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O (des)conforto do silêncio
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O (des)conforto do silêncio

O (des)conforto do silêncio

21/06/2016
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                                                                                   “Sabemos muito mais do que podemos falar, entretanto quase chegamos a acreditar que o que falamos é tudo o que sabemos.”

Yi Fu Tuan

Você entra no elevador, tem outra pessoa: silêncio. Você é o primeiro a chegar numa festa, não conhece muito bem o aniversariante: silêncio. O professor pergunta algo durante a aula, ninguém responde de primeira: silêncio. Uma criança faz uma pergunta, você não sabe a resposta: silêncio.

Em fevereiro participei de um encontro promovido pelo Instituto Alana e pelo projeto Território do Brincar, foi o primeiro de uma série chamada Diálogos do Brincar. Na ocasião, Renata Meirelles e David Reeks falaram sobre o projeto e sobre o brincar. Uma pessoa perguntou se eles tinham visto diferenças entre o brincar na cidade e no interior e Renata respondeu: “A maior diferença que percebemos é que nas brincadeiras da cidade se fala mais. Há uma necessidade de falar.”

Essa fala está ecoando em mim desde então. Comecei a prestar mais atenção no quanto as crianças falam em suas brincadeiras na Ubá, e mais ainda, no quanto os adultos falam com as crianças. Quando estão brincando, é comum os adultos perguntarem o que estão fazendo e, se as crianças não respondem, vão dando opções. Se estão comendo, puxamos assuntos, não paramos de fazer perguntas. Será uma necessidade realmente necessária, a de falarmos tanto?

Nas últimas semanas na Ubá os lanches tem sido menos falados. Hoje uma criança escutou um latido de cachorro, ficamos todos tentando saber de onde vinha o latido. Nessa procura, olhamos para as casas vizinhas, demos atenção à escuta, fechamos os olhos para ouvir melhor. Temos dado uma nova atenção aos momentos de não-fala: quando não se fala, se escuta melhor.

Veja, não estou falando de não conversar com as crianças, mas propondo que deixemos mais momentos de suspensão, de silêncios que não mais nos incomodem, mas que sejam sentidos como respiros. Nesse mesmo encontro de que falei, ambos falaram da importância de deixarmos o espontâneo emergir nas crianças, das potências aparecerem. Como será possível se o tempo todo estamos preocupados em ocupar o silêncio?

É urgente que as crianças tenham mais tempo na vida sem pessoas o tempo todo conversando com elas. Como diz Yi Fu Tuan, “as atividades rotineiras e tarefas usuais não exigem pensamento analítico. Quando desejamos fazer algo diferente ou que sobressaia, necessitamos então parar, considerar, pensar.”

É possível haver conforto no silêncio?

Leia também: O adulto observador: a opção pelo silêncio

Atualizado em 16 de setembro de 2024

Lilia Standerski

Lilia Standerski

Lilia Standerski é formada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo. Trabalhou muitos anos como professora de Educação Infantil e cursou Pós-Graduação em Educação Lúdica no ISE Vera Cruz. Em agosto de 2015 abriu, junto com uma colega, a Casa Ubá ( www.casauba.com.br), um lugar que desenvolve tempo e espaço para as crianças ampliarem a capacidade de compreender a si mesmas e aos outros por meio de brincadeiras e investigações que surgem nos encontros.

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