, panelinhas e peças de jogos espalhadas por todos os cantos. Ela nem hesitou quando disse: “Mamãe, uma bruxa veio aqui e fez toda esta bagunça!”

Nessa hora, toda mãe não sabe se ri ou se chora frente a tamanha esperteza dos filhos. Na realidade, Marina, como muitas outras crianças entre dois e seis anos de idade, inventa muitas histórias, que para o adulto, a partir do seu repertório de gente grande, pode considerar como mentiras. No entanto, nessa fase, a fantasia e a realidade ainda se confundem e a bruxa bagunceira da Marina não é nem de verdade, nem de mentira… É de faz de conta!

A criança pequena vive o imaginário de maneira real. É só colocar uma máscara e uma fantasia que qualquer um pode se transformar em uma linda princesa ou um super-herói “de verdade”. Uma realidade fantasiosa, onde os desejos, os gostos e as vontades se concretizam através da imaginação. Uma cadeira pode virar um carro, um lençol passa a ser um palácio de princesas e um cabo de vassoura uma espada mágica.

Nessa mesma linha de pensamento, aparecem as “mentirinhas”, ainda inocentes, já que nesta fase a invenção não é elaborada no intuito de se livrar de uma bronca ou punição. Isso ocorrerá por volta dos sete anos, quando a criança possui o discernimento entre o certo e o errado, ação e reação, causa e consequência. A partir desta idade, a mentira entra em cena, como uma forma de se safar de um castigo ou de se livrar da culpa por um erro ou até mesmo uma forma de ser aceito pelos amigos.

É na infância que os valores morais, sociais e familiares são apresentados às crianças. Faz parte do desenvolvimento infantil a criança procurar formas de escapar dos combinados e não querer assumir as suas responsabilidades (próprias de cada idade).

A postura da família deve ser de estimular a criança a pensar em outras estratégias e formas de assumir o erro ou consequência dos seus atos sem tirar o corpo fora. Quando a criança disser a verdade, mesmo tendo feito algo errado, é importante que se reconheça e valorize o fato de ela ter assumido a culpa, sem minimizar o mal feito. Mas lembrem-se, não adianta exigir do filho que diga sempre a verdade e, ao mesmo tempo, pedir para ele dizer àquela tia chata que você não está em casa quando tocar o telefone. Faça o que digo, mas não faça o que eu faço, não serve no mundo infantil. Nesta fase, vale mais um bom exemplo do que vagas palavras.

Na fase pré-escolar, onde a mentira está mais associada ao faz de conta, os pais podem aproveitar o mesmo recurso fantasioso para transmitir a mensagem à criança. No caso da Marina, a sua mãe poderia dizer: Então, vamos mostrar para esta bruxa bagunceira como deixar o quarto arrumado, para que ela aprenda esta lição! E assim, a criança será incluída na consequência de sua ação, sem  a necessidade de apontar o dedo para ela.

Algumas histórias infantis, onde o tema principal é a mentira, podem ajudar os pais das crianças mais velhas. Pedro e o Lobo, por exemplo, sobre o menino que mentia tanto que quando falou a verdade ninguém acreditou, consequência natural de todo mentiroso. E Pinóquio, a famosa história do menino de madeira que quando não falava a verdade o seu nariz crescia, assim como a mentira, que muitas vezes começa pequenina e cresce sem controle.

E se, na infância, a mentira tem perna curta, o ditado popular não condiz com a adolescência. Infelizmente, é comum nos noticiários jovens que mentem para os pais e acabam indo longe de casa, se envolvendo em situações de risco e perdem a vida em meio a tanta violência. O repertório do adolescente se torna muito mais elaborado e convincente, mas regado com ingredientes perigosos: impulsividade, inconsequência e autoconfiança demais.

No entanto, nem toda mentira do jovem gera consequências graves, mas quando se torna constante, pode ser um indício de problemas emocionais ou sociais, podendo ser a forma que ele encontrou de ser aceito pelo grupo ou uma maneira de inventar uma pessoa diferente de quem é (baixa autoestima).

E se na primeira infância mentir só aumenta, de faz de conta, o nariz, é preciso ensinar aos nossos filhos que com a mentira, no mundo real, se diminui a confiança e o respeito, e não há fadas pelo caminho.

Leia também: Existe mentira saudável? Inofensiva?

Atualizado em 18 de setembro de 2024

Déborah Moss

Déborah Moss

Déborah Moss Psicologa, formada pela PUC- SP em 1998 Mestre em Psicologia do Desenvolvimento- USP Especialista em Neuropsicologia CEPSIC-HC Mãe de três filhos- ARIEL 12 anos, PATRICK 8 anos e ALICIA 4 anos.

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