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Uma das brincadeiras mais utilizadas pelos Child Life Specialists do Sabará Hospital Infantil é o “brincar de médico” (medical play). Crianças, sobretudo quando hospitalizadas, gostam deste tipo de brincadeira.
Antes de comentarmos sobre as características do “brincar de médico”, é interessante refletir, uma vez mais, sobre o brincar em geral, como algo muito poderoso para as crianças. É um recurso poderoso para elas porque, por meio do brincar, as crianças podem interagir, pensar, sentir e dizer as coisas de sua vida, suas preocupações, seus sonhos e fazerem isso nos limites de suas possibilidades cognitivas, afetivas, sociais, culturais, físicas e neurológicas. Ou seja, brincando elas podem entender o seu mundo; podem aumentar suas habilidades sociais e emocionais, podem aprender novos conceitos bem como fortalecerem os já aprendidos, podem fazer perguntas e encontrar respostas nos limites de suas possibilidades de assimilação ou compreensão.
O brincar de médico no contexto de um hospital pediátrico pode se realizar, no mínimo, de duas formas: uma dirigida e outra, não dirigida. No caso da forma dirigida, o profissional orienta e conduz a brincadeira tendo em vista os objetivos a serem alcançados por meio dela. Também neste caso, ele observa e leva em conta as participações da criança, o quanto e o como ela adere ao que foi proposto. Os brinquedos utilizados neste tipo de brincadeira são materiais do hospital, sobretudo aqueles requeridos para o tratamento ou os exames da criança. Os materiais podem ser os “verdadeiros” ou, então, materiais de brincadeira que simulam os realmente utilizados nos procedimentos. O fato é que se monta e se oferece um “kit médico”, o qual possibilita o brincar da criança.
O brincar de médico dirigido ou orientado pelo profissional possibilita preparar a criança – de forma lúdica e nos limites de suas possibilidades de entendimento e de interesses afetivos – para os procedimentos a serem realizados com ela. Ele pode acontecer, também, em situações de pós-procedimento, momento em que a criança pode reviver suas experiências, compreender o que lhe aconteceu e, quem sabe, elaborar seus medos ou apreensões.
O brincar de médico não dirigido permite à criança um brincar livre em que os objetos “reais” ou “simulados” são manipulados por ela da forma como lhe interessar ou convier. O profissional está junto da criança, mas não interfere nos modos como ela estrutura suas brincadeiras. Ao contrário, ele até pode estimular a livre expressão da criança, permitindo-lhe se sentir confortável com o ambiente médico, bem como de invocar, na prática lúdica, o que ela pensa, diz, sente ou age em relação aos objetos e procedimentos que se utilizam em favor de seu cuidado de saúde.
O brincar de médico em sua forma dirigida ou não dirigida traz muitos benefícios à criança hospitalizada. Por intermédio dele, a criança pode reviver ou antecipar sua experiência de tratamento da saúde, nos limites de seu entendimento e condição afetiva, isto é, de seus medos, preocupações, vontade de voltar para casa e para a escola. Trata-se, portanto, de uma alternativa que a criança inventa ou recebe para lidar, de forma lúdica, com o estresse inevitável da situação hospitalar. Possibilita a ela, por igual, familiarizar-se com equipamentos médicos, de forma livre e adaptada aos seus interesses afetivos e possibilidades cognitivas. Com isso, a criança ganha algum controle, em um contexto – o do hospital – em que, compreensivelmente, ela não tem controle sobre sua vida e o que lhe fazem em favor dela (da vida). Como consequência, hospital, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e os tantos outros profissionais que interagem com a criança, por meio de seus instrumentos, procedimentos ou recursos tecnológicos, tornam-se, quem sabe, menos aterrorizadores ou ameaçadores. O brincar de médico permite que a criança torne-se uma participante de seu tratamento e uma colaboradora daqueles que militam em favor do seu sucesso (do tratamento).
Gostaria de concluir esse texto sugerindo ao leitor que veja esse vídeo. Nele, uma Child Life Specialist exemplifica duas formas de se propor à criança que brinque com uma máscara nasal. Em uma delas, ensina-se à criança a fazer bolhas de sabão com a máscara. Crianças gostam muito de fazer bolhas. Trata-se, portanto, de usar criativamente o objeto como um brinquedo interessante de ser utilizado de uma forma não usual. A outra brincadeira consiste em enfeitar a máscara colando pequenos objetos. Ou seja, essas duas singelas situações possibilitam à criança interagir, brincando, com um recurso instrumental muito importante no contexto do hospital e nem sempre bem recebido por ela.
Agradeço a Dra. Sandra Mutarelli Setúbal pela oportunidade de aprender com ela sobre ações dos Child Life Specialists no Sabará Hospital Infantil bem como pelas indicações e discussões de leituras valorizadas por essa especialidade. Sem isso, eu não teria o que dizer sobre a importância do brincar em favor do bem-estar das crianças hospitalizadas e suas famílias. Muito obrigado, Sandra!
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dor na cintura dor de cabeça e dor de pé.