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Do autocontrole em tempos incontroláveis
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Do autocontrole em tempos incontroláveis

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18/03/2015
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autocontrole

Um dos grandes desafios para os que têm filhos é saber não julgar apressadamente seus comportamentos, sobretudo quando, em nosso modo de ver, fazem coisas “erradas” ou estão “doentes”.

Parar, pensar antes de tomar uma decisão, observar melhor, não reagir de imediato ao que está acontecendo, são atitudes difíceis. Elas nos pedem resistir ao impulso de fazer algo de imediato: interpretar, corrigir, dar um remédio, desmarcar uma reunião, telefonar para o médico, ficar preocupado. É certo que há também o polo oposto. Nele, não reagimos ao impulso de fazer logo alguma coisa, preferimos pensar que tudo está sempre bem, que a febre está alta, como alguém comentou, mas logo vai abaixar, que crianças são sempre assim, não há porquê ficar nervoso. Esses dois extremos de conduta – um que instiga o fazer e outro que o adia – expressam, em verdade, a mesma questão. Sobre seus filhos, pais querem ser os “primeiros” a saber, ou, então, “os últimos”.

As situações mencionadas referem-se a algo importante. Referem-se ao autocontrole, autogestão ou autogoverno de nossos comportamentos em relação à nós mesmos, às pessoas e coisas importantes para nós. Referem-se ao como regular ou resistir aos impulsos. Ao saber parar, pensar, esperar, escolher o melhor, e, então, agir. Ao nos observarmos e observarmos os outros, e, também, as coisas. Ao coordenar dimensões de nossas vidas, sabendo que todas são importantes ao mesmo tempo, mas que muitas vezes só podem ser realizadas uma a uma. É difícil: quando vou à cantina do Hospital Sabará, vejo, algumas vezes, com que “desespero” os pais cuidam da saúde de seus filhos e ao mesmo tentam se manter em dia com seus trabalhos ou cuidados, via celular ou computador.

O autocontrole é um gestor interno, ele regula a qualidade de nossas ações na realização de tarefas que são de nossa responsabilidade ou gosto. Cuidar dos filhos, educá-los, prover-lhes uma boa escola, trabalhar, ver televisão, ler jornal, passear, visitar a família, sair com amigos. Dosar a quantidade e a qualidade de tudo isso, coordenar observando as particularidades de cada caso implica autocontrole ou autogestão. Resistir ao impulso de fazer ou não fazer é o primeiro passo. Há muitos indicadores de sua falta ou dificuldade de consideração: nos distraímos facilmente, temos dificuldade em nos concentrar, falamos sem pensar, não sabemos parar e pensar antes de agir, nos deixamos arrastar pelas distrações, achamos “impossível” realizar certas tarefas, apesar de as julgarmos boas e necessárias, divagamos, não concluímos as tarefas no prazo combinado, continuamos a beber, comer ou trabalhar se, para essa vez, foi suficiente, perseveramos em fazer o que não é bom continuar fazendo, procrastinamos um fazer que precisa ser feito. Não proponho um julgamento moral para tudo isso. Ele pode não ser eficaz, gerar culpas ou queixas que só prejudicam o autocontrole ou a autogestão. Trata-se de aprender com os erros, ou melhor, com a experiência. Podemos, também, aprender a pré corrigi-los, ou seja, antecipar o que nos parece não estar indo no caminho daquilo que queremos alcançar ou que é saudável. Trata-se, até, de manter o humor quando tudo parece impossível. É bom, também, reconhecer que é difícil ser adulto, comportar-se como um, valorizando seu lugar e importância em nosso ciclo de vida e sociedade. É bom, igualmente, manter viva aquela criança que fomos e sempre seremos.

O autocontrole possibilita monitorar o desempenho em tarefas. Monitorar é o mesmo que saber quando é melhor fazer mais, menos, parar, mudar a direção. Trata-se de aprender a regular, relacionar as partes com o todo, decidir e se orientar pelo que tem valor. Perseverar ou procrastinar são dois desafios para quem busca o autocontrole. Perseverar é continuar fazendo o que precisa ser interrompido, mesmo se divertido, gratificante ou interessante. Procrastinar é deixar para depois, o que precisa ser feito agora. Superar um e outro implica o desafio de de aprender a coordenar o que julgamos importante. Por exemplo, trabalhar e ao mesmo tempo proporcionar escola e saúde para os filhos. Como fazer se temos de trabalhar e levá-los ao hospital? Se temos de trabalhar e eles estão em férias e querem assunto? Autocontrole ou autogoverno podem nos ensinar a cuidar disso. A falta dele é uma experiência terrível: “é como dar um passo para frente e dois passos para trás, repetidas vezes”.

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Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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