PESQUISAR
Com a rotina atarefada de São Paulo, nós adultos precisamos estar atentos para garantir que as crianças tenham um espaço de brincadeira, pois é brincando que elas se conhecem no mundo e tem a oportunidade de lidar com suas vivências. Esta é uma atividade rica com sentido pleno. Para que o brincar ocorra, é preciso tempo e espaço para que se possa criar a brincadeira com criatividade.
Hoje em dia, para além do tempo corrido de todos os dias, muitas das brincadeiras acabam sendo condicionadas pelos estímulos externos das tecnologias. Este é um brincar pronto que limita as possibilidades do desabrochar da criatividade. O brinquedo brinca pela criança, tirando a possibilidade de ela viver este modo de ser da brincadeira que é livre e que não tem direção pré-determinada. Deste modo, as crianças se tornam menos protagonistas e criativas nas brincadeiras, ocupando um papel de receptora de uma cultura feita para as crianças e não pelas crianças. Este tipo de brincar pronto já está garantido no nosso modo de viver hoje, por isso precisamos garantir uma outra qualidade do brincar, na qual as crianças possam criar.
O brincar que aqui sugiro já começa na montagem da brincadeira: preparar o espaço, criar o enredo, decidir quais serão as personagens etc. O brincar e o processo criativo vem juntos, ambos como linguagens espontâneas tão importantes para o adulto e para a criança. No brincar com brinquedos não estruturados (como corda, caixas de papelão, caixotes de madeira, tocos de árvore, sucatas etc.) garantimos que a criança exerça sua criatividade. Quanto menos o brinquedo já estiver pronto, mais protagonista as crianças serão em suas brincadeiras e, logo, mais criativas. As possibilidades se ampliam no imaginário infantil quando não limitamos suas brincadeiras, e o brincar como atividade plena pode ter o seu ciclo completo, da criação até a execução, no qual tocos de árvore podem ser pontes que balançam em cima de jacarés; os carrinhos podem se transformar no decorrer da brincadeira; ou até na invenção de coletores de chuva para tempos de crise hidráulica.
Leia também: Ao brincar, o que seus filhos fazem?
Por Bruna Mutarelli, formada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo e mestre em Educação pela Universidade do Porto. Foi professora de educação infantil em escolas particulares.
Atualizado em 20 de agosto de 2024