PESQUISAR

Sobre o Centro de Pesquisa
Sobre o Centro de Pesquisa
Residência Médica
Residência Médica
A história que cada um carrega ou deixa.
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp
A história que cada um carrega ou deixa.

A história que cada um carrega ou deixa.

15/11/2017
  3173   
  1
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp

Hoje vou descrever uma série de acontecimentos, para contar uma história que vivemos no Hospital Infantil Sabará.

Estávamos em mais um dia de trabalho dentro da UTI, entrando em portas que nos levavam para histórias diferentes e encontros singulares. Caminhando pelo corredor, vimos uma certa porta que estava com uma fresta aberta e que nos permitia espiar quem estava ali dentro. Para a nossa surpresa, era uma menina- moça que aparentava ter os seus 16 ou 17 anos, já mais velha do que as crianças que costumávamos conhecer no hospital.

Entramos  com a suavidade que aquele encontro merecia, pois a comunicação se dava através de coisas muito  sutis, como: um olhar, um tom de voz, uma respiração, um arrepio na pele, um sorriso passageiro, um piscar de olhos.

Foi um encontro intrigante e enigmático, por conta disso fomos procurar saber mais daquela menina-moça. Fomos informados que ela estava no hospital desde que nasceu, que nunca tinha estado fora daquele edifício, e que poucas vezes recebia visitas, que aconteciam em datas comemorativas como Natal e aniversário e que adorava a hora do banho e, principalmente, de lavar os cabelos e receber a massagem de um enfermeiro que a conhecia muito bem.

Juntos com a equipe de humanização e psicologia do Hospital Infantil Sabará fomos mais a fundo em histórias de residentes do hospital e descobrimos mais duas meninas com um caso parecido ao da Menina -Moça.

Fomos nos aprofundando nessa relação, criando rituais para esse encontro, por exemplo: o toque era muito importante para marcar a nossa chegada no quarto, isso nos conectava e dava contorno para ela e para aquele encontro, o toque trazia presença para o aqui e agora. Também cantávamos uma música que ela demostrava gostar, pois seu corpo se animava e um sorriso aparecia no canto do lábio  “Xote das Meninas” de Luiz Gonzaga. Nossa conversas eram sobre ela, seu estado naquele dia, novidades que trazíamos da terra encantada, e para ir embora fazíamos uma chuva de beijos com sons bem estalados. Com a repetição desses gestos e a criação de uma rotina para nosso encontro, nós acabamos criando um laço de afeto que lhe dava segurança, confiança e previsibilidade pois ela sabia que voltaríamos em alguns dias, que aquilo era importante  e que aquelas pessoas não sumiriam da sua vida.

A partir desse encontro e das trocas com a equipe  de Humanização, criamos um Livro para a Menina -Moça, que era um caderno com desenhos, escritos, recados e etc que ficava em seu quarto e estava disponível para quem tinha algo para contar da história dela.

Esse livro guardaria sua história de vida, registraria acontecimentos importantes que eram a historia dela. E assim não acabariam no esquecimento ou na dúvida, estariam concretizadas em páginas de um livro. Um livro feito por relações verdadeiras, feito por muitas mãos, pessoas que faziam parte da vida dessa Menina-Moça, personagens importantes que trilharam juntos um caminho e que ajudaram a construir uma história de vida.

Quando a Menina -Moça partiu, o seu Livro ficou. O seu pai pôde entrar em contato com uma história muito viva e cheia de detalhes, pois ela tinha preferências, humores, relações e tudo isso ele pode resgatar com aquele livro. E isso foi motivo de muita emoção para ele e para nós que pudemos ajudar a perpetuar  a trajetória da Menina-Moça que não conhecia o céu, mas que ja tinha ouvido falar dele por outros olhos.

Melany Kern

Melany Kern

Melany Kern é atriz formada em teatro e dança pela PUC e pós graduada em Corpo: dança, teatro, performance pela faculdade Célia Helena. Chapeuzinho Vermelho no Pronto Sorrir, passeia pelo Castelo Sabará à procura de sua avó e do lobo bobo.

deixe uma mensagem O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

mensagem enviada

  • Roberta Brito disse:

    Fiz parte desse conto da Menina Moça e por vezes tive o privilegio de cuidar dela, de trocar sua fralda e de ajudar meus técnicos em seus banhos…..tive a oportunidade de tocá la e de dar um ate logo até o plantão seguinte….
    Hoje a Menina Moça Moça no céu e com certeza deixou sua história de vida marcada em cada profissional que passou naquele quarto e conheceu um pouquinho sua trajetória linda pela vida terrestre. Ate breve Menina Moça!!!!

posts relacionados

INICIATIVAS DA FUNDAÇÃO JOSÉ LUIZ EGYDIO SETÚBAL
Sabará Hospital Infantil
Pensi Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil
Autismo e Realidade

    Cadastre-se na nossa newsletter

    Cadastre-se abaixo para receber nossas comunicações. Você pode se descadastrar a qualquer momento.

    Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade de Instituto PENSI.