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25/12/2013
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Muitos pais costumam perguntar sobre atrasos no desenvolvimento de bebês prematuros e a importância de acompanhamento psicológico. Não é útil falar deste assunto genericamente, porque esta pergunta é realmente ampla. Vamos abordar apenas um recorte, uma perspectiva bem importante.

Prematuro é um adjetivo que cabe para descrever separadamente órgãos e sistemas de bebês nascidos antes de 38-40 semanas, mas não parece adequado para descrever uma criança, sobretudo um adolescente! A criança que nasceu prematura pode ter consequências da prematuridade. Um recém-nascido pode ser descrito como prematuro, mas uma criança strictu sensu não é prematura.

Essa generalização pode mostrar uma consequência pouco abordada da prematuridade: os pais “prematuros”. Usemos, portanto, o adjetivo a favor da nossa reflexão.

Pais “prematuros”

Seria possível pensar em pais prematuros?

Bem, por um lado, também eles não estavam prontos para todas as questões, desafios e sustos frente ao nascimento do filho. Talvez, os inúmeros sustos tenham feito com que se sentissem despreparados ao ponto de não conseguirem pensar, se reconhecer, reencontrarem-se enquanto casal, profissionais e pais, com seus sonhos e ambições. Talvez, eles só consigam pensar em cateteres, infecções, saturação e ml de leite. Talvez, só exista o presente e o futuro tenha desaparecido de seus sonhos. Talvez… Talvez, não consigam mais sonhar com o filho a termo, com suas conquistas e malcriações, com broncas e limites, pois agora é preciso cuidar, vigiar, proteger e estar atento, muito atento. Todos já sofreram demais, basta, agora será um dia depois do outro.

Pois bem, toda esta avalanche é despejada sobre os ombros de jovens pais e deixa marcas que, contudo, como as da criança, precisam ser ultrapassadas.

O excesso e a intensidade de cada notícia boa ou ruim provoca uma perturbação tão grande no psiquismo dos pais que algumas formas de proteção são necessárias. Por exemplo: muitos pais vivem a sensação de estarem divididos ao meio – uma parte deles está frágil, destruída, enquanto outra está forte, presente. Ocorre uma espécie de desdobramento que pode atingir os pais na maneira como se sentem e se veem, em sua identidade, gerando angústia e estranhamento, uma espécie de desorientação vivida em uma montanha-russa emocional.

Este mesmo desdobramento pode atingir também a forma com os pais veem o filho: eles ora convivem com o bebê saudável e querido e ora com aquele que mal conseguem olhar, focando sua atenção nos parâmetros, no órgão atingido, constantemente preocupados.

Se é verdade que por alguns anos a criança precisará de cuidados e atenção, também é verdade que ela não será prematura para sempre. Pode haver sequelas e, apesar delas, nem tudo é ‘culpa’ da prematuridade e os pais não precisam estar em alerta para sempre! Eis onde podem começar os problemas: quando a prematuridade não vai embora…

É importante que a criança tenha um acompanhamento psicológico desde cedo?

Não, de forma alguma. O psicólogo será útil se surgirem angústias excessivas na relação pais-criança e, sobretudo, se pais ficarem centrifugados pelo risco e susto que passaram.

A dica é que, mesmo atentos aos riscos e problemas, os pais tentem sempre organizar pedacinhos de rotina semelhante aos de qualquer criança, suportando pequenos (e onipresentes) riscos e toda a fantasia e culpa que eles geram.

Quanto ao bebê. Sabemos que um bebê tem poucos referenciais. A gente se sente seguro em casa, em família, dentro do carro… O bebê, por sua vez, se sente seguro se tiver mantidas algumas regularidades de presença, temperatura, ritmos, odores, vozes e, por último, elementos visuais – que necessitam grande concentração do bebê. Se você não sabe o que seu bebê ouve ou compreende, e não pode tocá-lo quanto gostaria, crie um carinho que só você faça nele, invente uma repetição que lentamente seja uma marca exclusiva da sua presença.

Os pais têm o dom e a chance de criar boas marcas e memórias. Disto não podemos esquecer!

Leia também: Cuidados essenciais para bebês prematuros: a importância do acompanhamento familiar

Atualizado em 24 de maio de 2024

Dra. Gláucia Faria da Silva

Dra. Gláucia Faria da Silva

Psicóloga e psicanalista há mais de 30 anos, com mestrado e doutorado pelo Departamento de Psicologia Social do IP-USP. Coordenou o Serviço de Psicologia Hospitalar do Sabará Hospital Infantil de 2012 a 2021. Dedica-se diariamente a aprender a escutar os ecos da alma: no movimento, no olhar, na fala, no brincar.

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