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É difícil manifestar-se sobre um tema tão polêmico sem causar incomodo. No entanto, se dentre os que lerem um pouco sobre o assunto, um ego for ferido, mas o ardor trouxer reflexão, já valerá a pena. De tempos em tempos, temos de volta aos “holofotes” parentais um boom sobre as polêmicas palmadas. Para dar minha opinião sobre o assunto, vou usar uma metáfora que considero bastante didática e que pode nos guiar para a luz de um entendimento mais real sobre o assunto.
Suponhamos que você, pai, mãe ou cuidador, conseguiu um cargo importante em uma multinacional. Seu chefe fala espanhol, você apenas arranha o idioma, mas mesmo assim conseguiu o cargo. Começam seus dias no novo emprego: você acorda, toma café, banho, vai trabalhar. No princípio você só precisa observar o que é feito. Seu chefe é bem relacionado e se dá bem com os outros chefes. Se há alguma divergência, ele senta, conversa e resolve. Então chega o dia de você colocar a mão na massa e tudo vai bem até o seu primeiro erro. Veja bem, você já observou, ouviu como tem que ser feito, por que ainda erra? Ele não procura saber, fica furioso e depois de meia dúzia de gritos histéricos, te acerta um tapa no rosto. Você fica assustado tentando entender o que aconteceu ali, mas depois ele se desculpa, te abraça e tudo segue. No dia seguinte, você troca um “la mañana” por um “el mañana”. Absurdo! Como você erra, parece de propósito! Só pode ser para tirar a paciência do seu chefe, que mais uma vez não aguenta a pressão dos desentendimentos entre vocês e te bate, dessa vez, na boca. E assim seguem os dias: a cada erro, uma agressão. A intenção dele é que, sem te olhar nos olhos, sem te perguntar o que está acontecendo, sem conversar, ou seja, com zero comunicação e confiança, você comece, magicamente, a fazer tudo como deve ser feito. Ele está ali há anos, você chegou agora, mas aprenda rápido, pois ele não tem tempo a perder. O que é ainda mais confuso é que os superiores também erram, mas com eles o seu chefe conversa. Só você é agredido, hierarquicamente menor. E como você se sente? Humilhado, confuso e, claro, cheio de raiva.
Não é difícil atribuir personagens a essa história. A grande maioria de nós, hoje adultos, foi vítima de algum tipo de violência quando criança e essa é a maior justificativa de quem apoia a palmada: apanhei e não morri. Mas, vejam bem, nossos filhos merecem ser apenas sobreviventes? Não temos que dar a eles o melhor de nós? Inclusive, respirando fundo nos momentos difíceis e procurando conversar de ser humano para ser humano? Construir uma relação de aprendizado e confiança? É possível a qualquer momento da vida questionar o peso, a intenção, o significado das nossas ações e o resultado que elas vão gerar no outro. Principalmente quando tudo isso tem um grande peso na vida de outra pessoa. Não é fácil, porque não é fácil questionar o que a gente vê, vivencia e trata com naturalidade a vida inteira, mas, acreditem, vale muito a pena.
Instituto Pensi