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As crianças e a empatia em tempos difíceis
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As crianças e a empatia em tempos difíceis

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18/05/2016
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O momento delicado que estamos vivendo em nosso país faz repensarmos muitas de nossas práticas. Afinal, somos parte do todo e o todo é parte de nós. O que aparece no macro é reflexo de muitas pequenas ações. De nosso dia a dia, desde o “bom dia” para o padeiro que te entregou o pão, ao olho no olho nos diálogos e discussões. Pois, se não pensarmos nos gestos pequenos, nos sentimos impotentes para transformar o grande.

Por isso, nestes dias conturbados me peguei pensando no trabalho com as crianças e dentro de muitos assuntos, na empatia.  Quando digo empatia, quero dizer em conseguir “emergir no mundo subjetivo do outro e de participar na sua experiência, na extensão em que a comunicação verbal ou não verbal o permite. É a capacidade de se colocar verdadeiramente no lugar do outro, de ver o mundo como ele o vê” (Carl Rogers).

A empatia só pode acontecer quando se está em grupo, e este é um dos pilares do trabalho na Casa Ubá. Recebemos grupos de crianças que se encontram, se conhecem e se reconhecem a cada dia. As crianças de diferentes idades tem a oportunidade de estar juntas num lugar para, e feito por elas. Elas estão implicadas em se relacionar. E se relacionar é difícil, ter que olhar para fora, para as vontades dos outros, para as igualdades, para as diferenças, ter que ceder e por vezes ter que se afirmar, se colocar…e se propor a achar modos de se relacionar. Neste trabalho nós adultos temos a tarefa de garantir este espaço, de estabelecimento de relações, e com isso possibilitar resolução de conflitos, de reconhecimento do outro e de si e de desenvolver empatia.

As crianças constroem modos de se relacionar que são próprios delas, estes modos muitas vezes  se dão pelo corpo, quando uma empurra a outra para pegar um brinquedo; pelo imaginário, quando utilizam parte do faz-de-conta para se explicarem; e pela fala.   

Uma cena pode ilustrar este espaço e como as relações que nele acontecem:

Num dia frio uma criança demorou para conseguir despedir-se de sua mãe. Quando conseguiu, chorou e não queria companhia (nem de nós adultos e das crianças do grupo). Sentou-se num cantinho e respeitamos sua tristeza. Depois de um curto tempo uma criança se aproximou:

Criança 1: “Porque você está chorando?”

Criança 2: “Não.”

Criança 1: “Você tá chorando?”

Criança 2: “To.”

Criança 1: “Quando eu choro minha mãe fala pra eu respirar três vezes, ou pra eu pensar em uma coisa legal.”

(Silêncio)

“Tipo o bolo que a gente fez outro dia” (fala ao mesmo tempo em que se senta ao lado da outra criança)

(Silêncio)

Criança 2: “Eu gosto de bolo. E gosto também de chocolate e de cenoura.”

Criança 1: “Não gosto de cenoura.”

(Uma criança deu a mão para a outra e foram brincar.)

Nesta cena penso que o primeiro impulso adulto seria tentar solucionar o choro conversando  com esta criança: que sua mãe já volta, que ela vai ficar bem no grupo, etc. E nós tentamos, oferecemos ajuda e ela não quis naquele momento e sabia que estávamos prontos para ajudá-la quando quisesse. Então respeitamos o tempo dela. A criança que se aproximou pode dar o conforto que ela queria, dizendo de suas estratégias para se acalmar, oferecendo-lhe sua mão e desta vez ela aceitou. Talvez tenha se identificado com a outra criança. A criança que ajudou se implicou em estar com o outro que estava precisando de um apoio,  olhou para o coletivo, soube escutar e estar em silêncio. Cuidou de seu colega e ao cuidar dele cuidou de si e do grupo. Houve empatia.

Em tempos de crise é preciso garantir este espaço de olhar, escutar, compreender, refletir, dialogar… não só por si, mas também pelo coletivo.   

Bruna Mutarelli

Bruna Mutarelli

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