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No Simpósio de Alergia Alimentar e Gastroenterologia, o gastroenterologista pediátrico Ricardo Toma, do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo (USP), destaca a variedade de distúrbios alimentares relacionados ao consumo de leite e de trigo, mas alerta para a necessidade de evitar diagnósticos precipitados e a demonização desses ingredientes
Com uma plateia lotada, o Simpósio de Alergia Alimentar e Gastroenterologia trouxe para a comunidade pediátrica importantes esclarecimentos sobre as alergias e demais problemas associados a dois dos principais ingredientes da alimentação da grande maioria das pessoas: o leite e o trigo. Segundo os participantes do painel — realizado no segundo dia (7/10) do 6º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil —, é importante esclarecer que esses alimentos não são em si prejudiciais à saúde humana, mas exigem cuidados em determinados casos.
O responsável por abordar os distúrbios alimentares relacionados ao leite de vaca foi o dr. Mauro Toporovski, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP) e membro do grupo de gastroenterologia pediátrica da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). O principal mote de sua palestra foi justamente estabelecer as diferenças entre a intolerância à lactose, mais conhecida do grande público, e a alergia à proteína do leite de vaca (APLV).
“A intolerância à lactose é uma deficiência enzimática em que o organismo não consegue realizar com facilidade a hidrólise (reação química caracterizada pela quebra de moléculas em partículas menores na presença de água) da lactose, que é o açúcar do leite, enquanto a alergia à proteína do leite de vaca (APLV), como o próprio nome diz, está relacionada ao mecanismo imunológico”, esclarece Toporovski.
Segundo ele, a intolerância à lactose costuma se manifestar apenas a partir da infância e da adolescência e pode ser controlada com a restrição a determinados alimentos derivados de leite e com o emprego de lactase por via medicamentosa. A APLV, por outro lado, pode se manifestar ainda durante os primeiros meses de vida, com reações ao próprio leite materno, e exige medidas mais drásticas, como a exclusão total da proteína do leite da alimentação e a adoção de substituições e dietas mais adequadas.
Nesse mesmo seminário, o dr. Ricardo Toma, coordenador da Unidade de Gastroenterologia Pediátrica do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo (USP), tratou dos diversos problemas relacionados à ingestão do glúten presente no trigo, destacando sempre que o ingrediente em si não é prejudicial à saúde humana, mas pode apresentar reações adversas em alguns organismos específicos. “O trigo é um bom alimento, que vem sendo usado há milênios pela humanidade e com poucas pessoas apresentando problemas após o seu consumo”, alertou.
O médico destacou ainda que há uma grande variedade de doenças relacionadas à ingestão de glúten, sendo que a maioria delas é confundida com a principal e mais popular, a doença celíaca. Além dela, há problemas como a síndrome do intestino irritado, a intolerância ao glúten não celíaca e a alergia IgE. Na suspeita de qualquer um desses casos, destaca o dr. Toma, o paciente não deve interromper o consumo de glúten até a conclusão do diagnóstico, sob o risco de atrapalhar a própria identificação do problema.
Por Rede Galápagos
Foto: Agliberto Lima
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