PESQUISAR
Se a temperatura do planeta parece estar subindo, a do corpo humano parece que está baixando. Se a temperatura normal do corpo for realmente mais baixa do que pensamos, então, o que isso significa para como gerenciamos e tratamos a febre infantil?
Pesquisadores da Universidade de Stanford publicaram recentemente um estudo que sugere que talvez seja necessário repensar o que nos disseram sobre temperaturas normais e febre. O estudo analisou bancos de dados de meados do século XIX a 2017, e descobriu que as temperaturas normais do corpo humano agora estão funcionando quase 0,5 graus Celsius mais frias, em comparação com o século XIX. Isso significa que a temperatura normal do corpo humano não é a 37°C como a maioria de nós aprendeu. Em vez disso, ‘normal’ parece mais próximo de 36,5 °C. O que talvez seja mais surpreendente é que isso nem é novidade. Vários estudos nas últimas décadas mostraram que o normal não é 37ºC.
Ainda não se tem certeza se a temperatura normal do corpo está caindo. A temperatura corporal ‘normal’ de 37°C vem de pesquisas feitas em meados do século XIX por um médico alemão, Dr. Carl Reinhold August Wunderlich. Tem sido questionado se o termômetro dele foi calibrado corretamente, portanto é possível que a medição esteja errada desde então. Mas este estudo mais recente é realmente interessante. Ele inclui muitos outros conjuntos de dados, fora do estudo de Wunderlich, e mostra temperaturas decrescentes ao longo dos anos. Pode haver muitas razões para isso. É possível que as pessoas nos conjuntos de dados anteriores tenham tido uma incidência maior de infecções crônicas, aumentando a temperatura corporal média. Hoje, também estamos usando mais medicamentos, incluindo anti-inflamatórios, que podem estar diminuindo a temperatura naqueles que os tomam.
É uma daquelas ideias que não morrem. Mesmo dentro da comunidade médica, a maioria dos médicos diria que 37°C é normal e 38°C significa febre. Talvez seja porque em graus Celsius, 37 graus (normal) e 38 graus (febre) são números redondos convenientes. Mas quando você olha as evidências por trás disso, não há nenhuma, exceto o estudo de Wunderlich, mais de um século atrás.
Em outro estudo de 2018 feito no Children’s Hospital de Boston, com mais de 300 pessoas registrou 5.000 temperaturas e inseriu seus dados em um aplicativo para smartphone. Foram encontradas temperaturas médias em torno de 36,5°C e definiram febre como 37,5°C. Também foram analisados a relação entre o ritmo circadiano e a temperatura, descrita em outros estudos, e encontraram que as temperaturas são mais baixas por volta das 4 horas da manhã e mais altas às 16 horas. Esses resultados são apoiados por outros ensaios realizados sob condições controladas.
Para os pais, é útil saber que, se a temperatura é de 36,5°C, provavelmente está dentro dos limites normais, e quando está 37,5°C, especialmente se for de manhã cedo, pode ser uma febre verdadeira e pode representar uma infecção leve. É importante estar ciente da hora do dia em que você está medindo a temperatura, porque a temperatura normal do corpo varia naturalmente. Portanto, uma temperatura de 37,5°C graus às 4 da manhã pode indicar febre, enquanto a mesma temperatura às 4 da tarde está dentro dos limites normais.
Não acho que essa informação deva mudar a maneira como os pais lidam com doenças. Os pais ouvem conselhos de que devem tratar febres acima de 37,5°C, por exemplo, mas eu não vi nenhuma evidência que diga que você deve tratar uma febre acima desta temperatura se a criança estiver bem, sem prostração, mas sempre é bom consultar seu pediatra e pedir a opinião dele.
De fato, alguns estudos mostraram que, se você administra aos pacientes medicamentos contra a gripe que reduzem a febre, eles apresentam sintomas por mais tempo. Temperaturas mais altas acima de 39ºC ou 40°C são preocupantes, porque são mais propensas a indicar infecções mais graves. É importante lembrar que é o nosso próprio sistema imunológico que está criando febre e provavelmente serve ao propósito de combater infecções.
Saiba mais:
Fonte: Decreasing human body temperature in the United States since the Industrial Revolution
Myroslava Protsiv, Catherine Ley, Joanna Lankester, Trevor Hastie, Julie Parsonnet
Stanford University, School of Medicine, United States; Stanford University, United States – RESEARCH ARTICLE Jan 7, 2020