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As indefinições que cercam o TEA, a demora nos resultados das terapias em alguns casos e os contratempos inerentes a uma condição complexa como esta fazem muitos pais se iludirem com tratamentos sem comprovação científica que prometem uma “cura” extraordinária. A panacéia da moda é o MMS (solução mineral milagrosa, numa
tradução livre do inglês), que seria o único “remédio” capaz de eliminar bactérias, vermes e metais pesados, tidos pelos defensores deste método como os reais responsáveis pelos sintomas do autismo.
Os vídeos e sites que propagam (e vendem) esta “cura” explicam que o MMS é resultado da mistura de clorito de sódio e ácido cítrico. Juntos, estes elementos criam o dióxido de cloro, um alvejante altamente corrosivo utilizado em sistemas de tratamento de água e no branqueamento de madeira. O resultado da ingestão ou do uso via retal do MMS pode causar danos imediatos como vômito, diarréia, desidratação, prostração e irritação e lesão das mucosas, além do risco de desenvolver insuficiência renal, gastrites e úlceras graves.
Em junho de 2018, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a fabricação, distribuição e comercialização do MMS para cura do autismo ou outras indicações para a saúde, enfatizando que o dióxido de cloro não é reconhecido como apropriado para fins terapêuticos.
É importante destacar que não foi apenas a Anvisa que baniu o uso do MMS como medicamento. A agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA), o Ministério da Saúde do Canadá e a Food Standards Agency do Reino Unido também alertaram sobre o perigo do MMS para a saúde humana nos últimos anos. A Association for Science in Autism Treatment destacou em um artigo sobre a substância que sequer foram realizados estudos sobre o uso médico do dióxido de cloro devido à elevada toxicidade do componente químico e ao grave risco à saúde dos participantes.
Apesar de todo este esforço, a legião de defensores do MMS seguem espalhando na internet depoimentos sobre os seus supostos benefícios. Náusea, vômito e diarreia são tidos como comprovação do bom funcionamento do método, enquanto a principal evidência de sucesso dos enemas (injeção de líquido pela via retal) é a expulsão de fragmentos de mucosa intestinal. Para os defensores da MMS, esses pedaços de intestino são na verdade vermes causadores dos sintomas do autismo.
Mas não são apenas pais desesperados que promovem a substância. O MMS tem três embaixadores que trazem um ar técnico para o discurso mesmo sem apresentar nenhum estudo científico oficial, algo muito comum no mercado das “curas milagrosas”.
Auto-intitulado descobridor do protocolo, Jim Humble alega que, além do autismo, ele pode tratar câncer, diabetes, esclerose múltipla, Parkinson, Alzheimer, HIV/AIDS, malária, entre muitas outras doenças. Criador da Genesis 2 Igreja da Saúde e da Cura, Humble já alegou ser um engenheiro aeroespacial (informação negada em 2008), e hoje se define como um deus da galáxia Andrômeda enviado para proteger e monitorar a Terra. Outros dois nomes à frente do método são a homeopata americana Kerri Rivera (que vive no México após uma condenação nos EUA por fazer alegações médicas infundadas sobre autismo) e o biofísico alemão Andreas Kalcker, que veio ao Brasil em 2015 divulgar o “tratamento”.
O Autismo e Realidade nasceu da união de pais de crianças autistas com profissionais de saúde especializados em TEA para ampliar a divulgação de informações sobre o tema. Por isso, ficamos muito preocupados com a propagação de “curas milagrosas” sem nenhuma comprovação científica, como o MMS. Entendemos como soluções fáceis para uma condição complexa como o TEA podem ser atraentes e, por isso, achamos importante reforçar que tratamentos experimentais e alternativos sem base científica podem causar danos reais aos pacientes, além do desperdício de tempo e dinheiro.
A FDA listou algumas dicas para ajudar a identificar declarações falsas ou enganosas sobre tratamentos de saúde.
● Suspeite de produtos que alegam tratar uma ampla gama de doenças;
● Depoimentos pessoais não são substitutos para evidências científicas;
● Poucas doenças ou condições podem ser tratadas rapidamente, por isso desconfie de qualquer terapia reivindicada como uma “solução rápida”;
● As chamadas “curas milagrosas”, que alegam avanços científicos ou contêm ingredientes secretos, são provavelmente uma farsa.
Além disso, queremos acrescentar outras duas recomendações:
● Peça referências científicas sobre qualquer tratamento novo que for receitado. É o direito da pessoa com autismo e de seus responsáveis ter todas as informações que acharem necessárias para tomar uma decisão;
● Na dúvida, busque uma segunda opinião.