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“Como conversa?”: a potência da convivência entre pares
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“Como conversa?”: a potência da convivência entre pares

“Como conversa?”: a potência da convivência entre pares

05/04/2017
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Nosso conhecimento não era de estudar em livros.

Era de pegar de apalpar de ouvir e de outros sentidos.

(…)

A gente não gostava de explicar as imagens porque explicar afasta as falas da imaginação. 

Manoel de Barros

Foi no começo do ano, uma criança que tinha entrado na Ubá há pouco tempo teve seu brinquedo puxado de sua mão por outra. Ela ficou brava e deu um tapa nas costas daquela que lhe tirou o que estava usando. Uma das educadoras estava por perto e no intuito de mediar a situação disse, entre outras coisas: “Você pode conversar com ele e explicar o que incomodou para resolver seu problema”. Ao que a criança, de 2 anos e meio, responde: “E como conversa?”.

Uma pergunta aparentemente simples, mas que nos diz muito sobre aquela criança específica e sobre as que estão iniciando um processo de socialização com outras crianças.

No início do semestre, recebemos muitas crianças novas na casa. Crianças estas que em sua maioria estão iniciando a experiência de socialização sem a presença de seus responsáveis diretos, pais e mães. Muitas vezes também, elas convivem pouco com pessoas de mesma idade ou até próxima. Os familiares nos dizem: “Nós brincamos bastante juntos, em casa, praças e parques.”. E isso é ótimo. No entanto, gostaria de trazer à reflexão, ainda que brevemente, uma diferença importante entre o brincar de uma criança com um adulto, e do brincar entre duas ou mais crianças: a existência ou não de conflitos e a consequente possibilidade de criar estratégias para resolvê-los, com ou sem ajuda dos adultos.

Quando os familiares nos relatam esses momentos de brincadeira com seus(suas) filhos(as) é comum que comentem também que vão entrando na fantasia da criança, aderindo ao que ela propõe, aceitando os papeis que lhe são dados, basicamente, em sua maioria, topam quase tudo que lhe é sugerido. Os pais ou as mães raramente dizem a eles(as): “Eu que estou usando essa bola agora.”, “Eu que quero o pano vermelho.”, “Não, eu que quero ser a mãe na brincadeira”. O conflito nas decisões do faz-de-conta praticamente não existem.

Mas e quando a criança passa a brincar com outras crianças? Bem, aí a conversa muda um tanto, pois entra-se num campo de relações entre pares (ainda que ímpares). Pares porque falam as mesmas línguas, as quais podem ser bem diferentes das dos adultos. Os encontros que surgem da relação de pares são únicos, e os conflitos são parte desses encontros. Principalmente às crianças que estão se apropriando da linguagem verbal é importante que vivenciem muitas vezes situações assim para que aprendam “como conversa”. Não será somente uma resposta do adulto, mas sim a vivência com outras crianças, a observação de outras relações entre pares que alimentará esse repertório. Por isso é tão preciosa no nosso projeto a convivência entre idades diversas. É na relação entre pares que elas poderão experimentar dialogar e resolver os conflitos que surgem no faz-de-conta.

E é preciso, da parte dos educadores, confiança, observação, paciência. Isso porque as crianças encontram formas de resolver conflitos que seguem lógicas diferentes da dos adultos. Elas são capazes de diluí-los.

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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