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Trabalho voluntário e a felicidade
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Trabalho voluntário e a felicidade

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05/12/2016
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Terminei de ler o livro de Paul Dolan, Felicidade construída: Como encontrar prazer e propósito no dia a dia (2015). Ele é professor de ciências comportamentais no London School of Economics e no Imperial College London, tendo recebido, em 2002, o Philip Leverhulme Prize in Economics por sua contribuição à economia da saúde. Muitos aspectos chamaram-me a atenção na leitura. Um deles foi o que o autor diz sobre  trabalho voluntário, um projeto realizado, no Hospital Infantil Sabará, pelo Instituto Pensi, sob a coordenação da Doutora Sandra Mutarelli Setubal. Para ela, seus colaboradores e nossos voluntários, dedico esse artigo.

O que é felicidade? Dolan escreveu o livro, durante o ano sabático que passou com Daniel Kahneman, psicólogo ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2002, pela contribuição de seus trabalhos sobre tomada de decisão. Ele pesquisa felicidade como política pública de saúde, isto é, como forma de se sentir bem, que impacta a vida cotidiana das pessoas, de todas as pessoas. Tal forma, segundo ele, acontece quando prazer e propósito articulam-se como denominadores comuns às nossas experiências de vida, se possível em equilíbrio, dado que, isolados ou hipertrofiados, ambos perdem seu sentido. Felicidade, assim, é algo que se pode medir, não como julgamento, mas como experiência – de prazer e propósito. O que é ela (a felicidade ou sua experiência), quando se realiza um trabalho voluntário com crianças internadas ou sob atendimento em um hospital?

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Trabalho voluntário. Em todo o livro, mas principalmente no Capítulo 8 (Decida, projete e faça), Dolan faz referências ao trabalho voluntário, refletindo e mencionando pesquisas feitas com pessoas a ele dedicadas. Para ele, o que foi destacado também por Daniel Kahneman, no prefácio (p. 10), trabalhar voluntariamente associa-se a um senso de propósito, que não encontramos muitas vezes em outras atividades.

Contexto e atenção. Dolan assinala fortemente a influência do contexto e da atenção sobre nossas experiências de felicidade. O contexto do trabalho voluntário que aqui se realiza, já o sabemos, é o de um hospital pediátrico que atende, portanto, crianças e jovens. O quê, com quem, com o quê, quando, quanto nossos voluntários realizam, com tanto zêlo e gosto? Mas, para Dolan, não basta cuidar do contexto, há de se valorizar a atenção que dedicamos ao que nele fazemos. O trabalho voluntário é uma experiência que envolve atenção, não se distrair com o que o prejudica ou perturba. Trata-se de um compromisso, que implica abrir espaço em uma agenda, quem sabe já cheia de muitos outros itens a fazer, de respeitar o horário proposto, de preparar e, principalmente, realizar atividades que implicam presença, alegria e sentido. Não importa que o tempo que se lhe dedica seja pouco (duas horas semanais?), é um compromisso ou entrega pelo qual se tomou uma decisão, que cria expectativas e responsabilidades, mesmo se sabendo que o voluntário vai ao hospital para fazer as crianças alegres, não se importando, mesmo que por instantes, que estão doentes e hospitalizadas.

Decidir, projetar e fazer. Produzir felicidade, segundo o autor que nos ensina nesse texto, envolve decidir, projetar e fazer. E, para ele, o modo mais eficaz de alcançar essa produção é considerá-los conjuntamente. Decidir implica em superar uma dúvida, fazer uma escolha. Você quer ser voluntário em um hospital pediátrico? Compartilhar com crianças, jovens e suas famílias um problema de tratamento de saúde? Oferecer a eles, quem sabe, uma alternativa, uma outra atitude, mesmo estando lá? Projetar é implementar a solução que se tomou. Como mencionado, é fazer – como voluntário – formação, comparecer, realizar e compartilhar atividades tendo em vista um objetivo, favorecendo a obtenção de resultados que sinalizem sua realização. Fazer é concretizar como experiência o que se decidiu e projetou. É estar atento e favorável ao que a torna possível, e atento e crítico ao que a procrastina, prejudica ou anula.

Ajudar ou zelar pelo outro, junto com o outro, é bom para todos.  No trabalho voluntário, fazer é fazer pelo e para o outro, reconhecendo-se igualmente beneficiário disso. Segundo Dolan, isso se torna melhor (mais feliz) quando fazemos pelo outro, em uma situação coletiva, isto é, tendo como companhia um colega, com quem se divide a tarefa e se materializa o interesse por zelar. “Podemos ser mais felizes, fazendo mais pelos outros”. Mas, por igual, a felicidade dos outros tem efeitos sobre nós, ela nos contagia e impacta, porque nos possibilita experimentar um senso de propósito. Para ele, zelamos pelos outros, porque isso faz bem a nós mesmos. Ele lembra a esse respeito, uma frase de Mark Twain: “O melhor jeito de se animar é tentar animar outra pessoa.” De fato, são positivas as sensações ou “o calor interno” que sentimos ao ajudar os outros. Para Dolan, não há nada de errado sobre o fato de que ajudar os outros nos faça bem. É que a outra pessoa se beneficia igualmente. Fazemos coisas que são boas, que trazem senso de propósito, que são boas para todos. Trata-se de uma reciprocidade positiva para a sobrevivência e o sentido de viver para si, para os outros, por todos.

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Causa ou consequência? O trabalho voluntário, como mencionado, implica senso de propósito, segundo Dolan. Para ele, igualmente, pessoas que o realizam encontram mais satisfação e bom humor. Mas, sobre isso, faz a seguinte pergunta: você é feliz porque faz trabalho voluntário ou faz esse trabalho porque é feliz? Segundo ele, aqueles que fazem mais pelos outros talvez já fossem mais felizes desde o início. Mas, de qualquer forma, diz que há evidências de que zelar pelos outros impacta na felicidade.

Tempo. Às vezes ouço pessoas dizerem que gostariam de realizar um trabalho voluntário, mas que não o fazem por falta de tempo. Elas trabalham muito, têm compromissos que não lhes dão folga. Acreditem: Dolan a esse respeito menciona evidências de que, se doamos nosso tempo para ajudar outras pessoas, isso ajuda a nos sentirmos menos pressionado por ele. E, no caso do Sabará, quem são essas pessoas? São crianças, às vezes, restritas à companhia de suas mães, mães preocupadas com a doença e com o que seu filho ou filha está perdendo na escola, preocupadas com o trabalho que não estão podendo praticar. Elas sofrem com isso, e podem se sentir sozinhas, solitárias. E a solidão, é Dolan quem diz, “é horrível para a saúde”, pois tem impacto direto e prejudicial sobre ela.

“Fadiga por compaixão”. Mas, cuidado! É possível zelar pelos outros em demasia. E isso estressa, esgota, deixa cansado. Excesso de gentileza pode gerar suspeitas, adverte Dolan. O segredo para evitar tudo isso, é estar confiante de que o sacrifício vale a pena, pois é algo que expressa prazer e propósito, que é compartilhado por todos e se faz feliz os outros, também faz feliz a quem o realiza, junto com eles e por seu intermédio.

Meu muito obrigado a todos os voluntários do Sabará e a quem torna possível a realização desse projeto, que oportuniza experiências de felicidade, praticando o bem e trazendo alegria aos outros e a si mesmo.

Lino de Macedo

Lino de Macedo

Professor Doutor Lino de Macedo Assessor de psicologia e educação do Instituto Pensi e Hospital Infantil Sabará

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