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Criar e educar os filhos: as armadilhas que envolvem
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Criar e educar os filhos: as armadilhas que envolvem

Criar e educar os filhos: as armadilhas que envolvem

01/10/2015
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Criar filhos não é fácil. Será? Talvez essa seja a parte mais fácil. Explico. Criar é fazer nascer, dar existência, cultivar, fazer crescer. Criamos muitas coisas. Podemos criar plantas, podemos criar animais, podemos, como os cientistas fazem, criam máquinas… Temos a iniciativa e fazemos então fazemos nascer algo. Daí em diante é só manter para que continue vivo. Não é o mesmo que podemos fazer com um bebê? Nada difícil não? É só dar alimento, agasalhar, não deixar à mercê, solto, e esperar crescer. Mas sabemos que claro, criar filhos, no nosso conceito, é muito mais, envolve vários outros aspectos. E aqui, começa a entrar as grandes diferenças. Criar não é educar, criar não é cuidar e cuidar não é tomar conta. E hoje em dia parece estar havendo uma certa confusão entre essas ações.

 

Vemos pais que cada vez mais criam os filhos e ponto. O restante acaba ficando a cargo de terceiros. E cuidar acaba por tornar-se um tomar conta. E aí entra o educar. Que engloba tanto! E aí entram tantos outros aspectos. E o resultado nem sempre é positivo. O que se vê são pais pouco educadores, que preocupam-se tanto em superproteger, em não deixar que nada aconteça a sua “cria”, que acabam por não educar, pois acima de tudo, educar é preparar para a vida!

Conforme a autora Julie Lythcott-Haims em seu livro “Como criar um adulto: liberte-se da armadilha do “overparenting” e prepare seu filho para o sucesso” – em tradução literal, ainda sem edição no Brasil – há três tipos de erros cometidos com freqüência: “superdirecionamento”, “superproteção” e “superajuda”. Na educação supertprotetora o que se vê são pais que temem que tudo possa acontecer a seus filhos, e portanto os mantém sempre dentro do seu alcance, seja do campo de visão, seja estando sempre a seu lado, criando-os em uma redoma que impede que eles entrem em contato com os perigos que a vida apresenta. Os defendem a qualquer custo, sem lhes dar autonomia alguma.

Os superdirecionadores são aqueles que “sabem o que é melhor para seus filhos” e que tomam as decisões por eles, definem o que devem estudar, o que devem fazer, quais esportes devem seguir e por aí vai. Direcionam de tal forma a vida dos filhos que toda a trajetória particular destes é traçada, sem levar em conta se é isso que os faz feliz.

E há por fim, a superajuda, caracterizada por um controle, disfarçado de ajuda. Em outras palavras, são aqueles pais que não deixam seus filhos na falta. Estão sempre presentes para lembrá-los de seus compromissos, do que têm que fazer, arrumam suas coisas interminavelmente, ajudam em todos as lições e evitam com isso falhas.

Estes tipos de condução de educação têm efeitos um tanto o quanto negativos, que em comum levam seus filhos a serem adultos infantis, dependentes, despreparados para o mundo. Educam sem lhes dar lugar, sem os ver como pessoas, como indivíduos que têm suas singularidades, seus desejos, suas dificuldades. Acham que os vêem como sujeito de suas ações, já que sabem deles melhor que eles mesmo. No fundo o que estão criando são indivíduos que não se conhecem e que são incapazes de tomar decisões.

E como fugir desses tipos? Quando isso começa? Gradualmente. Um bebê, um recém-nascido, tem que ser “criado”, cuidado, com carinho, com atenção, com vínculos seguros, já em uma observação, de suas características, personalidade, modo de agir. Pois sim, há bebês mais calmos, há bebês mais animados… Pouco a pouco deve-se então ir dando lugar a esse ser que se tornará uma criança, um adolescente, um adulto e um idoso. Durante grande parte há que se juntar essas três características: a proteção, a ajuda, o direcionamento, mas respeitando o momento, que surge naturalmente.

Vamos lá. Uma criança pequena tem que ter proteção 24 horas, sem dúvida. Não se pode deixá-la sozinha. Mas fazer isso a vida inteira é contra-educativo. Há um momento em que é necessário perceber que ela tem que aprender com seus erros e que tem que ser deixada a seu livre arbítrio para descobrir o mundo. Machucar-se não é o fim dela. Cair, tropeçar, até mesmo se decepcionar quando um brinquedo quebra, ou quando algum amiguinho lhe toma algo que esteja usando a fará sofrer um pouco, mas é necessário isso ocorrer. Isso lhe dá resiliência, capacidade de solucionar seus problemas, vivenciando-os. Há até quem defenda que essa superproteção está criando crianças obesas, pois elas são de tal forma proibidas que até a brincadeira de correr, de brincar ao livre, no contato com outros, acaba por não existir e elas são deixadas sedentariamente assistindo televisão, jogando videogame.

Bebês têm que ser alimentados. Crianças tem que ter ajuda. Os pais tem que preparar seu alimento, dar comida em suas bocas. Até que elas aprendam a comer sozinhas! Deve-se amarrar seus sapatos, mas ensiná-los a fazê-lo até que sejam capazes de fazer por si próprios. O mesmo para os demais aspectos. É importante que a criança saiba que se sua mãe esquecer de preparar seu lanche e ela não a lembrar, ficará sem comer na hora do recreio. Da mesma forma, se não fizer sua lição de casa ficará sem aprender e será repreendida. Quando estiver mais velha, saberá que para não perder a hora de manhã deve colocar o despertador para acordar, e não ficar esperando que alguém o faça.

Direcionar por um tempo é também necessário. Não se pode pedir para uma criança decidir se quer fazer natação ou jogar futebol, ou mesmo os dois. Num primeiro momento os pais escolhem por ela, seja por vontade própria, por achar natação um bom esporte, por exemplo, ou porque acham que seu filho gosta de jogar bola.  Deve-se oferecer, mostrar a ela o que são as opções, mas deixá-la decidir por si própria depois. Quem sabe essa criança resolva que basquete é seu esporte. Mesmo que seja a contra-gosto dos pais. Assim, a possibilidade de criar-se um adolescente que sabe discernir e um adulto que saiba guiar a sua vida torna-se muito mais provável.

Resumindo, educar é dar possibilidades para os filhos. É orientar, é acolher, mas é respeitar, e para isso enxergá-los como pessoas, que terão problemas, que terão dificuldades, que terão alegrias e acima de tudo condições para viver, conduzir sua vida sempre. Educar é prover aos filhos condições para sair de cena, já que pais não são eternos. E a figura parental vai mudando de forma ao longo de sua vida.  

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Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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