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“Adolescência”, uma série para se ver e refletir
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“Adolescência”, uma série para se ver e refletir

“Adolescência”, uma série para se ver e refletir

20/03/2025
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Volta e meia comento sobre filmes ou séries envolvendo crianças e adolescentes e hoje volto ao assunto para falar sobre: “Adolescência”, uma nova minissérie que estreou no streaming Netflix no início de março.

A minissérie britânica trata da história de um jovem acusado de matar uma colega. São quatro episódios com cerca de uma hora cada, gravados em plano-sequência, o que faz com que você se sinta dentro da ação. O roteiro é um primor e as atuações são espetaculares como em geral nas séries inglesas.

Para nós brasileiros, a primeira cena da série é chocante e parece um absurdo, pois jamais aconteceria por aqui. Um batalhão de policiais, super armados se preparam e invadem uma casa no início da manhã. Para a surpresa, o assino procurado é um franzino jovem de 13 anos. Na sequência ele é levado sem grandes explicações, para uma delegacia. Tudo isso com a reclamação dos pais.

Ao garoto, sozinho, são feitas indagações e dadas pequenas explicações do que está ocorrendo, enquanto ele precisa tomar as decisões sobre o que perguntam. A bem da verdade, ele está acompanhado de um assistente social, que ele pode ou não querer que siga o caso. Esses são talvez os primeiros 10 minutos da série, que se desenrolará por 4 capítulos.

O primeiro é contado sob a perspectiva do garoto onde entendemos levemente o que aconteceu. Ele é acusado de matar uma colega da escola.

No segundo, 3 dias depois os policiais vão na escola de Jamie Miller (o garoto acusado) para ouvir os colegas e professores, neste temos a perspectiva da escola.

No terceiro, (para mim o melhor), é mostrada uma conversa de Jamie com a psicóloga perita contratada pela sua defesa, que ocorre sete meses após a prisão.

No último, que ocorre 13 meses do acontecimento, é aniversário do pai e o que vemos é a perspectiva da família, mostrando como o fato abalou cada um, o pai, a mãe e a irmã e sobre como cada um se sente em relação ao que poderia ter acontecido, onde será que erraram e o que poderiam ter feito diferente.

Recomendo essa série pois além de ser uma boa diversão como espetáculo de cinema, ela mostra um mundo real que toma conta dos nossos adolescentes e que muitas vezes não fazemos ideia.

Alertando, sobretudo, para os perigos do bullying e da cooptação de meninos por grupos com discursos misóginos e violentos na internet. Embora a história dos personagens seja fictícia, há uma trágica inspiração real por trás dela.

Um dos criadores da minissérie, Stephen Graham, que faz o papel de Eddie Miller (pai de Jamie), explicou que a ideia do roteiro surgiu de uma série de notícias de adolescentes que esfaquearam uma garota, deixando-o chocado e pensando: “O que está acontecendo na sociedade em que um menino esfaqueia uma menina até a morte?”, contou ele, dizendo que outras tragédias semelhantes aconteceram em seguida.

O aumento de casos como o mostrado na série, chocou tanto a opinião pública inglesa, que o primeiro-ministro Keir Starmer, declarou em janeiro deste ano que há um “novo terrorismo” no país, perpetrado por “jovens solitários e desajustados em seus quartos acessando todo tipo de material online, desesperados por notoriedade”, fazendo referência à cultura incel mencionada em alguns capítulos da série.

Incel se refere aos celibatários involuntários. A expressão vem da junção das palavras “involuntary celibates” e descreve homens jovens que se definem como “celibatários involuntários”.

Jack Peterson é um dos poucos “incels” abertos para falar com a imprensa pós o ataque que matou 10 pessoas em Toronto em 2018, ele tem um canal no YouTube e um podcast. O autor do ataque, o motorista, tinha feito uma postagem no Facebook dizendo que “a rebelião Incel já começou”.

As comunidades “incel” se desenvolveram em plataformas como Reddit, Facebook, 4chan e em sites administrados pelos próprios membros “incels”. Existem também grupos contrários aos “incels” que ridicularizam suas ideias. Também parece haver proximidade entre a cultura “incel” e o movimento antifeminista e hipernacionalista da extrema direita. Esses dois movimentos veem o mundo pela lente da genética de grupo, com estereótipos raciais, e se consideram grupos minoritários difamados injustamente e atacados pelo politicamente correto. E eles compartilham o mesmo senso de humor, praticamente sem filtros. A moderação de grupos “incels” tem sido um tanto permissiva. O Reddit fez tentativas de remover comunidades “incel” de sua plataforma, mas muitos grupos permaneceram online.

No Brasil, o que vemos são alunos sofrendo cyberbulling e a violência nas escolas, que as vezes causam a morte ou violência. Somos um país violento, basta ver os números do Fórum da Violência para notar que as mulheres e os negros estão na grande maioria das ocorrências.

Voltando a série, no segundo capítulo, o policial tem uma conversa com seu filho que estuda na mesma escola. Nessa conversa o menino dá uma aula sobre funcionamento das redes sociais, sobre o significado do emojis e sobre as cores. Tudo aquilo que a polícia via no Instagram dos jovens, assassinada ou acusado, não era o que parecia. É muito interessante.

Num tempo dominado com personagens como o presidente Trump ou o ex-presidente Bolsonaro, que não respeitam esse mundo de inclusão racial, de igualdade de gênero, e fazem apologia às armas e a violência em geral, esse tipo de movimento pode facilmente fazer a cabeça de uma criança ou de um adolescente. Por isso é importante que séries como essa atinjam o maior número de pessoas e que elas possam, mesmo que através de uma ficção, ter alguma ideia do mundo que vivem os adolescentes hoje em dia.

Fontes:

O mundo sombrio dos ‘incels’, celibatários involuntários que odeiam mulheres

Nos fóruns de incels, os homens fantasiam sobre matar as mulheres que não conseguem conquistar

Os crimes reais por trás de ‘Adolescência’ — segundo o criador da série

Saiba mais:

 Brasil, um país violento para as crianças viverem

Sendo criança negra no Brasil

O abandono das nossas meninas

Para não falar que não falei sobre bullying

Cyberbullying, agora que vem o pior

Aprendendo sobre a Geração Z nas séries de TV

Cyberbullying: informações importantes para pais

 

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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