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O Menino Azul
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O Menino Azul

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23/04/2015
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pedro

No dia 2 de abril é celebrado o Dia Mundial do Autismo, ele é comemorado anualmente e foi criado pela ONU em  dezembro de 2007 para a conscientização das pessoas sobre outra pessoa muito especial, o autista.

Para comemorar o Dia do Autismo grandes monumentos no Brasil e no mundo ficam iluminados pelo azul, a cor símbolo do autismo, entre eles Cristo Redentor no Rio, o Monumento as Bandeiras em São Paulo, o Elevador Lacerda em Salvador, o Empire State Building e as Cataratas do Niágara nos Estados Unidos. Aqui no Blog Saúde Infantil você poderá também encontrar outros textos que explicam sobre essa deficiência.

Deficiência? Sim, ao menos legalmente. Ao instituir a “Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, a Lei Federal 12.764, de dezembro de 2012, concedeu a este segmento, os mesmos direitos conquistados pelas pessoas com deficiência.  O ponto polêmico enfrentado pela lei foi definir a diversidade de variação entre “neurodiversidade” e “deficiências neurológicas”, para permitir políticas públicas de acesso, àqueles que desejarem o tratamento de reabilitação, à educação inclusiva e a outros serviços.

Talvez você esteja aí tentando imaginar essa pessoa. Já aviso, não é tão simples assim.  Segundo os especialistas, acredita-se que a doença atinja cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, afetando a maneira como esses indivíduos se comunicam e interagem. A pessoa com TEA parece não aprender as regras que regem a comunicação humana e o comportamento social. Muitas vezes estão distantes, alheias a presença dos outros, vivendo no seu mundinho próprio e com padrões repetitivos de comportamento. Na verdade, as dificuldades do autista variam em grau e intensidade e o comprometimento pode ser muito grave e estar associado à deficiência intelectual, ou tão leve que o portador do transtorno consegue levar uma vida próxima do normal.

E é sobre uma pessoa assim que eu vou contar uma das minhas melhores experiências como dentista. Como vocês sabem adoro trabalhar com crianças, e principalmente com as crianças especiais. Tenho atendido crianças com TEA praticamente toda semana, mas a história do meu Menino Azul tem um destaque mais que especial.

“Alguns anos atrás, recebi um menino de quatro anos no consultório, o Pedro. Sua mãe a Dra. Emi, trouxe-o com um histórico complicado de saúde bucal. Ele já havia passado com outros profissionais sem sucesso no tratamento e me foi indicado por uma colega, Dra. Marina, da USP, que sabia que eu trabalhava com crianças especiais. Ao receber o Pedro, que mal sentava na cadeira, sua mãe me contou suas angústias. Pedro havia sido tratado em centro cirúrgico hospitalar, mas o tratamento não havia saído a contento. O profissional que o atendeu não conhecia o universo da odontopediatria e em menos de dois meses abcessos já começavam a estourar na boca do menino. O custo do tratamento havia sido alto, o trabalho mal conduzido, e a saúde bucal do Pedro estava péssima. Claro que ela estava apreensiva. Eu mal conseguia avaliar o Pedro no consultório, propus novamente o tratamento em hospital. Ela não gostou a princípio, mas não tínhamos alternativas. Aí ela me fez um pedido, queria estar ao meu lado no centro cirúrgico durante o tratamento. Quem sabe o que é tratar pacientes sob anestesia geral sabe que o procedimento para dentistas é tenso, diferentemente dos médicos, os dentistas não tem seu habitat natural dentro do hospital. Imaginem eu tratando da criança e a mãe ali, só na conferência. Isso não é comum, mas conversei com o anestesista chefe e ele concordou, já que ela era uma médica e saberia se comportar no ambiente.

O tratamento foi um sucesso, apesar das inúmeras besteiras, em menos de cinco meses, deixadas pelo antecessor, mas a vida segue…

Depois desse episódio, comecei a receber o Pedro apenas para procedimentos preventivos, como profilaxias e aplicação de flúor. E ele se comportava muito bem, afinal não tinha mais dor. O Pedro começou a passar por um processo fundamental para qualquer tratamento a ser desenvolvido com autistas: a rotina. Tudo ia bem, até que houve a necessidade de realizar uma extração no consultório. Fiquei preocupado, já não era fácil realizar os procedimentos básicos, imaginem anestesiar e extrair um dente. Eu estava a ponto de perder tudo que havia construído. Mas Deus é Pai, fomos para o procedimento e novamente um sucesso.

Pedro continuou com as visitas regulares. Ao adentrar ao consultório ele gritava: “Tio Reynaldo, Tio Reynaldo, cheguei!!! E ia se sentar e ver gibis. Recentemente precisei remover os dentes do siso dele, a tensão já não era a mesma, e realizamos a cirurgia sem auxílio de sedação ou outros recursos.

Pedro está um moço, bonito, esperto e o mais sensacional, está fazendo faculdade e vai sozinho de transporte público. Ele é um orgulho para  família e mais uma prova para mim de que escolhi uma profissão maravilhosa.

Obrigado Pedro, meu Menino Azul.

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Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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