PESQUISAR
Um dos assuntos mais discutidos no Congresso da Academia Americana de Pediatria em setembro, na cidade Chicago, foi sobre o uso de opioides em crianças. Os opioides são medicamentos feitos a partir do ópio, e que tem grande poder analgésico. Seu uso em crianças é muito comum nos EUA e mais raro no Brasil. Esse uso é uma das causas de pessoas dependentes de analgésicos, e se tornou um verdadeiro problema de Saúde Pública por lá. Se você parar para pensar como é comum, na série House, o próprio médico é adicto de derivados de morfina, Michael Jacson e Prince também, só para citar alguns casos célebres.
O estudo “Efeito da investigação da FDA sobre a prescrição de opioides para crianças após a anestesia / adenoidectomia” publicado na edição de dezembro de 2017 da revista Pediatrics mostra que 5% das crianças tiveram prescrições de codeína após serem submetidas a uma amigdalectomia /adenoidectomia no final de 2015, apesar do aviso pela Food and Drug Administration quanto aos riscos significativos dos opioides.
Este estudo analisou os registros de mais de 360 mil crianças com seguro privado na base de dados de Reclamações e Encontros Comerciais que sofreram uma tonsilectomia/adenoidectomia. O FDA, após uma investigação, em fevereiro de 2013, emitiu um alerta sobre questões de segurança e eficácia associadas à prescrição de codeína para crianças após as cirurgias. Os pesquisadores descobriram que, após o alerta da FDA, a prescrição de codeína após uma tonsilectomia e/ou adenoidectomia diminuiu 14%, um declínio significativo. No entanto, 5% das crianças ainda tiveram prescrições com codeína após uma amigdalectomia e/ou adenoidectomia em dezembro de 2015, quase três anos após o aviso.
Os autores concluem que ainda há necessidade de eliminar a prescrição inadequada de codeína e incentivar o uso de medicamentos não opioides eficazes, como o ibuprofeno, após essas cirurgias.
O Brasil está entre os países com as menores taxas de prescrição de opioides do mundo. O país tem consumo de 7,8mg de opioides (como morfina) por pessoa ao ano. A taxa ideal seria de 192,9mg ao ano por pessoa, ou seja, quase 25 vezes menos. Se isso pode parecer bom, é visto principalmente em pacientes terminais ou com doenças graves, que não estamos tratando adequadamente as dores destes pacientes.
Precisamos de protocolos para tratamento de dor para que possamos medicar adequadamente nossas crianças. No Sabará Hospital Infantil, temos estes protocolos e eles são monitorados por um grupo específico de Dor, onde os casos são discutidos por equipes multidisciplinares e acompanhados pelo grupo. Isso faz parte do treinamento habitual de nossos profissionais de saúde.
Autor: Dr. José Luiz Setúbal
Fonte: Pediatrics November 2017
Effect of FDA Investigation on Opioid Prescribing to Children After Tonsillectomy/Adenoidectomy
Kao-Ping Chua , Mark G. Shrime , Rena M. Conti
As informações contidas neste site não devem ser usadas como um substituto para o cuidado médico e orientação de seu pediatra. Pode haver variações no tratamento que o pediatra pode recomendar com base em fatos e circunstâncias individuais.