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Somos humanos ou somos dentistas?
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Somos humanos ou somos dentistas?

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29/12/2015
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Happy group of kids

Are we human, or are we dentists? Esse é o título em inglês de um artigo publicado em outubro passado pela prestigiosa revista British Dental Journal. O periódico inglês relata as agruras dos profissionais de odontologia que trabalham com crianças e que muitas vezes passam por situações difíceis, decorrentes das condições bucais dessas crianças. Eu entendo bem o que eles querem dizer, passo por isso quase todo dia.

Quando fui para o último ano da faculdade conheci a Odontopediatria, descobri que se eu ensinasse as crianças, desde pequenas, elas teriam um mínimo de problemas bucais e que isso poderia perdurar por muitos anos na vida delas. Contudo, crianças não conseguem perceber a importância da saúde bucal, muito menos os malefícios causados pelas doenças bucais ao longo do tempo, por isso a educação deveria ser priorizada para os pais. Mas percebi, algum tempo depois, que existem mais preocupações na cabeça de muitos adultos e que o fio dental e a escova não eram prioridade.

Não tenho dúvidas do amor que os pais dedicam aos filhos, isso é uma discussão vã, a questão não é de amor o carinho, talvez seja de dedicação em excesso, de superproteção, de falta de tempo, de descompromisso com os bons costumes. Acontece que estamos no século XXI e a criançada ainda apresenta sérios problemas bucais, que seriam facilmente resolvidos com boa orientação. Claro que já melhorou muito, a fluoretação da água, cremes dentais com flúor, acessibilidade, com mais dentistas no mercado e uma maior consciência das famílias, mas ainda é pouco. Todo dia recebo crianças com cáries, necessidade de tratamentos de canal, e dentes cobertos de placa bacteriana. Não é possível que com toda informação circulante os responsáveis ainda ignorem as advertências dos dentistas em relação aos cuidados bucais.

A começar pela dieta, o consumo de alimentos açucarados só aumenta. Refrigerantes, bebidas a base de soja parecem que vieram para substituir a água. Tem coisa errada por aí. Pare e veja seu dia a dia, o que é mais fácil, abrir um pacotinho de salgadinhos ou lavar uma maçã e dar para a criança? É mais fácil abrir um potinho de iogurte petit suisse (e vocês sabem de quem estou falando) ou bater uma bela vitamina com mamão, maçã, banana e laranja no liquidificador, que por sinal é muito mais gostoso? A resposta está na lancheira das crianças.

Quem verdadeiramente convence o filhote a comer frutas, verduras e legumes diariamente. Outro dia um pacientezinho, com seus seis anos de idade, descreveu sua dieta: salsicha, batatinhas fritas, nuggets de frango e Coca-Cola. Olhei para a mãe e ela respondeu: “Doutor, ele só come isso, senão não come nada”. Quase fiquei sem respirar. Qual é o futuro desse menino?

Vamos para a higiene bucal. Quem está mesmo disposto a acordar o príncipe que dormiu no sofá e fazê-lo escovar os dentes e passar o fio dental? Outro dia uma mãe me disse que, como o filho já tinha sete anos ele poderia muito bem escovar os dentes sozinho. Claro que pode, como também pode cozinhar, pilotar a moto do pai, dirigir o carro da família e até assinar os cheques. Eu tenho filhos já crescidos, mas quando eles eram crianças pequenas a conversa lá em casa era outra. Sabe aquela de conferir a lição de casa, fazíamos isso sempre. Considero-me um cara bem aberto, democrático, mas como para criar filhos não existe manual, os meus rezavam da minha cartilha. Fazíamos papel de pais, simples assim. Ah, e não tinha essa de: “estou com sono, escovo amanhã”. Acredito que não desperdicei tempo com isso, pelo contrário, a Marina e o Lucas continuam me amando e com dentes lindos.

Outro quesito é levar a criança ao dentista, assim como para os médicos, essa pratica por vezes vem diminuindo. Não é à toa que os pronto-atendimentos de hospitais infantis vivem lotados. Prevenção, visitas de acompanhamento, que é bom, “tá difícil”. Nos consultórios dos dentistas também. Publiquei um post meses atrás sobre a frequência das crianças nos dentistas, posso até me considerar um privilegiado porque tenho retornos bastante regulares, mas existem pacientes que simplesmente somem do consultório por tempos, e quando voltam: “Meu Pai do Céu”. Não é matemática, mas quase, visitas regulares: boa condição bucal, visitas bissextas: cuidado que aí tem, e isso pode significar dor e infecção de dente.

Nessa hora retorno ao título do post: Somos humanos ou somos dentistas? Posso afirmar com convicção, sou dentista e por isso tento ser o mais profissional por isso, mas como humano sofro junto com as crianças e com os pais quando preciso fazer tratamentos mais radicais, algumas vezes até em hospital, para cuidar das crianças confiadas a mim. Mais profissional possível peço aos papais zelosos por seus tesouros, me deem um presente de Natal, para o Ano Novo: escovem os dentes e passem o fio dental na Turma da Bagunça.

E para não desconsiderar o apreço que tenho pela amizade de vocês, uma mensagem de Jesus, o Aniversariante do Mês: “Tudo o que a sua mão encontrar para fazer, faça-o com todo o seu coração”.

Bem, a todos que estiveram por aqui, durante o ano todo, me presenteando com seu apoio, mensagens e sorrisos, meu muito obrigado e um Feliz Natal e Próspero Ano Novo.

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Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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