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Homens e mulheres inventaram a humanidade, a linguagem. Com o passar do tempo, abandonar os enfermos não fazia mais sentido. Porém, apesar dessa mudança comportamental, os hospitais, da maneira como se configuram hoje, são uma invenção relativamente recente, datam do final do século XVIII, aproximadamente.
A palavra hospital vem do latim hospes, que significa convidado; algumas derivações de hospes são: hospitalis, hospitaleiro e hospitium, casa de hóspedes. Em sua origem remota, esses lugares recebiam visitantes ou estrangeiros. Os hospitais desenvolveram-se ao longo do tempo, destinando-se ao abrigo e cuidado de doentes, em um primeiro momento como um lugar para apaziguar o sofrimento e, só mais tarde como um instrumento terapêutico, espaço de desenvolvimento de sistemas e tecnologias de atendimento, tratamento e cura.
O que me intriga ao observar o hospital em meio à cidade são os muros que o cercam. Eles parecem separar as pessoas que estão lá dentro das pessoas que circulam ao seu redor. Mas, outros espaços da cidade são cercados por muros e nem sempre nos afastam. Concluo, então, que não são os muros que separam as pessoas. Penso com mais cuidado:
– Bom, lá dentro estão profissionais da saúde, pacientes, acompanhantes e funcionários. Logo, quem não for profissional da saúde, paciente, acompanhante ou funcionário não está no hospital.
Instantaneamente, penso em mim e nos meus colegas do Pronto Sorrir. Ora, não somos profissionais da saúde, pacientes, acompanhantes ou funcionários e visitamos o hospital semanalmente. O que nos aproxima desse espaço, das pessoas que o habitam temporária ou permanentemente?
Enquanto artista, acredito que é essa eterna sensação de ser estrangeira em meio à multidão, é essa necessidade básica de encontro com o outro – eu me identifico, me reconheço no outro e com ele me transformo. Há uma urgência pela (re)invenção do cotidiano, das relações com as pessoas e com o espaço, (re)invenção do tempo.
Nem os muros do hospital, nem muro algum, afasta o artista da vida. Onde há vida, há arte, há encontro, presença, sensibilidade e, vida compreende uma infinidade de experiências – de alegrias, de tristezas, de nascimentos, de curas e de mortes também. É a partilha desses momentos, é a escuta nesses momentos que nos fortalece e nos leva a todos adiante. Uma travessia intensa esse dia a dia no hospital.
E as crianças? Essas criaturas curiosas e disponíveis para o novo são mestres, bússolas: quando me sinto perdida, consulto-me com cada uma delas e recebo orientações para seguir com mais afeto pelos caminhos. Essa vivência é complexa e a cada visita, agradeço o novo aprendizado, a cada aprendizado, agradeço a oportunidade de ampliar minha compreensão do que é e do que pode ser um ser humano.